Venda de picapes reflete retrato do mercado de automóveis no Brasil
Brasileiro se enveredou por picapes, com direito a gigantes norte-americanas que se tornaram carros de luxo e compactas que substituíram sedãs
Brasileiro se enveredou por picapes, com direito a gigantes norte-americanas que se tornaram carros de luxo e compactas que substituíram sedãs
O mercado de automóveis é sempre guiado por tendências. Depois da febre dos SUVs que eclodiu nos anos 1990 e se ramificou para modelos compactos e os de estilo cupê. A nova moda são as picapes. Elas estão em alta. No ano passado foram vendidas 402 mil picapes, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
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O volume corresponde a quase um quinto do mercado, com 18% das vendas. O ano de 2023 só ficou atrás de 2012, quando foram licenciadas quase 408 mil caminhonetes. Mas vale lembrar que 2012 foi ano recorde da indústria brasileira, com 3,6 milhões de unidades. Proporcionalmente, a participação desse tipo de veículo foi 11,3%.
E as picapes revelam um raio-x do mercado brasileiro. Caminhonetes são veículos caros, com preços que partem de R$ 100 mil e superam a barreira dos R$ 500 mil. Parece contraditório em um país que precisou desenvolver uma campanha de estímulo com redução tributária, para quem o carro popular custasse (temporariamente) menos de R$ 70 mil.
Claro que um bom naco dessas 400 mil unidades correspondem a frotas de mineradoras, prestadores de serviços e locadoras, que compram carros aos montes e com valores infinitamente mais em conta que uma unidade isolada para um consumidor final. Mas há um volume expressivo que é de uso pessoal.
Marcas como Chevrolet, Fiat e Ram apostaram forte no uso da picape como carro de passeio. Em 2023, a General Motors colocou no mercado a nova Montana. Ela deixou de ser uma insossa caminhonete leve para ganhar corpo de intermediária e seguir os passos da Fiat Toro.
E por falar na italiana, a Fiat deve sua liderança ao desempenho cavalar da Strada (com 120 mil unidades licenciadas) e também da Toro (51 mil emplacamentos). As picapes leve e intermediárias se tornaram os novos carros de passeio. Elas passaram a entregar comodidades de um sedã, mas com o benefício da suspensão elevada para encarar a buraqueira das vias brasileiras, mas sem a instabilidade das picapes médias.
As leves e intermediárias com cabine dupla têm preços que variam entre R$ 110 mil e R$ 270 mil. Ou seja, orbitam na mesma faixa de valores de hatches compactos e sedãs médios. No entanto, picape é carro que tem valor agregado e índice de desvalorização baixo. Assim, apostar uma pequena fortuna em uma caminhonete é uma forma de manter maior poder de comprar no futuro.
Ford e GM também resolveram entrar de vez no segmento de grandes, com F-150 e Silverado. As conterrâneas de Detroit se tocaram de há espaço para esses paquidermes de aço, além dos modelos Ram. A Ford ainda renovou completamente a Ranger, com direito a poderosa versão Raptor.
E como mencionamos a marca do Carneiro Montês, a norte-americana caminha em uma trilha ascendente no mercado brasileiro (com o perdão do trocadilho) desde que lançou a atual geração da 2500, em 2019. Em 2022 a marca importou 5 mil picapes, praticamente empatando com a Volvo e deixando a Land Rover (que tem produção nacional) para trás.
A escalada de vendas estimulou a Stellantis a ampliar o portfólio e a lançar um produto nacionalizado. Com a chegada da Rampage, a marca triplicou seu volume e fechou 2023 com 16,9 mil licenciamentos. Para conseguir amortizar o custo de desenvolvimento, é necessário volume. E para isso, a Ram, que há pouco tempo tinha puxadinhos nas revendas Jeep e Chrysler, passou a contar com lojas dedicadas e duplicou os pontos de vendas.
O número de pontos, que era de 60 em 2022, mais que dobrou no ano passado, totalizando 123. E como a Ram (que nos EUA é uma marca generalista de comerciais leves) se estabeleceu como selo de luxo para o consumidor tupiniquim, ela criou o conceito Ram House.
São lojas que parecem um rancho texano. Segundo a marca, a loja conceito que promete experiência premium e conexão entre a modernidade e as raízes rurais da empresa. Hoje, já há 3 dessas concessionárias que ficam em Barueri (SP), São Paulo (SP) e Goiânia (GO), sendo que a quarta será inaugurada em Florianópolis (SC).
Para 2024, será a vez da inédita Fiat Titano, que deriva da Peugeot Landtrek. A Stellantis preferiu aplicar emblema da líder em picapes do que se arriscar com a marca francesa, que fracassou retumbantemente com a Hoggar no passado. GM também irá revitalizar a S10, que ganhará visual inspirado na Colorado vendida nos Estados Unidos e a Volkswagen aplicará uma plástica (aos moldes da Saveiro) para dar sobrevida à quase debutante Amarok.
E ainda há a picape do Corolla Cross, que a Toyota tem trabalhado em segredo e deverá acirrar ainda mais o mercado. A japonesa quer aproveitar o forte lastro de seu emblema e as vendas fortes da Hilux para concorrer num segmento com tíquete mais agressivo repetindo a receita de Fiat e GM.
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