Carro não pode rodar com tanque na reserva! Quem te disse?

Muitos palpiteiros sem conhecimentos técnicos ficam espalhando desinformação sobre o uso do automóvel por aí

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Com o preço da gasolina atual, não é raro o motorista andar na reserva (Foto: Shutterstock)
Por Boris Feldman
Publicado em 05/04/2025 às 09h00

Aumenta a quantidade de influencers (palpiteiros) num setor que exige conhecimento técnico. E daí, uma avalanche de palpites errados.

Listei 10 palpites mais absurdos que já vi por aí.

1. Tanque na reserva queima a bomba

Não pode rodar com menos de ¼ de combustível no tanque”. Alguém leu isso no manual? Ou ouviu isso de alguma concessionária ou fábrica? Mas os palpiteiros (que estão tomando conta do mercado) insistem em levar Fake News, quase sempre alarmistas. E ainda explicam “tecnicamente”: “a bomba de combustível é refrigerada pelo líquido em sua volta. Se ele estiver abaixo, ela pode esquentar e até se queimar”.

Nada disso: o que refrigera a bomba é o combustível que passa internamente, aspirado por ela mesma. O que deve se evitar é deixar o tanque quase vazio para não se aspirar as últimas gotas com sujeirinhas em seu fundo. Mesmo assim, existe um filtro que atenua o problema.

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2. Pressão do pneu

Aí os palpiteiros se dividem. Alguns sugerem aumentar a pressão recomendada pelo manual para reduzir o consumo. Outros, com  pressão inferior para deixar o carro mais “macio”. Os primeiros não estão totalmente errados, pois maior pressão reduz atrito e também o consumo. Mas se esquecem de que ela induz ao desgaste irregular e mais rápido do pneu, que pode acabar custando mais que a economia de combustível.

Além de deixar o carro mais “duro” e aumentar o esforço de componentes da suspensão. Já a pressão inferior à recomendada também é danosa. Pode até deixar o carro mais “macio”, porém também provoca um desgaste maior dos pneus e ainda compromete a estabilidade e a frenagem do automóvel.

3. Três cilindros

motor bmw 3 cilindros portal

Sopa no mel para os chatos de plantão. “Onde já se viu reduzir o numero de cilindros?” é o que perguntam com insistência, tentando provar que o motor vai perder durabilidade. Ignoram toda a engenharia aplicada pela fábrica, pois o que define sua resistência é o projeto, são os materiais utilizados, os processos de manufatura, os testes de dinamômetro, etc.

Os tricilíndricos já existem no mundo inteiro, em quase todas as marcas e nunca sinalizaram durar menos que os de quatro (ou mais) cilindros.

4. Etanol

Outro prato cheio para eles. “O álcool reduz a vida útil do motor, corrói seus componentes, suja os bicos, tem menor poder energético e exige maior taxa de compressão” e mais um sem fim de bobagens. Esquecendo-se de que convivemos muitos anos com motores a álcool em todos os automóveis, na década de 80 (Pró-Álcool). Sem nenhum dos problemas de que são acusados hoje.

Pelo contrário, são mais limpos, possuem apenas 1/3 do carbono contido na gasolina, octanagem mais elevada, emitem menos gases poluentes e a cana ainda absorve CO2 ao crescer no campo.

5. Carro automático pega no tranco

CARRO AUTOMÁTICO TRANSIMISSÃO AUTOMÁTICO
CARRO AUTOMÁTICO NÃO PEGA NO TRANCO DE JEITO NENHUM

Só mesmo a falta de conhecimento mínimo de mecânica para uma afirmação inconsequente como esta. No câmbio automático (convencional), o conversor de torque (que substitui a embreagem) fica imóvel com o motor desligado. Então não adianta “embalar o carro a 60km/h em Neutro e jogar Drive” pois câmbio e motor não serão acoplados.

6. “Banguela”

Descer de ponto morto economiza combustível”. É o contrário, em todos os carros modernos, com injeção ao invés de carburador. Pois, engrenado, as rodas movimentam o motor sem alimentação. De ponto- morto, ele precisa receber combustível para continuar funcionando.

7. Válvula termostática

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Foto: AutoPapo | Ernani Abrahão

O carro entra fervendo na oficina. E o mecânico, formado na UFQ (Universidade Fundo do Quintal), joga fora a válvula. “Só é necessária em países frios de Primeiro Mundo…”. E o carro sai “perfeito” da oficina, sem voltar a ferver. O problema estava mesmo na válvula emperrada, mas ela deveria ter sido substituída, para evitar de o motor trabalhar em baixas temperaturas. Depois, o consumo aumenta e o dono do carro não sabe porquê….

8. Desempenho

Os palpiteiros discutem: qual gasolina aumenta a potência? A aditivada ou a Premium? A rigor, nenhuma das duas! Só a Premium, no caso de carros com alta taxa de compressão (importados sofisticados, esportivos, de luxo, etc). Em motores normais, usar a Premium é jogar dinheiro no lixo. E a aditivada, embora a propaganda de todas insinue o contrário, só mantem o motor limpo.

9. Flex vicia?

volks total flex abastecimento portal
A foto ‘clássica’ do carro flex…

Claro que não, embora a internet (porta-voz oficinal das fake news) insista no contrário. Pode-se usar só etanol ou só gasolina durante meses, sem problema. Na troca para o outro, o sistema de injeção recebe sinal de um sensor acusando qual deles está no tanque e ajusta o motor.

10. Posto bandeira branca

Não acredite nesta balela de que postos sem bandeira fornecem combustível adulterado. A qualidade do que sai das bombas não está na marca, mas na honestidade do posto. Corre-se o mesmo risco de receber no tanque gasolina com metanol (álcool tóxico e proibido) num Shell, Ipiranga como num outro sem bandeira.

