Carros elétricos já valem mais a pena que os a combustão: os de luxo
Quem diria que a eletrificação ganharia corpo não através dos microcarros racionais, mas sim de modelos enormes e cheios de status
Quem diria que a eletrificação ganharia corpo não através dos microcarros racionais, mas sim de modelos enormes e cheios de status
Você já deve ter lido em uns 386 artigos sobre o futuro da indústria automobilística que os carros elétricos são um “caminho sem volta”. Eu mesmo devo ter chegado a essa óbvia conclusão diversas vezes em variados textos da coluna. Afinal, qual jornalista não vive de clichês?
Quinze anos atrás, antes da popularização dos smartphones e das dancinhas do TikTok, já se pensava dessa forma, porém com uma lógica que hoje pode soar até ingênua. Carros elétricos extremamente compactos, funcionais e racionais, populares, adquiridos por pessoas cônscias de que necessitam de um meio de transporte compacto e eficiente em emissões, apenas para ir do ponto A ao ponto B.
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Por isso, eram as marcas generalistas aquelas que mais vislumbravam esse futuro, ao mesmo tempo em que seus executivos coçavam as cabeças: “tá, mas qual o sentido de vender um carro elétrico popular tão pequeno e caro? Quem vai querer comprar?”. Eles estavam certos.
Ao mesmo tempo, marcas de luxo seguiam torcendo o nariz para o tema. Afinal, seus clientes queriam mesmo eram produtos com potentes motores V6 ou V8, que os levassem até o destino desejado da maneira mais confortável e/ou célere possível, não importando quanto combustível gastassem nem quanto quantos poluentes emitissem.
Só que o mundo gira, já nos ensinou Copérnico. Atualmente, o que temos são regiões como China e Europa praticamente forçando a eletrificação. E enquanto os custos de produção, especialmente o de baterias, ainda tornam o carro elétrico proibitivo para os segmentos de entrada, por que não eletrificar carros de luxo?
E assim seguimos a toada. E descobrimos que o comprador de um veículo zero-emissões de BMW ou Mercedes-Benz preserva os mesmos fetiches daquele que comprava um ML ou BMW X5 com motor V6 a diesel: ele ainda quer um modelo confortável, espaçoso, luxuoso, com forte desempenho e apelo visual, que lhe confira status.
Daí que os carros elétricos começaram a fazer sentido na prática, mas não do jeito que imagináramos: são os de luxo, grandalhões, enormes e pesados aqueles que estão proporcionando a efetiva penetração do carro elétrico na cultura automobilística mundial.
E convenhamos: modelos elétricos de marcas como Audi, Volvo ou BMW já estão atingindo um custo-benefício melhor do que produtos equivalentes a combustão.
Veja o caso do BMW iX: por R$ 800 mil, oferece um nível tecnológico jamais visto na marca, com direito sistema de entretenimento com realidade virtual expandida, som em 4D e internet 5G, além de 78 kgfm de torque entregues instantaneamente. De repente, o X6 6-cilindros já não está mais tão atraente…
Boris Feldman mostra o iX em detalhes
Outro exemplo é o Volvo XC40 Recharge, cuja versão de entrada custa pouco mais de R$ 300 mil, o mesmo preço de um Toyota Camry ou RAV4 (que são híbridos, verdade, mas ainda não totalmente elétricos, nem de marcas de luxo).
Óbvio que ainda são produtos restritos a uma parcela muito pequena da população. Mas, com uma legislação distorcida – que inclusive incentiva a importação desses veículos, porque pagam bem menos imposto do que outros carrões de luxo a combustão, ao mesmo tempo em que não fomenta em nada a produção local de veículos elétricos –, a tendência é que não haja mais espaço para carros de luxo que não sejam elétricos num período muito curto de tempo.
Assim, quem diria, serão os endinheirados com seus carrões de 5 metros de comprimento, 2 metros de largura, 3 metros de entre-eixos e 2,5 toneladas os verdadeiros cobaias da eletrificação efetiva de nosso mercado.
Não que os elétricos não vão atingir as camadas mais populares do mercado. Isso vai acontecer, só que mais para frente. E quer saber? Talvez seja melhor assim. Quando quem passa perrengue é quem detém poder econômico, as providências para melhorias estruturais costumam chegar muito mais rápido, quase à velocidade da luz.
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