Impossível barrar a modernidade dos produtos chineses até porque o brasileiro já provou não ter nenhuma fidelidade
Os chineses estão atacando em todo o mundo, com artilharia pesada. E vencendo as primeiras batalhas. Mas perdendo a guerra doméstica, entre eles mesmos, pois é impossível confrontar a lei da oferta e da procura. Com mercado de 25 milhões de unidades por ano, capacidade produtiva de 50 milhões, a ociosidade fabril leva os fabricantes ao desespero. Os descontos já chegaram a 35% do preço de tabela. Das 120 marcas, a previsão é que vão sobrar cerca de 20. E o céu é negro também para os fornecedores de peças, pois as fábricas pedem 180 dias de prazo para liquidar as faturas.
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Um dos canais para solucionar o problema em casa é mirar outros mercados. EUA já barraram os chineses e a Europa estabeleceu tarifas elevadíssimas alegando concorrência prejudicial com preços artificialmente baixos graças a subsídios governamentais. O Brasil está reduzindo os benefícios que beneficiavam as importações dos eletrificados, mas ainda é um bom mercado para as chinesas.

Tanto que, só nesta semana, mais duas desembarcaram: uma na segunda (Jetour), outra na terça-feira (MG). Já somaram? Agora são quatorze, pois já estavam: Caoa com Chery e Changan, BYD, GWM, Omoda, Jaecoo, GAC, Zeekr, Leapmotor, Xpeng, Geely, JAC, Jetour, MG. E outras camufladas de nacionais pela Ford (Territory) e GM (Spark). E ainda mais duas ou três anunciadas.
Vai ter mercado para tanta chinesa? Para o consumidor, é sopa no mel, pois vários modelos nacionais tiveram seus preços reduzidos. Prova de que a margem de rentabilidade estava muito elevada, obrigando fábricas a se despedir de sua zona de conforto.
Mas sua associação, a Anfavea, está preocupada e batalhando para reduzir a invasão. Como explicar que já tem compacto chinês elétrico custando o mesmo que um equivalente nacional à combustão? Mesmo pagando imposto de importação e o transporte? O cliente não está preocupado com a sobrevivência da nossa indústria, mas com a tecnologia embutida em seu próximo carro.

Não se trava a modernidade e as fábricas instaladas no Brasil sabem que, em primeiro lugar, seu cliente não tem a menor fidelidade por marca nenhuma. Prova disso foi a rapidez com que BYD e GWM tomaram o mercado de assalto. Em segundo lugar, suas concessionárias já perceberam que só conseguem manter seu volume de vendas se tiverem também as chinesas no show room. Pois nosso mercado de automóveis não aumenta: o tamanho da pizza é o mesmo. Só não para de crescer o número de fatias.
Nossas marcas, espertas, resolveram se associar ao inimigo ao invés de combatê-lo. O sucesso vem da China? Então a Ford traz de lá, prontinho, o Territory. O Chevrolet Spark vem também. A Renault já vendeu 26,5% de sua fábrica no Paraná para a Geely. Stellantis adquiriu na China o controle da Leapmotor. A Volkswagen fez o mesmo com a XPeng. A Caoa, não satisfeita com a Chery, traz também a Changan. Outras vão utilizar ociosidade de plantas para nacionalizarem seus modelos. A ex-fábrica do jipe Troller vai montar o Spark para a GM. E outra chinesa está assinando contrato com ela. Modelos da GAC serão produzidos na fábrica da Mitsubishi (HPE) em Catalão (GO).
Uma invasão desse porte exige cautela do governo brasileiro, que sofre pressão de ambos os lados e está diante de uma sinuca de bico para regular nosso mercado veicular: barrar o futuro com obstáculos para a importação dos eletrificados, ou dar fôlego à nossa indústria para preservar empregos?
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Se as marcas tradicionais (com montadoras aqui) desinflarem os seus preços, já facilitarão as coisas pra elas mesmas. O Governo não pode ceder a choradeiras chantagistas sugerindo isenções tributárias.
Ao forjarem a modinha-suv e chutarem os preços pra cima, as proprias montadoras admitiram que a sua nova estratégia era lucrar alto por cada veículo.
Acabou! Ou as montadoras daqui aceitam lucros civilizados, ou “já era” pra elas.