Entre bastidors de la Corsa 30 anys després

Chicolelis relembra os bastidores da ação de lançamento do Chevrolet Corsa após 30 anos, modelo que revolucionou o segmento de compactos

chevrolet corsa wind 1994 vermelho frente
Chevrolet Corsa chegou ao mercado em 1994 e modernizou segmento de entrada (Foto: GM | Divulgação)
Por Chico Lelis
Publicado em 04/02/2024 às 17h03

Foi o meu amigo Ricardo Hernandes quem me lembrou: o Corsa brasileiro está completando 30 anos agora, em fevereiro. Seu lançamento aconteceu em Barcelona, a maravilhosa e hospitaleira capital da Catalunha. Daí, eu ter colocado o título no idioma local, com a ajuda do Google, claro!

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Não vou falar sobre o carro, que todos conhecem e sabem do seu estrondoso sucesso de vendas, que levaram o então vice-presidente da GM e ir para a televisão dizer para as pessoas não comprarem o carro com ágio, porque a marca estava aumentando sua produção. Nas concessionárias, havia uma fila de 130 mil compradores para o Corsa.

Bem, começando as histórias de bastidores: Fomos para lá com verdadeiro exército, composto por 1.200 pessoas entre concessionários, fornecedores e convidados especiais. Além disso, foram 250, no segundo grupo formado por jornalistas e acompanhantes.

barcelona 1994 globais

Entre os participantes, três “globais”: Fátima Bernardes e Willian Bonner, que brilharam no evento dos concessionários. Inclusive, Bonner dançou com a sra. Nathercia, esposa de André Beer, vice-presidente da empresa, enquanto ele dançou com Fátima, a esposa do Bonner. A Reginaldo Leme, coube fazer a apresentação do Corsa no autódromo de Barcelona, que ele conhece bem, ao grupo de jornalistas

Tenho o maior orgulho de ter ajudado a promover aquela festa espetacular, inesquecível para todos os que dela participaram, por. Fretamos, por intermédio da Estela Barros, comandada por Luis Barros, aviões da Varig, claro, a imbatível Viação Aérea Riograndense, porque ficava mais barato e confortável, que usar a viagem convencional, com escalas e esperas em aeroportos.

Primeiro viajaram os jornalistas, que ficaram o Hotel Rei Juan Carlos I, que hospedava também o, na época, fabuloso time do Barcelona (Zubizarreta; Ferrer, Nadal, Ronald Koeman e Juan Carlos (Sergi); Amor (Eusébio Sacristán), Guardiola (Bakero) e Michael Laudrup; Stoichkov, Begiristain (Salinas) e Romário. Técnico: Johan Cruyff) com o qual cruzamos no saguão do hotel, saindo para um treino.

Não vou seguir uma ordem cronológica. Afinal, depois de 30 anos, a memória, mesmo a dos amigos que participaram daquele lançamento, não está tão boa. Então vou contando alguns fatos ocorridos nos bastidores, combinado?

Bem, um fato curioso ocorreu logo na chegada do segundo grupo, dos concessionários, ao aeroporto de El Prat, 10 km distante do centro da cidade. E o então presidente da GM, o inesquecível amigo, Mark Hogan, que já nos deixou, perguntou pelo “seo” João, o personagem do comercial de lançamento do Corsa, uma figura cativante que não havia sido convidado. Mark então determinou que ele fosse levado para Barcelona. Em 24 horas, seu João e esposa estavam em Barcelona, graças ao trabalho do nosso colega Waldir Pécora e o pessoal do staf de viagens da GM.

Mas não foi apenas o “seo” João, cujo nome ninguém se lembra, que foi para Barcelona. Também o motorista que atendia Mark Hogan na GM, levando de casa, em São Paulo, para São Caetano, sede da companhia que foi o ouvinte dos ensaios de tamborim que Mark fazia dentro do carro, quando entrava e colocava o cassete no toca fitas e passou um ano tocando o instrumento, para chegar “afiado” ao Sambódromo e desfilar na bateria da Portela. E conseguiu, pois saiu por mais três anos na escola.

Em conversas anteriores, Severino Garcia, que já nos deixou, disse ao Mark que seu maior sonho era conhecer a terra dos seus pais, a Catalunha. Ele nunca esqueceu aquilo e quando se decidiu pela cidade de Barcelona, Mark pediu ao pessoal da Stela Barros que calculasse o custo de cada pessoa no evento. E assumiu, pessoalmente, as despesas do seu motorista e da sua esposa.

Primeiro e último jantares da Rede

Eram 1.200 pessoas, sentadas em 100 mesas no enorme ginásio que, seis meses antes abrigara jogos nas Olimpíadas de Barcelona. E havia o Juan (que ninguém lembra do nome todo), diretor do Paradis, responsável por toda a alimentação do evento que atuava como nosso anjo da guarda. Conseguia tudo que precisávamos e dava bons palpites.

Mas, no primeiro jantar da Rede de concessionários e convidados, Juan se negou a atender um pedido que o jantar fosse adiado por poucos minutos, porque o sistema de som havia dado “pau”.

– Nem por um segundo! Foi a resposta firme.

Eu, Betty Moscado e Frederico Themoteo Jr, que coordenávamos o evento, ficamos chocados com a resposta. Juan percebeu e disse para esperarmos um pouco.

Em minutos ele começou a contagem regressiva: 10, 9, 8 ……2, 1. Zero. Várias portas se abriram e 100 garçons, em passos elegantes, começaram a servir as mesas ao mesmo tempo. Ele então nos disse que aquele jantar tinha começado a ser preparado ainda pela manhã e que não poderia haver um atraso sequer, por menor que fosse. Um espetáculo.

