O rendimento do motociclista deve considerar a manutenção, depreciação do veículo, seguro e outros gastos da longa jornada fora de casa
O trabalho por aplicativo se tornou uma tendência sem volta, principalmente após 2020, quando o desemprego bateu recordes em decorrência da pandemia do covid 19. Como consequência, motoristas e motociclistas plataformizados já somam mais de 1,4 milhão no Brasil.
Desde então, a classe – principalmente dos que trabalham com motocicletas – tem lutado para melhor remuneração. Manifestações se tornaram rotina, para com exigências variadas, como taxas maiores e melhores condições nas entregas. Os movimentos levantaram muitas pesquisas que abordaram quanto ganha um motociclista, porém para um trabalhador que usa sua ferramenta pessoal a “engenharia reversa” dessa pergunta é fundamental. Afinal, quanto custa ser um motoboy no Brasil?
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Segundo aponta um módulo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em outubro de 2025, o rendimento médio mensal de um motociclista “plataformizado” é de R$ 2.119, enquanto o profissional não vinculado a uma plataforma digital arrecada R$1.653.
O iFood, maior plataforma de delivery da América Latina, aumenta ainda mais essa média. A plataforma divulgou pesquisa do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) que afirma que as remunerações mensais líquidas variam entre R$ 807 e R$ 3.039.
O estudo “Mobilidade urbana e logística de entregas: um panorama sobre o trabalho de motoristas e entregadores com aplicativos” aponta que motociclistas que rodam 20 horas semanais (incluindo tempos ociosos de 10%, 20% e 30%) tem ganhos líquidos de R$ 807 a R$ 1.325. Quem trabalha 40h recebe entre R$ 1.980 a R$ 3.039.
Com algumas contradições, o Presidente do Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP), Gilberto Almeida, o Gil, afirmou em entrevista ao AutoPapo que o rendimento não é tão positivo quanto o divulgado na página da plataforma
O trabalhador plataformizado, que é o grande volume, o que aparece nestas pesquisas. O cara não tem absolutamente nada. Ele só tem direito de acordar de manhã e trabalhar uma média de 15h por dia colocando o patrimônio dele em risco (que é a motocicleta). Colocando o plano de dados dele [para utilizar internet no celular] em troca das empresas oferecerem via algoritmo corridas de R$ 6 onde não passa de R$ 1,40 a média da quilometragem que ele recebe. Isso sem direito a nada: proteção, férias, hora de almoço, ticket, cesta básica e outros,” declarou o presidente.
Segundo o sindicato, um motoboy roda em média 130 km por dia de trabalho. A associação também aponta que no caso dos motociclistas CLT do estado, o piso salarial é de R$ 3.630.
O SindimotoSP desmembra este salário bruto dos motoboys, motofretistas e mototaxistas expondo quanto cada trabalhador tem de custos para manter-se no trabalho.
Um trabalhador CLT da categoria pode considerar, destes R$ 3.630, R$ 813 de depreciação da motocicleta, R$ 451 com gastos de alimentação e R$ 90 de bonificação e seguro de vida. Desprezando os gastos com a moto e o dia a dia na rua, direto para o bolso do trabalhador vão cerca de R$ 2.200.
Somando os valores de gastos com o veículo e alimentação, o motoboy CLT que utiliza a própria moto gasta cerca de R$ 1.264 apenas por estar trabalhando.
Para quem não é CLT, utiliza a própria moto para trabalhar, a margem de gasto pode sofrer alterações, e detalhamos quais são as despesas de um trabalhador sobre suas rodas.
A depreciação da motocicleta anda junto dos gastos que o condutor tem com o modelo. Tomando como base a moto mais vendida do Brasil e responsável por 20% dos emplacamentos anuais da categoria, a Honda CG 160, um condutor dispensa algumas centenas de reais com as revisões programadas a cada 6.000 km.
Em uma das autorizadas da marca, localizada no bairro paulistano do Itaim Bibi, a primeira revisão da CG 160 Titan, custa R$ 114,75. Na manutenção de 36.000 km, o valor desembolsado salta para R$ 630,67.
Na média de 130 km por dia, um trabalhador roda mais de 3.000 km no mês. Para revisões a cada 6.000 km, uma média bem variável de R$ 200 por mês fica na motocicleta.
Além deste valor programado, ainda tem as peças que não entram nestes cálculos. Pneus, freios, velas, cachimbo, kit relação ficam por conta do proprietário, pois são itens de desgaste natural. Isso tudo, sem contar eventuais problemas de quebras ou acidentes, que elevam os gastos a patamares estratosféricos.
Segundo a Petrobras, a gasolina no Brasil hoje custa em média R$ 6,17 por litro. O mesmo modelo da japonesa Honda faz cerca de 40 quilômetros com um litro de gasolina. Considerando a média diária que um motociclista percorre (130 km), um motoboy que trabalha seis vezes na semana gastaria R$ 481 com combustível ao longo do mês.
A Honda CG 160 custa hoje entre R$ 16.770 e R$ 19.910, isso desconsiderando frete e outros encargos que aumentam o valor em alguns milhares de reais dependendo da região.
Para os mais econômicos, uma das motos mais baratas do Brasil hoje é também Honda POP 110i Es, que tem preço a partir de R$ 10.080.
Capacete, jaqueta, luva, calça, bota. Todos estes itens devem fazer parte do investimento inicial de um motociclista. Os preços podem ser bem variáveis, mas com cerca de R$ 2.000 um condutor compra todos os itens mais básicos e comprovadamente seguros para proteção urbana.
Para a cereja do bolo, um motoboy deve pagar mensalmente seu plano telefônico com internet, caso rode por aplicativo. Estes podem variar muito de R$ 30, R$ 50 até mais de R$ 100, dependendo da operadora e pacote. Vale lembrar que um smartphone que suporta o ritmo de trabalho frenético e embaixo de sol e chuva facilmente passa dos R$ 1.000.
A documentação é um dos momentos que mais dói no início do ano do condutor. O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) custa 1% ou 2% do valor do veículo, variando em cada estado do país. Uma centena de reais também é direcionada ao licenciamento e o seguro também deve entrar na conta.
A Suhai, referência em associação de seguros do país, tem anuidades que variam entre R$ 470 e R$700.
Ao fim da entrevista com o presidente Gil e após vários esclarecimentos dele sobre a situação dos entregadores, questionamos o que era mais caro para o motociclista.
Na maioria das vezes custa a vida do cara, que é algo que não tem dinheiro que pague. A cada 1 minuto são registradas duas internações de motociclistas no Brasil. A grande maioria destes acidentes são motoboys,” finaliza o presidente.
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