O coração dos carros usados na principal categoria do automobilismo já foi parar em modelos que foram feitos para rodar nas ruas
A Fórmula 1 ganhou a alcunha de ser um laboratório de tecnologias que veremos nos carros de rua futuramente. Mas tudo que vemos lá é sempre mais extremo que o existente em um carro que pode ser emplacado, os motores são um exemplo disso.
Um monoposto de Fórmula 1 é muito leve e tem como objetivo ser o mais rápido possível em uma pista. Por isso, seu motor não precisa de ser econômico, ter torque em baixas rotações, ser durável e outras prioridades dos carros de rua, ele precisa entregar muita potência e colocar o piloto no topo do pódio.
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Tradicionalmente, os motores de Fórmula 1 possuem o diâmetro dos pistões bem maior que o curso, giram muito e as folgas são mínimas. Quando estão frios, as peças internas ficam todas travadas, é preciso aquecê-las para pode ser colocado em movimento. Algo inviável em um carro de rua.
Apesar disso, algumas montadoras já tentaram colocar motores de Fórmula 1 em seus carros de rua. Alguns desses foram apenas conceitos, mas já tiveram alguns que chegaram às ruas. Confira:
A Porsche foi escolhida como fornecedora de motores para a McLaren na temporada de 1984, com a missão de substituir o icônico V8 Cosworth DFY por um V6 turbinado. Os pilotos da equipe eram dois craques: Niki Lauda e Alain Prost.
O projeto do motor foi financiado pela Tag, uma holding de tecnologia europeia. Se você achou o nome familiar, é porque essa companhia comprou o fabricante de relógios Heuer, que passou a se chamar Tag Heuer.
A Porsche usou um 911 Turbo como mula de testes para o motor V6 turbo de Fórmula 1. Ele usava rodas da Ruf e um spoiler maior, na cabine havia um conta-giros com faixa vermelha começando em 10 mil rpm.
Muitos motoristas alemães foram ultrapassados por esse carro sem saber que seu motor estaria correndo na próxima temporada da Fórmula 1. O MP4/2 equipado com o V6 Tag Porsche foi campeão em 1984 e em 1985, na temporada de 1986 ele ficou na segunda posição. Foi com esse carro que Alain Prost conseguiu sua primeira vitória no campeonato.
Em 2018 a Lanzante Limited, uma empresa britânica especializada em restaurar clássicos, criar modelos especiais e versões de corrida, reviveu o 911 com motor de Fórmula 1. Ela conseguiu comprar da McLaren 11 motores Tag Porsche que foram usados em corridas.
O projeto foi feito com apoio da Cosworth e cada unidade foi feita de forma personalizada. Esses 911 Tag Turbo pesam apenas 920 kg e o motor V6 1.5 turbo produz 625 cv a 10.250 rpm.
Esse motor gera menos potência que os mais de 1.000 cv da especificação de corrida, mas isso foi feito para o carro ficar mais controlável nas ruas. Cada unidade possui uma história, a marrom das fotos teve seu motor usado por Niki Lauda no GP da França de 1985.
A Alfa Romeo sempre teve uma participação intermitente na Fórmula 1. Nos anos 80 ela forneceu motores turbo para algumas equipes, em 1985 ela iniciou o projeto de um V10 aspirado que seria usado pela Ligier.
O projeto foi cancelado e a Alfa Romeo buscou um novo uso para esse V10 em uma categoria monomarca, a Procar. O carro usa um chassi de motor central com suspensão pushrod. A bolha que cobre tudo isso tem o desenho do sedã 164.
Esse carro pesa apenas 750 kg. O motor V10 usado nele era acertado para entregar 623 cv a 13 mil rpm, suficientes para levá-lo a uma velocidade máxima de 340 km/h.
A ideia da categoria era de ser uma série de suporte da Fórmula 1, no mesmo dia dos Grande Prêmios. Essa versão da Procar também foi cancelada e a Alfa Romeo 164 com motor V10 central nunca correu. Apenas uma unidade foi feita.
Existe uma disputa entre a Renault e a Chrysler para decidir quem fez a primeira minivan da história. Os franceses criaram a Espace, que era produzida em uma unidade da Matra.
