Brasil na trilha da Índia: quantidade de motos revela situação econômica do país

Mesmo em meio a maior deflação da história o Brasil está prestes a atingir o maior número na fabricação de motocicletas dos últimos 14 anos

Greve dos entregadores 2025 shutterstock
Trabalhadores já protestaram para melhores condições de serviço (Foto: Shutterstock )
Por Lucas Silvério
Publicado em 07/10/2025 às 13h00
Atualizado em 07/10/2025 às 14h48

Na última semana a fabricante japonesa Honda comemorou seus sete novos lançamentos para o mercado brasileiro e em meio disso reforçou que, em 2025, o Brasil pode registrar o maior número de produção de motocicletas dos últimos 14 anos – Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo).

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A crescente no setor, embora importante para a economia nacional, revela também a situação do bolso do cidadão e do setor trabalhista: o brasileiro tem menos poder de compra e recorre cada vez mias a trabalhos informais.

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Em 2025, o Brasil já soma mais de 1,6 milhões de motos emplacadas, revela o levantamento do mês de setembro da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Até o momento elas comercializam mais que os carros (que anualmente vendem mais) que tem 1,4 milhões de emplacamentos.

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Pode ser o primeiro ano no período que as motos ultrapassam os carros (Imagem: AutoPapo | Lucas Silvério)
  • A comparação entre os últimos 10 anos mostra a crescente na comercialização de motos bem mais acentuada que a de carros.

Em entrevista ao AutoPapo, a economista, mestra em Administração e professora do Centro Universitário Una, Vaníria Ferrari, apontou que fatores como a pandemia e o aumento do delivery são grandes responsáveis pelo comportamento do cidadão ao longo dos anos.

Esse movimento de aumento do número de emplacamentos de carros e motos pode ser percebido após 2020, ou seja, foi um movimento que começou principalmente na pandemia, que além do aumento das compras delivery, gerando oportunidade de trabalho com entregas, também tivemos o desemprego que vem aumentando o número de pessoas que estão adquirindo veículos principalmente para trabalhar como transporte (Uber, 99).”

Em setembro de 2020 o país atingiu a maior taxa de desemprego dos últimos 10 anos, chegando a 14,9%. Por mais que, atualmente o país esteja atualmente com a melhor taxa do mesmo período, com 5,6% dos trabalhadores sem ocupação, a adesão de condutores a serviços de aplicativo (contabilizados para a queda da taxa) não diminui.

  • O número de trabalhadores por aplicativo cresceu 170% nos últimos 10 anos, segundo levantamento do Banco Central.

O impacto desse comportamento na economia pressupõe várias questões. Por um lado temos a clara percepção do aumento do trabalho informal (transporte privado e entregas), reflexo da situação econômica do país, com elevado desemprego formal. Por outro lado, isso irá refletir um aumento considerável de endividamento das famílias, uma vez que a maior parte dessas aquisições são realizadas via financiamento e com altas taxas de juros.”

O estudo Plataformização e Precarização do Trabalho de Motoristas e Entregadores no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o trabalho por aplicativos diminuiu o rendimento médio dos trabalhadores do setor, abordando mais especificamente os entregadores.

Entre 2012 e 2015, enquanto o total de entregadores era cerca de 56 mil, o rendimento médio ficava em torno de R$ 2,25 mil. Em 2021, quando o total de motociclistas da categoria chegava a 366 mil, o rendimento médio era de R$ 1,65 mil.

Futuro das motos no país

Então temos por um lado o estímulo ao trabalho informal e por outro um comprometimento ainda maior da renda das famílias com financiamentos, o que a médio prazo pode impactar negativamente no consumo e consequentemente na economia.” completou a economista.

Mesmo com o aumento dos números de motos e empregos informais, o Brasil passa pela maior deflação da história (0,68%) e as expectativas seguem positivas.

Além disso, lutas pela regulamentação dos serviços de entrega se intensificam, junto da exigência de remuneração mais justa para os entregadores.

Atualmente o Brasil possui 36,6 milhões de motos, um número ínfimo em comparação à Índia que tem 261 milhões. Mesmo assim, não dá para negar o crescimento contínuo do mercado de duas rodas nacional.

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