Como a CIA usou caminhões disfarçados para transportar seu avião espião ultrassecreto para a Área 51

Agência criou uma empresa de papel e usou agentes disfarçados de motoristas para proteger segredos de Estado nos anos 60

A12 flying
Lockheed A-12 foi uma das aeronaves de reconhecimento desenvolvidas no contexto da Guerra Fria (Foto: DVIC | U.S.Air Force)
Por Eduardo Passos
Publicado em 08/12/2025 às 17h00

Se hoje conflitos como a guerra entre Rússia e Ucrânia são marcados por drones e satélites, nos anos 1950 a realidade era outra. Os satélites ainda engatinhavam, e a coleta de inteligência dependia de aeronaves capazes de voar alto, rápido e sem serem detectadas. Nesse contexto, os Estados Unidos desenvolveram modelos muito avançados, como o lendário SR-71 Blackbird, da Lockheed, mas antes dele, veio seu “irmão secreto”: o A-12 OXCART, encomendado diretamente pela CIA.

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Lockheed A 12
O A-12 em sua primeira versão durante testes (Foto: Divulgação | Lockheed)

O A-12 era um avião de reconhecimento capaz de voar a mais de Mach 3, é altitudes tão extrema que seus pilotos usavam trajes especiais pressurizados. A aeronave foi construída na mítica Skunk Works, na Califórnia, mas todos os testes deveriam acontecer na então recém-criada Área 51, em Nevada.

E foi aí que surgiu um problema monumental: como transportar um avião ultrassecreto, de bilhões de dólares, por mais de 700 km sem chamar atenção?

A solução encontrada pela CIA foi tão ousada quanto criativa: criar uma transportadora falsa, batizada de Roadrunners Internationale. Ela existia apenas no papel, mas tinha caminhões, equipamentos especiais, logotipos e motoristas “funcionários”, que na verdade eram agentes da CIA e da Força Aérea.

Transporte A12 CIA II
O A-12 dentro do container, que foi construído especificamente para o seu transporte (Foto: Divulgação | Dorsey G. Kammerer)

Para o transporte, a agência desenvolveu dois contêineres. O maior, responsável pela fuselagem, tinha 32 metros de comprimento e 10,6 metros de largura. O segundo, menor, levava asas, lemes e outras seções removíveis. O conjunto ainda possuía eixos direcionais operados manualmente, no qual auxiliava nas manobras.

O planejamento foi uma operação longa. As possíveis rotas foram estudadas por anos, medições feitas com caminhonetes equipadas com antenas simulando as dimensões da carga, remoção temporária de postes, fiação realocada e trechos de estrada escavados. No total, o planejamento consumiu três anos de trabalho.

Transporte A12 CIA I
Picape usada para simular a dimensão do conjunto e verificar a viabilidade da rota (Foto: Divulgação | Dorsey G. Kammerer)

A primeira operação partiu em 26 de fevereiro de 1962. Os caminhões usados, que dá para notar nas fotos desclassificadas, eram o Kenworth 923, da famosa série W900, que terá a produção encerrada até o final de 2025. A operação foi feita em pleno inverno, período escolhido por oferecer menor risco de atolamento em estradas de terra. Mesmo assim, um dos caminhões ficou preso em um trecho, e um ônibus da Greyhound chegou a tocar levemente o contêiner, cuja lataria foi arranhada, mas para evitar problemas ou chamar atenção, um pagamento silencioso foi feito para o motorista.

Como eram caminhões daycab, sem leito, os operadores dormiam em barracas improvisadas. Durante os pernoites, recebiam “luxos raros” para a época: refrigerantes, limonada e garrafas térmicas com café ou chocolate quente.

Transporte A12 CIA III
Comboio estacionado a beira da rodovia (Foto: Divulgação | Dorsey G. Kammerer)

Ao chegar à Área 51, o avião era retirado do contêiner e remontado no hangar. Outras operações semelhantes ocorreram ao longo de 1962 e 1964, transportando os demais “Article” do projeto A-12 e posteriormente os YF-12. Vale lembrar que quando estavam em testes de voo, os modelos recebiam o “callsign” de Article.

Essa história é apenas um capítulo de uma operação altamente secreta que permaneceu oculta por décadas. Hoje, a Roadrunners Internationale possui um site onde ex-agentes e engenheiros contam detalhes dessa aventura, além de fotos desclassificadas, ou seja, quem pode ser mostrada ao público de toda a operação.

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