Anos após série de problemas e reclamações, câmbio DCT está voltando ao Brasil melhorado e com foco na economia
Após uma estreia conturbada no mercado nacional, o câmbio automatizado de dupla embreagem está voltando. A tecnologia dá sinais de que corrigiu suas fraquezas e vem recuperando espaço no meio automotivo, mas é confiável?
O principal motivo desse retorno das montadoras ao DCT é a busca por eficiência: a transmissão automatizada realiza trocas de marcha bem mais rápidas, aproveitando melhor a potência e reduzindo perdas em comparação aos automáticos tradicionais.
Com normas de emissões mais rígidas e consumidores atentos ao consumo, economizar combustível sem sacrificar desempenho virou um trunfo. É nesse contexto que o “automatizado” recebeu seu “perdão”.
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Alguns fracassos iniciais mancharam a reputação do DCT (da sigla em inglês dual clutch transmission).
O Ford PowerShift — que equipou Fiesta e Focus nos anos 2000 —, por exemplo, sofreu com superaquecimento, trancos e quebras frequentes, deixando uma mancha na imagem desse sistema e processos judiciais a pagar.
A Volkswagen também viveu falhas semelhantes com seu DSG seco, reforçando a má fama desse tipo de câmbio.
Recentemente, o jogo mudou: a Hyundai foi uma que adotou o DCT no novo Creta turbo, afirmando ter resolvido falhas de projetos mais antigos.
Antes da decisão, a Kia já tinha recorrido ao DCT e, em volume reduzido, não teve problemas. Mesmo assim, a Hyundai precisou oferecer garantia ampliada para o conjunto a fim de acalmar os consumidores.
“A indústria teve problemas no passado, mas hoje a tecnologia amadureceu”, explica o vice-presidente de Desenvolvimento de Produto da Stellantis para América do Sul, Marcio Tonani.
Ao AutoPapo, Tonani explicou: “A transmissão de dupla embreagem tem ótimo funcionamento, com trocas rápidas e perfeito sincronismo das embreagens”
O fato de usar duas embreagens permite ao câmbio DCT preparar uma das peças enquanto a outra está acoplada. Assim, com uma embreagem para as marchas pares e outra para as ímpares, sempre há uma marcha pré-selecionada para engate.
É daí que vem o trunfo do DCT, reconhecido trocas de marcha rápidas e precisas. De um lado, há ganho de performance útil para modelos como o Porsche 911. Do outro, há economia valiosa para SUVs 1.0 turbo como o Renault Kardian.
Entre os tipos de dupla embreagem, aquelas com caixa úmida se destacam por utilizar óleos que auxiliam no arrefecimento da transmissão. A indústria, entretanto, vem concluindo que isso é mais adequado para modelos muito potentes e de manutenção cara.
No caso dos SUVs mundanos, a caixa seca pode até incomodar por uma incidência maior de ruído, mas, nessa situação, as marcas acreditam que a confiabilidade está em níveis equivalentes ao de outras opções.
Mas, para garantir a longevidade do DCT, alguns cuidados são sempre recomendados. Entre eles, evitar segurar o carro em rampas sem usar o freio ou permanecer em velocidade baixíssima por muito tempo — situações que podem superaquecer a embreagem.
Também não é indicado acelerar com o freio acionado, pois essa meia-embreagem gera desgaste extra no conjunto. Além disso, os veículos que precisam do líquido de arrefecimento devem ser checados com atenção extra, conforme o manual.
Outro ponto destacado por especialistas é realizar as revisões corretamente, a fim de manter a garantia.
Quem busca veículos usados com essa transmissão — principalmente em versões mais antigas — deve consultar a possibilidade do seguro ou ao menos se preparar financeiramente. Isso porque, ainda que um projeto tenha sido bem feito, nem os engenheiros negam que algumas unidades problemáticas sempre existirão.
Só o tempo dirá se os câmbios de dupla embreagem viverão uma nova fase, de sucesso, no Brasil. O avanço das ferramentas de análise da indústria, porém, indicam que isso deve ocorrer.
Graças a essas técnicas foi que a Hyundai evoluiu seu produto: o novo DCT do Creta, por exemplo, traz rolamentos com menor atrito e sistema elétrico simplificado, que ajuda na manutenção. Também foram 90.000 km de testes em território nacional, detectando particularidades que poderiam interferir na caixa.
Tanto os sul-coreanos quanto a concorrência também realizam testes computadorizados, em que milhares de combinações são validadas até que a versão final entre em fabricação, com boas chances de dar certo.
“O segredo é o desenvolvimento: se for bem feito não dará problemas. Além disso, é preciso ter preço e oferta de peças, permitindo reparabilidade rápida”, completa Marcio Tonani, ao falar do e-DCT que chega em breve a modelos da Stellantis no Brasil.
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