Argentina fora do Mercosul: como impactaria o mercado de carros?
Javier Milei disse que poderia sair do Mercosul para fechar acordo com Trump, manobra que encareceria e tiraria muitos carros do mercado
Javier Milei disse que poderia sair do Mercosul para fechar acordo com Trump, manobra que encareceria e tiraria muitos carros do mercado
O presidente da Argentina, Javier Milei, tem ameaçado tirar seu país do Mercosul. O bloco econômico que integra também Brasil, Paraguai, Bolívia e Uruguai (a Venezuela está suspensa desde 2016) concede isenções tributárias e facilidades para circulação de produtos e cidadãos entre os países.
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Produtos de um país membro têm caráter de nacional entre as nações integrantes. Da mesma forma que os cidadãos podem entrar nos países sem a necessidade de passaporte. Inclusive as placas dos automóveis utilizam um padrão comum aos países membros, como já ocorre na Europa.
Mas desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, o argentino manifestou que poderia deixar o bloco. O argumento seria a formalização de um acordo com os Estados Unidos. Logo em seguida, voltou atrás, mas não descarta pular fora do barco para colar o Tio Sam, caso seu amigo de primeira hora ofereça uma boa parceria.
Tudo isso gerou preocupações em vários setores da economia. Inclusive entre os fabricantes de automóveis. Hoje a Argentina é o principal comprador de carros do Brasil, assim como somos os principais clientes dos hermanos.
Executivos se esquivam do assunto para evitar possíveis dissabores e reações com governos. Mas fato é que as marcas estão acompanhando as alterações de humor do chefe da Casa Rosada.
Com uma possível saída da Argentina do bloco, produtos vindos de lá teriam que pagar tarifas de importação, o que tornariam algumas operações inviáveis. No caso dos automóveis, ficaria mais caro para argentinos e brasileiros comprarem modelos fabricados por seus vizinhos.
A taxa de importação que é 0% saltaria para 35%. E mais caros, muitos deles passariam a ser proibitivos e fatalmente sairiam de linha por aqui. Os efeitos gerariam impactos nas exportações brasileiras, mas seria devastador para as exportações dos hermanos, que já amargaram queda de produção na ordem de 17,1% em 2024, no comparativo com 2023. Confira quais marcas e modelos ficariam mais caros para os brasileiros comprarem.
A Fiat, integrante da Stellantis, tem uma linha de montagem na cidade de Córdoba. De lá sai o sedã Cronos, que é campeão de produção justamente pelas exportações para o Brasil.
Caso Milei rompa com o Mercosul, o preço do sedã subiria a ponto de tornar o modelo incapaz de concorrer no mercado. Para se ter uma ideia, o modelo, em sua versão de entrada, Drive 1.0, parte R$ 99 mil. Com a adição do tributo de importação (R$ 34.640), o sedã não sairia por menos de R$ 133.650.
Ou seja, custaria mais caro que o Pulse T200 Hybrid (R$ 130 mil). A Fiat poderia transferir a produção para Betim, mas resta saber se valeria a pena, pois a planta mineira tem operado praticamente no limite.
Mas outro problema além do Cronos é a Titano. O modelo será produzido em Córdoba. A transferência para da planta uruguaia para a linha argentina ocorrerá ainda este ano, com direito a novo motor (2.2 de 200 cv) e novos equipamentos.
A mudança exigiu um investimento de US$ 385 milhões (R$ 2,2 bilhões) aos cofres da Stellantis. E o investimento demoraria a ser amortizado, já que o Brasil é o principal mercado da picape.
Hoje, a Titano parte de R$ 220 mil, na versão Endurance. Com a “bola” do imposto (R$ 77 mil), seu preço inicial saltaria para R$ 297 mil. Já a versão Ranch, teria preço inicial de R$ 351 mil. Ou seja, valores que aposentariam a caminhonete.
Se para a Fiat uma possível saída da Argentina do Mercosul não é animadora, para a Ford é simplesmente desesperadora. Isso porque o principal produto da marca é produzido lá, a Ranger. A picape montada em General Pacheco, na região metropolitana de Buenos Aires emplacou quase 32 mil unidades por aqui em 2024, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O Brasil é o principal destino da picape portenha na região e absorve quase metade do que é feito por lá. A versão mais barata da Ranger (XL 2.0) parte dos mesmos R$ 220 mil da Titano. Com o acréscimo da taxa de importação, ela passaria a custar R$ 297 mil. Já a topo de linha (Limited 3.0) saltaria de R$ 355 mil para R$ 479.250.
Ou seja, custaria quase o mesmo que é cobrado pela poderosa Ranger Raptor (R$ 490 mil), que vem da Tailândia com motor V6 de quase 400 cv, suspensão de alta performance e outros apetrechos. Com estes preços, o desempenho da Ranger despencaria drasticamente no Brasil.
