Após atrasos na fábrica da Bahia, montadora quer redução de impostos para trazer carros 'semi-prontos' da China, mas provoca reação de concorrentes
Nesta quarta-feira (30), o governo federal pode julgar o pedido da BYD, que quer a redução do imposto de importação dos seus carros elétricos. A montadora chinesa iniciou as operações de sua fábrica em Camaçari (BA), mas pretende operar nos regimes SKD (e CKD no futuro), que finalizam carros desmontados e pré-produzidos na Ásia.
Por lei, esses veículos pagam imposto de importação igual ao de modelos que chegam prontos para venda. A BYD diz que a redução é temporária e que, em 12 meses, iniciará a fabricação de verdade no país.
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Montadoras como Volkswagen, Toyota, Chevrolet e Stellantis dizem o contrário: a BYD não irá além do regime atual, e ameaçam demissões.
Em janeiro, a BYD solicitou formalmente ao governo federal a redução das tarifas de carros importados em regimes CKD e SKD. Dessa forma, os modelos Dolphin Mini, Song Pro e King “nacionais” pagariam de 5% a 10% de imposto de importação. Atualmente, a alíquota varia entre 25% e 28%; além disso, a lei já definiu que, em junho de 2026, o valor será fixado em 35%.
Na opinião das maiores fabricantes do Brasil, o pedido não será provisório. Ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as marcas tradicionais afirmaram até que jamais haverá um BYD de fabricação realmente nacional.
“Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer”, disse uma carta pública endereçada o presidente.
O documento foi assinados pelos líderes de cada montadora no Brasil: Ciro Possobom (Volkswagen), Evandro Maggio (Toyota), Emanuelle Cappellano (Stellantis) e Santiago Chamorro (Stellantis).
A mensagem, entretanto, foi só mais um capítulo de uma luta pública. Tanto que, desde o ano passado, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) já cogitava processar a BYD.
A pretensão judicial inclui acusações de dumping, quando uma concorrente vende no prejuízo só para causar ainda mais dano às concorrentes.
A ideia é idêntica à da União Europeia, que taxou a BYD em 17% em outubro. Outras fabricantes chinesas também foram incluídas, sob pretexto de que todas recebiam subsídios injusto do governo local e que causariam danos à indústria europeia.
A BYD colaborou com as investigações e nega o dumping tanto no Brasil quanto na Europa. Por outro lado, a palavra da marca é contestada por rivais, que citam os atrasos no cronograma de obras do Brasil como argumento.
No anúncio da empreitada, em outubro de 2022, a previsão é de que duas fábricas fossem inauguradas em setembro do ano passado, com a terceira abrindo em janeiro de 2025.
Atualmente, porém, só há a linha de SKDs em fase final de montagem, com previsão de cerca de 13.000 unidades montadas ao mês e um grave escândalo de trabalho análogo à escravidão manchando a história dos trabalhos. A fábrica ainda não está operando.
Mesmo assim, executivos da marca mantêm a previsão de que, em 12 meses, isso mudará. Daqui a três anos, afirmaram anteriormente, serão 300.000 carros nacionais por ano saindo da região metropolitana de Salvador.
“Um Vale do Silício brasileiro”, segundo a CEO Stella Li, que tornaria o país um hub de exportação para o Ocidente Sul.
Na última cutucada entre BYD e Anfavea, um detalhe que chama atenção, porém, é o coro que reforça o protesto das fabricantes tradicionais.
Há entidades que representam os fabricantes de peças automotivas e diversos sindicatos, confederações e centrais de trabalhadores metalúrgicos manifestando apoio. Também protestaram as federações das indústrias de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
O AutoPapo ouviu fontes ligadas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que indicaram uma postura conciliadora da pasta. A opinião é de que governo procura agradar às montadoras chinesas e não-chinesas de modo equivalente, “pensando em hoje e no amanhã”.
Nesta segunda-feira (28), o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, sinalizou preferir o caminho conciliatório, mas frisou que o imposto vem crescendo justamente para que as fábricas, de fato, se instalem no Brasil.
“O SKD só monta o carro, tipo um Lego; nele nem se pinta o carro. Nisso, surgiu uma hipótese: eu não vou reduzir a tarifa, mas vou dar uma cota [de isenção] a qualquer empresa que quiser isso”, disse a Alckmin.
Segundo o político, a ideia debatida seria um meio termo: anteciparia para este ano a entrada em vigor a alíquota de importação de 35% (previamente estendida de 2026 para 2028 no caso de SKD e CKD). Por outro lado, haveria uma cota de unidades desses regimes que poderiam ser montadas no país com alíquota zero ou reduzida.
“Não seria cota para uma empresa, mas sim para as que quiserem”, declarou Alckmin.
Veja o trecho da entrevista coletiva:
A decisão caberá à Camex (Câmera de Comércio Exterior), que é um órgão colegiado formado por dez ministérios e deve se decidir ainda nessa semana. Os próximos capítulos, entretanto, poderão ser impactados pela política externa.
“A indústria automotiva foi protagonista de recentes acordos entre Brasil e China, além de ser crucial para Estados Unidos e União Europeia. Caso o governo mantenha a abordagem ampla, tende a agradar a todos, mas pode mudar isso caso a diplomacia peça”, afirmou o especialista do ministério.
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Dinheiro pra investir não é problema pra BYD!!!
Simples: Produzam os seus automóveis aqui com componentes fabricados aqui, e então usufruam os devidos benefícios fiscais…