A Renault e a Matra queriam comemorar os 10 anos dessa parceria e da Espace em grande estilo. Foi assim que criaram a Espace F1, apresentada em 1995.
Esse conceito era funcional e foi pilotado por David Coulthard, que levou Frank Williams de passageiro. O chassi era todo em fibra de carbono e inspirado nos carros de Fórmula 1, o motor V10 3.5 ficava montado no centro e exposto entre dois bancos concha para os passageiros traseiros.
O motor era mais potente que o usado pelo Williams FW15C, na Espace F1 rendia 800 cv. O desempenho foi aferido, com aceleração de zero a 100 km/h em 2,8 segundos, zero a 200 km/h em 6,9 s e máxima de 312 km/h.
A única unidade dessa minivan com motor de Fórmula 1 está exposta no museu da Matra, na França. Quem quiser dirigir uma vai precisar encontrar um PlayStation antigo e um CD de Gran Turismo 2, o carro foi imortalizado no simulador.
A Ferrari fez um grande acerto com a F40: foi o carro mais rápido do mundo e o último projeto supervisionado pelo fundador da marca, Enzo Ferrari. Um sucessor para esse modelo era um grande desafio.
A ideia que tiveram foi voltar às origens da marca. A Ferrari começou como uma equipe de corridas, que fazia carros de rua para financiar o esporte e muitos deles eram carros de grand prix amansados.
O projeto da F50 foi de criar um carro de Fórmula 1 para as ruas, usando componentes e conceitos dos monopostos. O coração disso tudo era o motor V12, que foi usado de 1989 a 1994 nas pistas.
O Tipo 036 de Fórmula 1 era um 3.5 de 60 válvulas (5 por cilindro) que chegava a 689 cv a 12.750 rpm. Motores de corrida têm marcha lenta muito alta e não possuem torque em baixa rotação, então esse V12 foi modificado para poder ser usado em um carro de rua.
A versão usada na F50 teve o deslocamento aumentado para 4,7 litros e girava bem menos, o pico de potência era a 8 mil rpm e a marcha lenta era a de um carro normal. O coletor de admissão variável também ajudou nesse comportamento mais civilizado. O resultado final foi de 519 cv e 48 kgfm.
Esse V12 era uma peça estrutural do carro e ficava aparafusado diretamente ao chassi, sem coxins para atenuar as vibrações. Todos os movimentos do motor eram passados diretamente aos ocupantes pela carroceria de fibra de carbono.
Apenas 349 unidades foram feitas. Também produziram mais três unidades da versão GT, feita para as pistas e pesando apenas 909 kg.
A Porsche é uma das marcas mais tradicionais no automobilismo e já foi campeã em diversas categorias — até no Rally Paris-Dakar. Mas ela nunca chegou a ter equipe na Fórmula 1, ficou apenas no fornecimento de motores.
Ela criou um V10 para ser usado na equipe Footwork na temporada de 1992, que acabou sendo engavetado. O V10 voltou no fina da década, dessa vez com deslocamento maior e para ser usado no campeonato de endurance pelo LMP2000.
Esse projeto também foi cancelado, antes mesmo de ser mostrado. A Porsche só foi revelar o modelo em 2018 no Goodwood Festival of Speed, em 2024 ele foi restaurado pelo museu da marca e pilotado por Allan McNish.
O motivo do cancelamento foi parte do acordo entre a Porsche e o Grupo Volkswagen para a produção do SUV Cayenne. Esse protótipo iria competir diretamente com carros da Audi, que viria a dominar essa categoria nos próximos anos.
Para não perder o motor V10 praticamente pronto, a Porsche decidiu colocá-lo em um carro de rua. Assim como a Ferrari fez na F50, o motor nascido na Fórmula 1 foi para o topo da gama e com tiragem limitada.
No Porsche Carrera GT o V10 ficou com deslocamento maior, passou a ser um 5.7. A potência máxima de 612 cv era atingida a 8 mil rpm e o câmbio era manual de seis marchas.
Esse motor nasceu para um carro de Fórmula 1 nos início dos anos 90, deveria competir em LeMans em 2000 e só entrou em produção em um carro de rua em 2003. Após 1.270 unidades ele saiu de linha em 2007, sendo reconhecido como um dos melhores motores já feitos.
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