Discussão sobre carro popular transformou Brasil em Torre de Babel
Discussão sobre um futuro carro popular esbarra em interesses distintos de fabricantes, distribuidores e o governo
Discussão sobre um futuro carro popular esbarra em interesses distintos de fabricantes, distribuidores e o governo
Segundo a Wikipedia, “a narrativa da Torre de Babel é o mito fundador que explica a razão de existirem diferentes línguas”. Na Bíblia, o nome Babel não é citado, mas sim a história de que Deus, vendo a construção de uma nova cidade com uma enorme torre para alcançar o céu, misturou a fala dos homens para que não se entendessem mais e os espalhou pelo mundo. De alguma forma é o que acontece na discussão sobre o novo carro popular no Brasil.
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Virou uma Babel: cada um fala uma coisa e as ideias colocadas à mesa simplesmente não se complementam. A questão é que setores do negócio automotivo querem “fazer o L” na forma de convencer o governo Lula a apoiar um novo programa de carros populares.
Seria igual ao dos anos 1990? Para alguns, sim. Para outros, não. Isso porque não há uma unidade e cada um fala uma língua diferente, de acordo com suas necessidades e interesses. O interesse maior, que é devolver ao brasileiro da classe média a possibilidade de comprar um carro zero km, seja ele popular ou de entrada, nem sempre é considerado.
De um lado, a Anfavea (associação dos fabricantes) está com as mãos amarradas, pois uma parte de seus associados quer uma coisa e outra parte quer outra coisa. Por causa disso, uma questão totalmente diferente do tema “carro popular”, que é a descarbonização, acaba sendo colocada no mesmo balaio.
De outro lado, a Fenabrave (associação dos distribuidores) têm interesse em colocar nas ruas um novo carro popular, mas não necessariamente está comprometida com a urgência climática. Os compromissos das montadoras nem sempre são os mesmos das concessionárias, que querem vender. Quanto mais, melhor.
Mas a indústria não quer mais vender qualquer tipo de carro. Carros populares não deixam boas margens de lucro e, dependendo das exigências de equipamentos, podem mesmo dar prejuízo. No mundo de 2023, que investe alucinadamente na criação de fábricas de baterias e em fábricas de chips eletrônicos, além de criar novos modelos numa velocidade nunca vista, prejuízo é uma palavra proibida.
Há também o interesse do governo, que pretende aquecer a economia, tem intenção de renovar a frota, tirando das ruas veículos muito velhos (ideia que agrada à Anfavea) e desde 2023 está comprometido com a descarbonização global. No caso do Brasil, o compromisso é reduzir as emissões em 50% até 2030 e em 100% até 2050.
Porém, carro ecológico não combina com carro popular na maioria dos casos. Enquanto a Fenabrave (e talvez os próprios consumidores) sonham com modelos de entrada abaixo de R$ 50.000, junto com a redução das taxas de juros por parte do Banco Central (que boicota o governo ao deixá-las nas alturas), alguns fabricantes veem carros completamente diferentes.
A indústria não quer dar marcha à ré. Por isso, a Stellantis considera que já tem pronto o novo carro popular do Século 21. Ele se chama Citroën Ami. Trata-se de um pequeno carro totalmente elétrico, com apenas duas portas, feito de fibra, com capacidade para transportar duas pessoas e que não passa de 45 km/h. Por isso, não precisa ter tantos itens eletrônicos de segurança, como os carros subcompactos e compactos.
Segundo Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, o Citroën Ami não é tão seguro quanto um Fiat Mobi ou um Renault Kwid, mas roda em baixas velocidades e é mais seguro do que uma moto.
Na visão da Stellantis esse é o verdadeiro carro popular, que custa 7.000 euros na Europa e custaria entre R$ 35.000 e R$ 40.000 no Brasil, dependendo dos impostos aplicados a ele. Tem a vantagem de ser totalmente limpo e de ocupar pouco espaço no trânsito. Seria perfeito para grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador e Recife, por exemplo.
Mas só a Renault tem um veículo mais ou menos nesse padrão: o Twizy. A diferença é que o Renault Twizy leva uma pessoa na frente e outra atrás, sem compartimento de bagagem, o que o torna pouco competitivo perante o Citroën Ami. No Japão também é possível encontrar projetos de minicarros. Mas, para serem populares, qualquer carro tem que ser produzido no Brasil.
Portanto, a ideia de que o Citroën Ami será o novo carro popular só pode estar do chefão da Stellantis. É muito mais provável que haja uma nova legislação que permita modificar o Fiat Mobi ou mesmo relançar o Fiat Uno com outro conceito. Afinal, o brasileiro quer um carro que possa usar para ir na padaria do bairro e também à praia no fim de semana.