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9 Comentários
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Polvo 7 de abril de 2025

Sobre o etanol, acho que a grande diferença da década de 80 para os dias de hoje, é que não havia tanta malandragem na adulteração, o combustível era mais confiável. Realmente, não lembro de nenhum carro “estragar” naquela época por causa do combustível. O que estragava e muito era o sistema de escape, por conta do vapor, começava abrir um monte de buracos. Lembro que o meu pai trocava o escapamento todo ano por conta da ferrugem causada pelo álcool.

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Polvo 7 de abril de 2025

Até onde eu sei, o problema de se andar sempre na reserva é a bomba ficar puxando sujeira do fundo do tanque constantemente, que pode levar a um entupimento do pré-filtro e superaquecimento da bomba, causando sua queima.

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Georges 6 de abril de 2025

Motor 3 cilindros apresenta maior vibração. Álcool é bom para seu carro, agora tente convencer quem tem carro importado cujos técnicos projetam todo o sistema sem “tropicalizar” para o submundo.

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Santiago 6 de abril de 2025

Então…alguns conceitos questionados pela matéria, fazem sentido demais para serem considerados meros palpites.
– Não é de hoje que recomenda-se reabastecer já em 1/4 do tanque, ou reabastecer o quanto antes quando acender a luz da reserva. Claro que rodar uma vez ou outra (excepcionalmente) na reserva não vai acarretar problema, desde que isso não seja um hábito frequente.
– Já o motor três cilindros pode até se adequar melhor em carros subcompactos, aonde a relação peso/potência dispensa o uso do ainda discutível sistema turbo. Porém não com aquela m…. de correia banhada em óleo! No mais, o quatro cilindros ainda continua mais promissor nos demais modelos.
– Quanto ao sistema Flex, independente do que afirmem a mídia e até as montadoras, é recomendável sim alternar periodicamente os combustíveis. Eu mesmo faço isso a cada 2 mil km! Não são poucos os relatos de quem sempre usou longamente apenas um dos dois combustíveis, e viu o seu carro Flex “empacar” ao resolver reabastecê-lo com o outro combustível.

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Roberto 6 de abril de 2025

Sim, algumas marcas recomendam uma observação quando da alternância entre gasolina e etanol.
Os manuais falam da importância de nunca completar o tanque trocando de combustível para logo depois desligar o carro na garagem, como no fim de uma viagem.
É muito importante que sempre que alternar de combustível, rodar pelo menos uns 10-15 km com o novo combustível, antes de desligar. Já vi gente passando apuros por falta dessa atenção. O problema é mais sentido quando se alterna da gasolina para o etanol.
Portanto, se completar o tanque trocando para o etanol, rode pelo menos 10-15 km antes de desligar. Fazendo isso não terá problemas na manhã seguinte.
Para evitar aborrecimentos, quando alterno de combustível, nunca faço quando o tanque está vazio. Faço quando o tanque ainda está +/- pelo meio tanque.

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Leovano 5 de abril de 2025

Eu poderia corrigir outros erros neste texto, mas vamos ficar nesse. O que é lamentável é o autor dizer que existem muitos palpiteiros por aí, quando ele mesmo cria fake news.

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Joao 7 de abril de 2025

Pela sua lógica, todos os carros são perfeitos. NÃO há engenheiro que erre! Eu não sei se você quer arrecadar discussão, ou se isso é uma matéria paga, mas algumas coisas ditas aí, estão fora de contexto, e já outras, não passa de equívocos, por exemplo: Álcool aumenta sim, desgaste do motor. Ele concentra mais água, atrai mais ferrugem, não tem lubrificação alguma. É a mesma coisa de querer comparar um motor diesel, com um a gasolina. Mas a pior parte mesmo, é querer qualificar carros com 3 cilindros. É obvio que dura menos, e não é porque tem esse kotor lá fora, que isso vai mudar. A diferença que você não enxerga, é que em países decentes, um carro 3 cilindros tem preço inferior, mas já aqui, onde precisa se tornar rei para ger um carro,.fazer a retifica de um 3 cilindros custa praticamente o mesmo que um 4 cilindros. Em outras palavras, acorda! Aqui é Brasil, país onde as pessoas comum tem que fazer adaptações e se virar para manter um carro. Mas você não é uma pessoa comum, não é mesmo?

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Leovano 5 de abril de 2025

“Carro não pode rodar com tanque na reserva! Quem te disse?”
Eu digo, e com conhecimento de causa.
Quem resfria a bomba de combustível é o próprio combustível. E a bomba gera muito calor. Começamos por aqui.
Dito isto, vamos lá… a bomba cria uma vazão que é maior do que a necessária do sistema, para manter a pressurização. Em razão disso, parte do combustível retorna ao tanque, é não é pouca coisa. Esse combustível que foi usado para resfriar a bomba ganhou calor, e assim voltou mais quente, e quanto menor a quantidade de combustível no tanque, maior a temperatura que ele vai ganhando. Dependendo da situação, a temperatura pode ser suficiente para prejudicar a bomba ou pelo menos diminuir a sua vida útil pela deformação do conjunto. Isso de chama “heat looping” no meio automobilístico, e é fato, não invenção do povo ou de sites mal informados.

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Renato Bustamante 5 de abril de 2025

Novamente esses assuntos? Tá faltando ideia para escrever coisas novas?
E novamente algumas bobagens bem grandes. Meu bom amigo, na boa, você precisa se atualizar ou se aposentar.

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