Carros de corrida improváveis: SUVs da Stock car são a ponta do iceberg
Minivan, furgão, sedã de luxo, carro popular... equipes de corrida nem sempre usam esportivos ou carros óbvios para competir
Minivan, furgão, sedã de luxo, carro popular... equipes de corrida nem sempre usam esportivos ou carros óbvios para competir
O anúncio da Stock Car Brasil trocar os sedãs Chevrolet Cruze e Toyota Corolla pelos SUVs Tracker e Corolla Cross veio com muita polêmica — carros de corrida extremamente improváveis. Entusiastas demonizam esse tipo de veículo, alguns até consideraram ofensivo, porém eles estão em alta no mercado e a categoria sempre foi um instrumento de marketing.
Apesar de todas essas discussões, era apenas uma questão de tempo para os SUVs começarem a ser usados em corridas. No campeonato mundial de rali, o WRC, já temos o Ford Puma sucedendo o Fiesta e a Mini entrou já com o Countryman.
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No caso da Stock Car nem chega a ser SUVs de verdade, já que a categoria utiliza chassi tubular com apenas uma bolha remetendo a algum carro de produção. Mas esses não foram os primeiros carros de corrida improváveis do automobilismo, quem gosta de competições sabe que as vezes aparecem umas bizarrices.
Bem antes dos SUVs atuais, o tipo de carro que era considerado como o anticristo dos entusiastas eram as minivans. Elas apareceram nos anos 80 e na década seguinte estavam bastante populares, a ponto de ter aposentado muitas peruas.
A Peugeot era uma potência nas competições durante a década de 90. Estava presente em várias categorias de rali, corria com seus sedãs nos campeonatos europeus de turismo, fornecia motores para a Fórmula 1 e participava das provas de longa duração com um dos primeiros motores V10 da história.
Em 1995 a Peugeot decidiu colocar sua minivan 806 para competir nas 24 horas de Spa-Francorchamps, para ajudar a promover o carro. A equipe Kronos Racing ficou responsável por transformar esse carro familiar num carro de corrida altamente improvável.
A preparação foi bastante extensa, o conjunto de suspensão e outras partes mecânicas vieram de um 405 Mi16 de corrida. O motor veio do 306 que corria no grupo A do campeonato mundial de rali, com mais de 280 cv.
Segundo o piloto Pascal Witmeur, o público vibrava e aplaudia toda vez que a minivan passava pela curva Raidillon. O Peugeot 806 conseguiu fazer a terceira volta mais rápida em sua categoria, mas não conseguiu completas as 24 horas devido a problemas no diferencial e no motor.
Mesmo sendo amadas pelos entusiastas, as peruas sempre foram carros com foco familiar e sem muitas pretensões esportivas. As versões apimentadas eram raras até meados dos anos 90, com muitas sendo feitas por preparadoras fora das fábricas.
A Volvo, uma marca com pouca tradição em corridas, ousou em usar a perua do 850 para correr no campeonato de turismo britânico (BTCC). Cuidado dessa aposta improvável estava a Tom Walkinshaw Racing (TWR), preparadora que ajudou a levar a Jaguar para o topo do pódio de Le Mans em 1990.
Na época os sedãs da Volvo tinham um estilo muito quadrado, a perua do 850 trazia vantagem na aerodinâmica. Além disso, ela contava com motores de cinco cilindros.
A perua não conseguiu vitória, mas obteve bons resultados no campeonato de 1994. Na temporada seguinte a Volvo precisou entrar com um sedã, o regulamento do BTCC foi alterado com novas especificações para a aerodinâmica dos carros.
Sedãs de corrida não eram novidade em 1971, a Jaguar brilhava com o Mark II nas corridas britânicas e a Mercedes-Benz já participou da Mille Miglia com um 180 D à diesel — que o Boris teve a chance de pilotar.
O que era um carro de corrida improvável era um sedã de luxo grande ser transformado em carro de corrida. O Mercedes 300 SEL 6.3 era o segundo maior carro da marca na época, antecessor do Classe S e ficava abaixo apenas da limusine 600. A sigla “SEL” indicava ser a versão de entre eixos longo, inclusive.
Seu motor V8 6.3 vinha do 600 e já fazia que o sedã fosse um dos mais rápidos de seu tempo. A AMG, fundada em 1967 por dois ex engenheiros da Mercedes, modificou o 300 SEL 6.3 para competir em provas de turismo e nas 24 horas de Spa-Francorchamps.
O carro teve o deslocamento do motor aumentado para 6.8 e recebeu preparação, passando a render 428 cv. O câmbio automático foi trocado por um manual de cinco marcas e o interior foi todo aliviado. Pneus largos, faróis auxiliares e a remoção dos para-choques contrastavam com a suntuosa grade cromada que trazia a estrela de três pontas no topo.
O carro foi apelidado de Rote Sau, “Porco Vermelho” em alemão. Seu principal trunfo foi ficar na segunda colocação das 24 horas de Spa, um feito admirável se levarmos em conta que o campeão foi o compacto esportivo Ford Capri RS.
Uma coisa interessante que notamos quando testamos o Peugeot Partner Rapid é como o carro é esperto quando vazio. O câmbio com relações curtas, a suspensão firme feita para levar carga e o peso baixo deixam o furgão bem divertido.
A Volkswagen possui um furgão desse segmento, o Caddy, que até chegou a ser vendido no Brasil. Em 2004 passou a ter uma categoria para esse carro na Volkswagen Racing Cup, uma copa para pilotos amadores que a marca promove na Inglaterra.
O que diferencia o Caddy dos New Beetle e Golf das outras categorias era o uso de motor diesel até 2010. O venerado 2.0 TDI rendia 260 cv com preparação para corridas. A partir de 2011 entrou o 2.0 TSI a gasolina, com 270 cv e câmbio sequencial.
Esse carro de corrida improvável trazia modificações extensas, como a troca da suspensão traseira pela multilink do Golf MK5. Atualmente essa categoria não existe mais, mas os Caddy de corrida ainda aparecem em track days e inspiraram modificações.
O Dacia Logan foi criado para ser o carro mais barato da Europa, um carro sem espaço para a o supérfluo e sem preocupação com direção esportiva. Isso não impediu a Renault Sport de criar a Logan Cup como categoria de base.
Uma equipe de corridas pegou um desses carros, lá de 2006, para competir nas 24 horas de Nurburgring em 2021. A preparação desse carro de corrida improvável envolveu a troca do motor 1.6 por um 2.0 16v de Megane, o mesmo usado no Brasil pelo Sandero R.S.
O Logan foi o carro mais lento da corrida, com tempos de volta acima de 12 minutos. Mas, assim como o Peugeot 806 Procar, virou o favorito do público. O sedãzinho romeno sobreviveu até o final da corrida, só não ficou em último pois terminou à frente de um Porsche que passou horas quebrado.
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Parabéns pela excelente reportagem, mas não pude deixar de notar: foram tão longe para buscar categorias inusitadas e esqueceram-se de mencionar a nossa FORMULA TRUCK? ?