Desvio do Cleitinho: senador não foi o primeiro a desviar estrada; entenda
Senador mineiro incentiva motoristas a burlarem pedágio, confira outras vezes em que políticos usaram recursos para interferir nas vias
Senador mineiro incentiva motoristas a burlarem pedágio, confira outras vezes em que políticos usaram recursos para interferir nas vias
Na última quarta-feira (18), o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) viralizou com um vídeo nas mídias sociais que gerou bastante controvérsia. O parlamentar incentivou os motoristas que trafegam na BR-040 na altura da cidade de Paracatu, Região Noroeste de Minas Gerais, a utilizarem um desvio para burlar um pedágio localizado no trecho.
A ação bastante polêmica tomada pelo parlamentar é só mais uma entre as várias iniciativas de políticos brasileiros que já utilizaram de sua influência, poder ou recursos públicos para interferir na mobilidade, algumas delas para benefício próprio.
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Nas imagens postadas no Instagram, o parlamentar aparece ao lado do prefeito de Paracatu, Igor Santos (União Brasil), orientando os condutores na BR-040 a seguirem por uma rota alternativa que passa por dentro de uma propriedade privada. Dessa forma, eles não passariam pelo pedágio e não teriam que pagar a tarifa de R$ 11,30.
Muitas pessoas interpretaram que Cleitinho estaria induzindo os motoristas a cometer uma infração de trânsito grave prevista pelo Código Brasileiro de Trânsito (CTB):
Art. 209-A. Evadir-se da cobrança pelo uso de rodovias e vias urbanas para não efetuar o seu pagamento, ou deixar de efetuá-lo na forma estabelecida: (Incluído pela Lei nº 14.157, de 2021)
Infração – grave (cinco pontos na CNH);
Penalidade – multa (R$ 195,23).
O senador argumentou que o trânsito na via alternativa foi autorizado pelo proprietário, por isso não pode ser considerado evasão de pedágio. No entanto, em nota ao Estado de Minas, a ANTT afirmou que a prática configura sim a infração prevista pelo artigo 209.
Ainda em Minas Gerais, há outro exemplo desse tipo de iniciativa, mas dessa vez vindo diretamente do governador. Em 2023, Romeu Zema (Novo) decidiu investir R$ 41,2 milhões na recuperação de uma estrada que leva até o sítio de sua família, o “Rancho Zema”, em Rifaína (SP).
O trecho em questão são 107 quilômetros da MG-428, que se inicia no entroncamento da BR-262, em Araxá (MG), cidade natal de Zema, até a divisa de Minas com São Paulo, onde fica o sítio da família do governador. A ação foi questionada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que pediu esclarecimentos ao governador. Em entrevistas, Zema afirmou que a obra beneficiaria mais de 700 mil pessoas da região.
Em uma de suas primeiras ações como prefeito de Marília (SP), Vinícius Camarinha (PSDB), protagonizou neste ano um espetáculo cênico que viralizou nas redes sociais. O político apareceu com um alicate cortando os fios que alimentam os radares da cidade.
A ação, realizada no início de janeiro, é reflexo de nova diretriz na cidade, em que todos os 18 controles que fiscalizavam o excesso de velocidade foram desativados. Ele alegou estar eliminando a “indústria da multa” e que o dinheiro gasto com os radares será aplicado em ações educativas.
Camarinha afirmou que “os radares não educam, apenas penalizam o trabalhador. Tenho certeza que o povo de Marilia vai colaborar”. Mas, já é de conhecimento geral que não é bem, pois é preciso saber distinguir entre os radares instalados como “pegadinhas” para flagrar motoristas desprevenidos e os localizados em locais determinados por estudos técnicos bem fundamentados.
A iniciativa do prefeito está mais para uma medida populista para fazer a alegria dos motoristas.
Assim como Zema, o ministro das Comunicações do governo Lula (PT) também quis aproveitar seu cargo para melhorar o caminho para casa. Em janeiro de 2023, o Estadão informou que o Juscelino Filho (União Brasil-MA) usou R$ 5 milhões das emendas de relator para asfaltar uma estrada em frente à sua fazenda, em Vitorino Freire (MA).
A CGU (Controladoria-Geral da União) disse em relatório que a pavimentação beneficiaria somente propriedades do atual ministro e de seus familiares. Juscelino Filho atualmente é investigado pela PF por suspeita de integrar uma organização criminosa envolvida em desvios de dinheiro em obras da estatal Codevasf na cidade de Vitorino Freire (MA), comandada por sua irmã, Luanna Rezende.
No ano passado, o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil) bancou uma obra de R$ 12 milhões em sua cidade natal, Campo Formoso. O parlamentar pediu a pavimentação da estrada que leva à fazenda do seu pai, José Aluizio Nascimento.
A fazenda localizada entre Campo Formoso e o povoado de Limoeiro, teve um trecho asfaltado com recursos da estatal Codevasf. O político argumentou que a reforma foi feita por necessidade e que a parte da estrada que chega na propriedade de seu pai foi o “último acesso da cidade asfaltado”.
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Não estou dizendo que sou a favor dessas atitudes, mas as entendo, afinal pagamos caro (e bota muito nisso) pelo IPVA que deveria ser destinado (também) à conservação de rodovias do nosso país mas que, por incompetência, má administração (dentre outras maracutaias) acaba não indo para onde deveria, e para não ter trabalho e gastos, acabam por terceirizando a via (e com isso implantação de pedágio).