O sumiço misterioso do motorista do Karmann-Ghia TC

volkswagen karmann ghia tc 145 5
Por Douglas Mendonça
Publicado em 23/04/2018 às 17h55
Atualizado em 23/04/2018 às 19h47

O Mílton, carinhosamente chamado de Ruivo pelos mais íntimos, é um amigo de longa data. Um cara que conheci quando cursava meu segundo grau de técnico mecânico e que, depois de alguns anos cursando engenharia, acabou se transformando em um mecânico e preparador de carros de corrida de mão cheia. Além de ser um dos meus grandes amigos, de grandes aventuras mecânicas, o Ruivo tinha uma característica que, para nós, era muito engraçada, mas ele não apreciava nem um pouquinho: o cara era muito azarado.

Tudo acontecia com ele. Se uma peça caía no chão, certamente era no pé do Ruivo. Se uma chave escapava no momento do aperto mais duro de um parafuso, era a mão dele que batia em algum lugar e o resultado final era sempre um machucado dolorido. Se eu começasse a contar as historias desse azarado amigo, ficaria parágrafos e parágrafos escrevendo e todos morreriam de rir.

No tempo que cursávamos juntos engenharia, na Faculdade de Engenharia Industrial-FEI, o Ruivo tinha um Karmann-Ghia TC 1972. Para quem não sabe, era um esportivo que utilizava mecânica Volkswagen com uma carroceria estampada pela Karmann-Ghia e que tinha sérios problemas de corrosão. Por isso, eles hoje praticamente não existem mais, mesmo tendo sido fabricados de 1971 até 1975. Esse esportivo do Ruivo, em um reluzente amarelo, era a condução que ele usava na época para se locomover para todos os cantos. E a manutenção preventiva e corretiva era feita por ele mesmo, às vezes com a minha ajuda.

Karmann-Ghia TC e o Ruivo formavam duplo
Karmann Ghia TC (Volkswagen | Divulgação)

Ele tinha uma avó doente, e a velhinha sempre pedia a ele que fosse a farmácia buscar um profissional para aplicar injeção que tirasse suas dores. Um dia, a vó reclamou e pediu um farmacêutico. E lá foi ele, com o reluzente Karmann -Ghia amarelo, buscar o profissional. Depois da aplicação da injeção contra as dores, o Ruivo foi devolver o profissional à farmácia. Foi nessa volta que ocorreu uma das histórias mais engraçadas desse meu amigo.

O Karmann-Ghia, por ser um esportivo, era bem mais baixo do que a média de outros carros. E o Ruivo tinha uma maneira muito particular de entrar e sair: ele colocava a bunda no assento e girava as duas pernas ao mesmo tempo para o interior do carro para entrar. E para sair, fazia o inverso, girava o corpo sobre o assento e, ao mesmo tempo colocava, as duas pernas para fora e se levantava. Mal sabia ele que essa particularidade de entrar e sair fosse causar tantos problemas.

Chegando à farmácia, o Ruivo não percebeu que havia estacionado bem ao lado de um bueiro, desses que drenam as águas das chuvas, e tem uma tampa retangular. Mas, para o azar do nosso amigo, essa “boca de lobo” estava sem a tampa.

Imaginem a cena: ele descendo de uma lado e o farmacêutico descendo do outro. Quando ele girou o corpo e pulou para descer, caiu no buraco aberto do bueiro, que deveria ter cerca de 1,70 metro de profundidade. Ele praticamente sumiu de cena. O farmacêutico, quando desceu do lado do passageiro, não viu o Ruivo, abaixou-se olhou dentro do carro e ele também não estava. Deve ter pensado por instantes: “será que foi abduzido?”. O carro estava com a porta do motorista aberta e o motorista não estava dentro e nem fora dele. Sumiu!

Com a mesma rapidez que caiu no bueiro, nosso hilári,o amigo depois de atolar até o joelho na lama que existia no fundo do bueiro e com seus 1,85 metro, saiu rapidamente do buraco e já estava em pé na calçada com lama até o joelho e sem sapato, pois ficaram atolados na lama. Assustado, o farmacêutico foi logo perguntando: “Onde você foi parar?”. E o nosso amigo, como se fosse a coisa mais natural do mundo, foi logo dizendo: “Eu cai dentro do bueiro, mas já sai”. O farmacêutico não entendeu nada. Muito menos quando viu o Ruivo de barro até o joelhos e descalço

Depois de detalhar o ocorrido ao farmacêutico, a coisa ficou esclarecida. Nosso amigo voltou para casa em uma fedentina que nem ele aguentava e sem o par de sapatos que ficaram atolados naquele mar de lama. Precisou contar a história para a vó, tomar um banho e pedir uma grana extra para a velhinha para comprar outro par de sapatos “Conquistador” (um calçado esporte produzido pela Alpargatas) para repor aquele que se perdeu na lama.

Muita gente vai duvidar da veracidade dessa história , mas tenho a certeza que se eu contasse meia dúzia dos “causos” do meu amigo Ruivo, tão esquisitas como essa, acreditariam que tudo foi verdade e aconteceu no final dos anos 70 no bairro da Mooca, em São Paulo.

Não deixem de ler o meu blog Papo de Garagem no site da Revista Motor Show.

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6 Comentários
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Paulo Roberto de Araujo Melara 9 de janeiro de 2021

Também tive um TC branco 1972. Epoca de faculdade …Fiz até Rally com ele ! Bons tempos ! O pessoal vivia dizendo que entrava água e eu respondia que não! Aliás, só quando eu lavava ou quando chovia, se não, não ! Boas lembranças…

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Flávio Bovo 26 de fevereiro de 2020

Sempre tem alguém que fala mal do Karmann Ghia TC. Eu nunca tive queixa do carrinho. Pois adquiri um OK no ano de 1972, na côr branca, coloquei rodas de magnézio e troquei os pneus por mais largos (acessórios da época) rodei com ele 60/70.000 Km nunca me deixou na mão, era meu carro da paquera (naquela época eu era jovem com 22 anos), fazia sucesso por onde passava, pois era um dos esportivos do momento, como também SP2 e PUMA. Hoje tenho entre meu acervo um Karmann Ghia TC 1975 em perfeito estado, que e ainda causa admiração do público quando saio com o possante.

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paulo e.f. diehl 20 de junho de 2018

oi Boris , também tive um TC branco, que ficou todo podre além de chover mais dentro do que fora pela porta da mala, mas aguentava a pauleira, foi comprado na Panambra RS, era uma variant esporte, mas agradava a mulherada, depois troquei por um SP2 vermelho, este sim era uma caranga , que deixava o pessoal ”babando”, guardei ele na garagem do meu pai até 83 , depois vendi para um colecionador de SP para que parasse de me encher o saco, me arrependo até hoje. abrçs

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Vitor Alexandre 24 de abril de 2018

Muito boa a história Estou rolando de rir Afinal é muito azar pra um cara só.kkkkkkkk

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Decio Camargo Filho 23 de abril de 2018

Querido Douglas, gostaria de acrescentar que muita manutenção desse carro foi feita na minha garagem em Votorantim SP, onde óleo, sujeira e o azarado do meu primo e eu nos divertíamos revisando aquele motor que vazava oleo para todo lado. Nota- confirmo a sua estoria.Abc do amigo de Votorantim.

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Míriam Bueno da Cunha 23 de abril de 2018

Rsrsrsrs rindo até agora da história do ruivo! Coitado

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