Porém, sem considerar que as montadoras já viraram a chave do carro popular e estão focadas na descarbonização, que pode ser com carros 100% elétricos ou com carros híbridos a etanol, várias ideias surgem. E junto com elas também várias críticas do que pode ser uma nova “jabuticaba brasileira” e com “retrocesso”, como comentou o jornalista Pedro Kutney em sua coluna Observatório Automotivo.
O Brasil precisa de um novo carro popular? Talvez. O governo vai ajudar na criação de um carro popular atrasado, como foi a volta do Volkswagen Fusca nos anos 1990? Provavelmente não. Há chances de existir um carro popular 100% elétrico? A curto prazo, não. E um carro popular híbrido a etanol? Também é difícil que seja popular, pois as montadoras interessadas (Volkswagen e Stellantis) falam em começar com híbridos leves a partir de 2026.
E assim a discussão sobre um novo carro popular transformou o Brasil numa Torre de Babel. Todo mundo tem uma ideia, mas ninguém entende e tampouco está interessado em ouvir a ideia do outro. Talvez esteja na hora de admitir que o carro popular é mesmo uma ideia do século 20 e que o novo mundo pede veículos ecológicos acessíveis, não necessariamente automóveis no padrão que vimos nas últimas décadas.
É justo que o governo crie um programa de carro popular que dará vantagem inicial só para o Citroën Ami? Não. Mas também não é justo que a Stellantis, que criou esta ótima ideia de veículo urbano, não consiga homologar o Citroën Ami só porque o conceito de carro popular é o mesmo que matou, décadas atrás, o primeiro carro popular nacional, o Romi-Isetta.
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Vai ser difícil o tal carro popular voltar, mais fácil aumentar o poder de compra da população do que baixar o valor dos veículos, mas isso é pra daqui 2 ou 3 anos, por enquanto tem que arrumar a bagunça que o ex sentador na cadeira de presidente fez ..
Infelizmente o autor parece ter algum tipo de viés ideológico ou político, pois acredita na estupidez que o BC tenta boicotar o governo com uma política de juros altos. O BC está salvando a população de viver em um cenário de inflação galopante, como vive os países dos amigos do presidente. O governo quer gastar demais, não quer fazer o dever de casa de enxugar a máquina administrativa e insiste em culpar o BC, que é presidido por alguém que ele não consegue comandar. Se a nossa economia estivesse em condições de redução de juros, nos estaríamos com preços baixos nos mercados, nas lojas e na economia em geral. O que encontramos hoje são pressões inflacionárias que não permitem ao BC afrouxar a sua política de juros para manter a inflação dentro da meta.
Carro popular Bom para a indústria séria aquele que tivesse só as rodas, e os bancos e o motor. Motor esse que não necessitasse de eletrônica e catalisador. Que tal voltar ao carburador? O que precisamos é aumentar os ganhos nos salários, o salário no Brasil é uma vergonha, pois nossos preços está cada vez mais próximos aos dos países com economia pujante e de mão de obra altamente qualificada. Sem educação nunca seremos uma nação forte.
Na minha humilde opinião o Brasil não precisa de um carro elétrico popular, pois é o único pais do mundo que tem uma segunda fonte de combustível bem desenvolvida e limpa que é o etanol, seria sim um retrocesso o Brasil focar em carro elétrico agora, uma possível produção somente de carro elétrico no Brasil seria inviável, pois seria somente para atender a um pequeno mercado interno, nunca exportaremos este produto, não temos como competir com as nações de primeiro mundo, por interesses estratégicos destes países, ou por retaliações dos consumidores a produtos brasileiros, quem está destruindo o mercado automotivo brasileiro são as próprias montadoras que querem ter um lucro exorbitante com produtos populares, aprenderam a lucrar mais produzindo menos, isso é culpa do próprio país que não investiu para ter as próprias montadoras agora estamos nas mãos dessas multinacionais mesquinhas que não se importam com a sociedade brasileira como demonstrado pela fracassada Ford, ao meu ver o governo deveria abrir o mercado para carros populares de montadoras chinesas que queiram exportar direto da China ou até mesmo produzir aqui e atender um mercado que as montadoras atuais abandonaram.
Todos carros de entrada das marcas são populares. Baixar margem de lucro e oferecer financiamento com taxa menor. Livre mercado liberais dizem. Agora querem que governo de subsídio? Que conveniente.
etanol e carroças vão terceiros pro infernos
eletrico salvam carros populares
A tendência da frota cê carro a cada ano que avançarmos haverá aumento gradativo de carros velhos mas com preço valorizado
Por se tratar de uma reportagem sobre carro popular brasileiro, poderiam ter usado uma imagem de um fusca brasileiro, com todos seus atrasos em relação ao fusca da imagem.
Dá a impressão que o editor tem preguiça de fazer uma simples análise da imagem antes de publicar.