No último jantar do grupo, este no Palao San Jordi, no Pavelló Olímpic de Badalona, dois fatos curiosos. Estava tudo certo para a banda de sucesso na época, Gipsy Kings, se apresentasse no jantar final dos concessionários. Porém, dias antes do evento, quando já estávamos em Barcelona, Carlos Ortali e José Francisco Ortali, da Miksom, empresa responsável pelo evento, receberam a notícia de que o grupo não faria a festa da GM. Segundo Carlos, havia uma convulsão interna na banda e essa foi a razão do cancelamento.

Ainda bem! Porque a banda comandada por Peret (Pere Pubill Calaf), considerado o grande nome da rumba catalã, fez um show que levou os concessionários a dançarem por toda a noite. Alguns até sobre a mesa. O fato curioso é que, horas antes da apresentação, durante a chamada “passagem do som”, fomos falar com Peret, para que ele soubesse algo sobre o seu público daquela noite. E perguntar se ele conseguiria animar as pessoas.

– Se eu não conseguir fazer todos dançarem, vocês não pagam o cachê. Mas, se eu conseguir, quero um Corsa de presente, ok? Não era brasileiro Por falar no carro, o modelo Wind, que aparece no comercial do Corsa, não é o modelo brasileiro, quer não chegaria a tempo para produção do filme, criado pela McCann Erickson, para entrar no ar (redes nacionais de TV). Reveja o comercial:

Então, a solução foi pegar um modelo do Corsa espanhol, fabricado em Saragoça, na Espanha. Mas foi preciso fazer pequenas e sutis alterações no carro, colocando as rodas brasileiras e o tag do “Wind”, que que não existia na Europa, onde o carro fazia muito sucesso.

“Seo” João, um querido

Não havia na GM, ou nas empresas que participaram das gravações em que ele participou, ninguém que não se apaixonou pelo “seo” João, cujo nome completo, ninguém consegue lembrar. Ele fez o filme em que, ranzinza, critica a GM por lançar um carro com tantas novidades. Veja neste link, a performance daquele que foi uma das estrelas no lançamento e que todos os participantes, desde jornalistas, até concessionários, queriam cumprimentar e fazer fotos.

Test-drive na pista

Os jornalistas fizeram o primeiro teste do Corsa brasileiro – estes sim, já fabricados em São Caetano do Sul e levados à Catalunha especialmente para o lançamento – no circuito de Barcelona-Catalunha, na cidade de Montmeló, que desde 1991 sedia o GP de F1 e do Moto GP, e treinos de pré-temporada, porque lá não neva, no inverno, como no resto da Europa.

Então, o Corsa 1.0, que tinha máxima de 155 km/h, ousou acelerar em uma pista onde a máxima alcança 310 km/h. Pensem que o Corsa tomaria 5 voltas, em uma corrida de 10 voltas no circuito de 4.665 metros, isso calculando apenas que ambos andariam na máxima. Se levarmos em conta que, por exemplo em uma curva o F1 poderia entrar a 110 km/h e o Corsa a 60km/h, esse número da vantagem do F1 pode aumentar bem. Pensem que o 0 a 100 km/h do Corsa 1.0 é de 17,6 segundos, enquanto o F1 faz a mesma coisa em 2,6 segundos. Acho que só na arrancada o bólido já ganharia na metade dos 4.665 metros.

Por mera coincidência, foi em um desses treinos da F1, que fomos à Catalunha para verificar o que o autódromo oferecia para nosso grupo. E lá encontramos Rubinho Barrichello, um dos melhores pilotos brasileiros, então na Ferrari, que fora patrocinado pela GM no início da sua carreira no Brasil. Como sempre, Rubinho foi a simpatia de sempre.

A ameaça policial

O Ricardo Hernandes, fotógrafo da GM, precisava de algumas fotos do carro espanhol adaptado e escolheu uma praça como cenário. Como o carro, sem placa não podia circular (o do comercial teve autorização especial das autoridades locais, que facilitaram tudo o que era possível, para colaborar com o evento) Fred Themoteo e Ricardo Ferraroni levaram o carro em um guincho, colocando-o no ângulo pedido pelo fotógrafo.

Daí, com panos e produtos apropriados, começaram a preparar o Wind para os clics do Ricardo. Foi quando chegou um policial de trânsito, em uma moto e exigiu que eles tirassem o carro dali ou prenderia a todos. “Treu aquest cotxe d’aquí o us arrestaré a tots”. E colocou fim à sessão de fotos.

Capa de Veja, um problema para Roberto Civitta

Sem nenhuma interferência da GM, quer por parte da Imprensa, quer pelo Marketing, a Veja, em uma ação inédita na história da revista, deu o Corsa em sua capa, com o título CORSA a história de um sucesso industrial.

Pois naquela semana, a diretoria da GM tinha um almoço marcado com a diretoria da Editora Abril. Pedro Luis Dias, de Relações Públicas estava nesse almoço me ouviu uma “queixa” do presidente do grupo Roberto Civitta.

– Vocês, com o Corsa, me causaram um grande problema. Recebi ligações de vários executivos da indústria reclamando desse privilégio de dar o Corsa na capa de Veja.

Bem, trouxe aqui alguns momentos de bastidores do lançamento do Corsa. Muitos irão dizer que esqueci um ou outro caso. Mas, 30 anos depois é difícil, mesmo com a ajuda de amigos, recuperar tudo.

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