A General Motors transferiu parte da produção do Tracker para a planta de Rosário em 2022. O plano era abrir espaço na linha para a produção da Chevrolet Montana. O problema é que a GM superestimou a performance da picape, que em 2024, vendeu praticamente o mesmo que a S10, que é muito mais cara.
E com uma possível canetada de Javier Milei, dando adeus ao Mercosul, a GM fatalmente teria que ampliar a produção local do Tracker, pois a importação se tornaria proibitiva. Ao mesmo tempo, poderia comprometer o volume da Montana.
A Mercedes-Benz importa da Argentina o comercial leve Sprinter, nas versões Furgão e Chassi Cabine. Apesar de ser um produto em que o preço é negociado no momento da compra, a adição da taxa de importação praticamente tiraria o modelo do mercado, uma vez que a van alemã já perdeu terreno para a líder Renault Master e Fiat Ducato.
A situação da unidade da Nissan, em Santa Isabel (no mesmo complexo da fábrica da Renault), é periclitante. Segundo a imprensa argentina, a fábrica está com produção paralisada, pois seus fornecedores estão parados, inclusive a empresa que fabrica o chassi da picape.
E de acordo com o portal Motor1 Argentina, fornecedores também afirmam que o desenvolvimento da nova geração da picape foi cancelado.
Por aqui, a Frontier é uma coadjuvante no mercado. Em 2024, o modelo licenciou apenas 9.258 unidades, volume que corresponde a um quinto do desempenho da líder Toyota Hilux. Em janeiro, segundo a Fenabrave, foram apenas 748 unidades. Só a Amarok vendeu menos.
A Peugeot custou a cair nas graças dos brasileiros, graças aos modelos 208 e 2008 equipados com motores Fiat 1.0 turbo. Mas o namoro com o consumidor pode acabar se Milei levar suas ameaças ao pé da letra.
O 208 vendeu quase 18 mil unidades no ano passado, muito em função do preço agressivo na versão de entrada. Mas com acréscimo de 35%, só quem é muito fã da marca iria postar no hatch, que passaria a custar R$ 110 mil.
E olha que estamos falando do 208 de entrada, com preço promocional atual de R$ 82 mil. E quando saltamos para o SUV 2008, o preço mínimo do modelo seria de R$ 194,4 mil. Impossível de concorrer com as opções de acesso do segmento mais efervescente do mercado.
A Renault brasileira talvez seria a marca que menos seria impactada pelas canetadas de Javier Milei. Hoje ela importa apenas o Kangoo, que chegou no fim do ano passado por R$ 122.400. O modelo saltaria para R$ 165.240. Ou seja, com o preço atual já é difícil brigar com o Fiat Fiorino se tornaria impossível. Certamente o modelo seria descontinuado por aqui.
Por outro lado, a filial brasileira exporta o Kwid para lá. Em fora do Mercosul, as tarifas aplicadas para entrada mercado argentino poderiam tornar o carrinho ainda mais caro para os hermanos e derrubar suas vendas.
Uma das marcas que mais sentiria o impacto de um possível desligamento da Argentina com o bloco econômico seria a Toyota. A dupla Hilux e SW4 vendeu quase 68 mil unidades em 2024, conforme o boletim da Fenabrave.
Hoje a Hilux é o principal produto da marca por aqui, mesmo sendo um dos mais caros. E mesmo com todo prestígio da picape e o SUV no mercado brasileiro, uma escalada de preços em decorrência do tributo de importação derrubaria as vendas da dupla.
Hoje a Hilux parte de R$ 235.590, na versão de entrada com cabine simples. Com o imposto (R$ 82.456), seu preço inicial seria de R$ 318 mil. E para ficar pior, a versão topo de linha, SRX Plus, saltaria de R$ 346.290 para R$ 467,5 mil. Já o SUV SW4 chegaria a R$ 603 mil em sua versão topo de linha Diamond
A Volkswagen é vizinha de cerca da Ford, em General Pacheco. A filial portenha envia para o Brasil os modelos Amarok e Taos. A dupla tem performance modesta e a taxação certamente ceifará as operações da dupla por aqui.
Isso porque a Amarok é uma picape velha e muito cara. Ela parte de R$ 313 mil e passaria a custar R$ 422,5 mil com o acréscimo de R$ 109 mil de imposto.
Já o Taos, que tem valores a partir de R$ 195 mil, não sairia por menos de R$ 263 mil. Um valor que seria difícil para o SUV concorrer com os líderes Compass e Corolla Cross, que lideram entre os médios.
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Acho difícil acontecer, mas se acontecer não vejo alarde no tocante aos automóveis. Toyota irá perder mercado, mas ainda assim, aposto que continuará a vender bem pelo preço majorado. Demais, Amarok e Cronos estão fazendo hora extra por aqui, só vêm pois vende bem na Argentina. Frontier male male a fábrica estão fabricando. 208 poderia ser facilmente remanejado para a unidade que fabrica o C3. A única que terá um impacto significativo é a Ford, esse realmente vai sentir o impacto.