Mais de 60% dos motociclistas, com lesões nos pés, sofreram amputação e uso de calçado inadequado é um fator que agrava o ferimento
O único equipamento de proteção exigido para o motociclista que não exerce atividade remunerada é o capacete, item fundamental já que sozinho reduz em até 70% a gravidade dos acidentes de moto.
Porém a preocupação perde intensidade quando corre para o resto do corpo, principalmente para baixo das canelas. Pesquisas e especialistas apontam que a falta do calçado apropriado está diretamente relacionada à gravidade das lesões dos pés e tornozelos.
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A afirmação em questão foi feita pelo Dr. Fhilipe Xavier, médico ortopedista, especialista em medicina do tráfego, perito previdenciário e presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) de Pernambuco.
Durante entrevista com o especialista, nossa reportagem buscava validar antigos dados apontados pela também pernambucana NETV. Em 2015, o canal da TV Globo apurou que 66% dos motociclistas internados em hospitais locais por acidentes de trânsito precisaram amputaram dedos ou todo o pé.
O levantamento que foi feito pelo Comitê de Prevenção de Acidentes com Motos no Estado (Cepam) ainda afirmou que muitos destes casos poderiam ser evitados se as vítimas usarem sapatos durante a condução.

Dr. Xavier confirmou que, mesmo sem a precisão dos números, o cenário atual de acidentes continua semelhante. Os motociclistas que insistem em não usar a proteção adequada têm maiores traumas após o acidente.
“Esses calçados (como chinelos ou até tênis) não oferecem proteção adequada contra esse tipo de impacto, de abrasão e de torção, que são os mecanismos mais comuns nas quedas de moto”
O tênis é rapidamente consumido pelo asfalto e chega na pele em segundos. O chinelo não protege muitas partes e o impacto costuma ir direto na pele, o que explica a alta taxa de amputações.
Em geral, o pé é a primeira parte do corpo que toca o solo. Sem a proteção adequada ele se torna passível de fraturas graves, luxações e até lacerações.”
O perito esclareceu a importância do uso da bota de proteção, já que ela tem a função de proteger os pés e os tornozelos em algum impacto, abrasão e até mesmo a torção durante as quedas.
“Ela evita esmagamentos, lacerações (quando o pé fica preso entre a motocicleta e o asfalto ou entre outro veículo). É também um isolante térmico, reduzindo queimaduras causadas pelo escapamento e partes plásticas da moto”, determina o especialista.

Em comparativo, um motociclista que cai descalço, com chinelos ou sapatos sem a proteção adequada estão muito mais expostos a todas essas lesões. A bota é muito mais resistente e evita mais da metade dos casos mais graves.
Há ainda uma importância da altura do modelo. Tênis, por mais que sejam resistentes, não apresentam a proteção que uma bota é capaz.
A entorse de tornozelo, a torção, é o mecanismo de trauma mais comum em toda a ortopedia. O calçado baixo não protege contra a entorse.
O presidente da Abramete alerta que no caso de lesões de alta energia, como são, geralmente, os acidentes com motos sem a proteção adequada, é quase inevitável que não se perca funções importantes no pé.
Um exemplo é o caso de rompimento de determinada enervação. Tal trauma pode gerar a sequela de deixar o “pé caído”, o que pode ser para o resto da vida, afirmou o especialista. Dr. Fhilipe ainda reitera que a lesão ligamentar está entre as mais perigosas a longo prazo.
O nosso pé é um dos segmentos mais complexos do corpo. São 26 ossos, diversos ligamentos, alguns com a espessura de um fio de cabelo. Então esse trabalho de mexer cada osso, essa relação de uma parte com a outra é extremamente delicada.
O piloto e influenciador Rafael Togni postou detalhes de um acidente que sofreu em uma etapa classificatória do SuperBike Brasil, em agosto de 2024. O motociclista relatou que colidiu a 200 km/h contra outra motocicleta e com isso sofreu uma fratura no tálus, um osso do tornozelo.
Togni operou e ficou 3 dias com uma bota imobilizadora. Ele destacou que além do atendimento médico rápido e eficiente, os equipamentos de proteção foram fundamentais para que a lesão não fosse mais grave.
Em uma conversa durante um evento, meses depois, Rafael contou que os médicos afirmaram que se não fosse a bota de proteção “talvez nem pé tivesse mais”.
O médico Fhilipe Xavier ainda alerta que que a segurança no trânsito vai além dos danos físicos. Os condutores acidentados têm impactos sociais e financeiros para eles mesmos e também terceiros.
“Eu vejo diariamente o impacto desses acidentes na vida dos trabalhadores. Muitos motociclistas acidentados ficam incapazes de exercer sua profissão, principalmente aqueles que dependem do uso dos pés, como motoboys, motofretistas e entregadores, entre outros”, lamenta.
Xavier ainda revela que o principal motivo de benefício por incapacidade no Brasil são os acidentes de moto. As aposentadorias de moto são as mais comuns também.
“Essa prevenção com o uso correto de botas e outros equipamentos é a forma mais inteligente de proteger a vida e também a sustentabilidade do sistema de saúde e previdenciário”, sentencia Xavier
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