Concorrência brutal e guerra de preços é doença terminal no mercado automotivo chinês, que tem que lidar com mais uma maracutaia, o autorregistro
As montadoras chinesas, cada vez mais presentes aqui no Brasil com importações, concessionárias e até mesmo fábricas, estão sendo alvo de investigações lá na China. Isso porque a mais nova estratégia de várias dessas marcas, além da concorrência acirrada e agressiva de preços, é vender carros novos como se fossem usados.
Pode parecer algo bizarro e sem sentido, mas na verdade essa prática pode ser bastante prejudicial e está tão difundida que o governo chinês convocou uma reunião de montadoras para investigar o caso, algo parecido com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aqui no Brasil. Especialistas do setor, como Wei Jianjun, presidente da Great Wall Motor (GWM), denunciaram a prática como distorcedora de dados de vendas, enganosa para os consumidores e prejudicial à estabilidade do mercado a longo prazo.
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Em meio a competição brutal pelo mercado interno e internacional, as empresas de automóveis chinesas descobriram o autorregistro e agora estão usando e abusando dele. Essa é uma prática que é utilizada com certa frequência na Europa e outras partes do mundo, principalmente no final de trimestres ou do ano para cumprir metas.
Com a guerra de preços que já dura anos na China, essa medida tornou-se muito comum, já que os fabricantes enfrentam uma pressão cada vez maior para atingir metas de vendas agressivas. Em resumo, o autorregistro acontece quando os carros são registrados e contabilizados como vendidos, mas, na verdade, passam a fazer parte do estoque de carros usados das chamadas concessionárias zero-quilômetro. Ou seja, ninguém os comprou.
Na China, o mecanismo do autorregistro é relativamente simples:
Assim, essa estratégia foi a solução para aumentar o número de vendas, ainda que ele não corresponda à realidade. Enquanto isso, os consumidores têm acesso a carros novos, mas com preços mais baixos.
De acordo com o executivo da GWM, 3.000 a 4.000 vendedores de carros usados estão atualmente oferecendo esse tipo de veículo em plataformas chinesas. São carros registrados que foram contabilizados como vendidos nas estatísticas, mas nunca foram dirigidos. Muitas vezes, eles ainda conservam as capas plásticas dos bancos e até o cheiro de carro novo.
Embora essa prática não pareça ilegal à primeira vista e até mesmo boa todos os envolvidos, ela está atraindo a atenção dos reguladores chineses. As autoridades estão particularmente preocupadas com o potencial abuso de subsídios.
Isso porque essa situação revela as tensões no mercado chinês, que há anos é impulsionado por consideráveis subsídios públicos, além de um auxílio direto aos fabricantes e uma concorrência extremamente acirrada. As montadoras chinesas são forçadas a crescer constantemente, o que agora está levando a um excesso de autorregistros.
O Ministério do Comércio convidou a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (CAAM), a Associação Chinesa de Concessionárias de Automóveis (CADA) e diversas plataformas de venda de carros usados para sua reunião investigativa.
Em um mundo ideal, as montadoras devem estabelecer metas razoáveis de produção e vendas anuais e não transferir estoque para as concessionárias, obrigando-as a estocar carros. Essa é a proposta da Câmara de Comércio apresentada na terça-feira (03/06).
Outra situação sintomática da disputa agressiva na China são os cortes nos preços de carros elétricos e PHEV (híbridos plug-in). O cenário está tão crítico que os reguladores chineses reagiram com crescente preocupação às reduções iniciadas pela BYD.
A marca, que já se consolidou no mercado brasileiro, ofereceu descontos de até US$ 7.600 (R$ 42.500) em alguns carros, deixando modelos topo de linha como o BYD Seal 7 DMI-i por menos de US$ 15.000 (R$ 83.900).
A Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (CAAM) e o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT) emitiram alertas públicos contra “guerras de preços desordenadas”. As organizações citam um declínio nas margens de lucro de todo o setor de 4,3% em 2024 para 3,9% no primeiro trimestre de 2025, como evidência de uma crescente concorrência destrutiva.
A mídia estatal ecoou essas preocupações, alertando, segundo a CNC, que o mercado está atingindo limites insustentáveis. Há muitas marcas de automóveis na China, mas espera-se que menos de 10 sobrevivam até 2030 se a guerra de preços e a pressão para produzir cada vez mais continuarem.
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