Carros que fracassaram por falha de engenharia ou de marketing

Até os grandes erram, a falta de estudo sobre o mercado brasileiro pode transformar um carro bom em um grande mico

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Ela prometeu incomodar a Hilux, até hoje é difícil achar uma nas ruas (Foto: BYD | Divulgação)
Por Eduardo Rodrigues
Publicado em 03/11/2025 às 20h00

O sucesso dos carros no mercado brasileiro depende de vários fatores para não fracassar. Muitas marcas acham que apenas a sua fama basta, porém ela pode ser sabotada pela própria engenharia ou pelo marketing.

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Quase todos os fabricantes bem sucedidos no Brasil possuem pelo menos um carro que foi um fracasso por causa de falhas na engenharia ou de marketing mal feito. Vamos relembrar cinco casos.

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1. BYD Shark

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O comprador de picapes ainda prefere modelos diesel, o sucesso da GWM Poer demonstra isso (Foto: BYD | Divulgação)

O comprador de caminhonetes no Brasil está aberto a novas tecnologias quando falamos em equipamentos dentro da cabine. Quanto a mecânica querem apenas uma coisa: motor turbodiesel.

Esse público que chama o seu veículo de “bruta” não quer saber de veículos híbridos. A BYD não fez a lição de casa quando lançou a sua caminhonete Shark no Brasil e fez a campanha focada no agronegócio, teve até show de sertanejo e participação do governador de Goiás no evento de lançamento.

O resultado foi um fracasso retumbante, o marketing foi voltado ao público errado. As vendas da Shark em 2024 foram tão fracas que ela emplacou menos que a nichada Jeep Gladiator.

A BYD está vendendo a Shark com pesados descontos para movimentar o estoque. No acumulado de 2025 a suposta matadora de Hilux conseguiu superar a Gladiator e também a Chevrolet Silverado. Se for manter apenas nas chinesas, ela superou apenas a Foton Tunland e a Jac Hunter.

Atualmente a BYD é uma marca bem sucedida no Brasil com carros compactos elétricos e SUVs híbridos. A Shark foi um voo ambicioso dentro de um segmento muito tradicionalista, a rival GWM estudou melhor o gosto do brasileiro e lançou sua picape Poer P30 com motor turbodisel. A fila de espera aponta que foi uma escolha acertada.

2. Nissan Altima

nissan altima branco frente em movimento rodovia
A marca tinha a faca e o queijo nas mãos para ter um sucesso, mas não soube divulgar (Foto: Nissan | Divulgação)

O brasileiro gosta de um sedã japonês. Toyota Corolla, Honda Civic e Nissan Sentra foram verdadeiros sucessos. O segmento acima era dominado pelo Ford Fusion, mas havia uma presença expressiva do Honda Accord.

A Nissan resolveu entrar nesse segmento de sedãs grandes com o competente Altima, que era um sucesso nos EUA. Por ser feito no México, ele tinha o mesmo benefício da isenção dos impostos de importação.

O sedã japonês vinha com ar-condicionado de duas zonas, chave presencial, aquecimento no volante e nos bancos dianteiros, câmera de ré, GPS, teto solar, monitor de pontos cegos, sistema de som Bose e outros itens que eram luxos na época. O motor 2.5 aspirado rendia 182 cv e o câmbio era CVT.

Tudo isso era amarrado por um preço inferior ao do Fusion 2.5, que era menos potente e menos equipado. Qual foi o problema para o Altima? A Nissan não soube divulgar o seu sedã grande, muitos nem lembram que ele já foi vendido no Brasil.

3. Volkswagen Amarok

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Alguns problemas e a falta de câmbio automático estragaram a estreia da Amarok, que virou carro de nicho (Foto: Volkswagen | Divulgação)

Uma marca líder de mercado e com imagem de robustez tem tudo para emplacar uma caminhonete média no Brasil. A Volkswagen Amarok chegou com grandes expectativas e com o diferencial de ser um modelo alemão em um segmento dominado por japoneses.

Essa engenharia acostumada a fazer vans e furgões para a Europa acabou escorregando em alguns detalhes, que fizeram a Amarok fracassar. Ela foi lançada apenas com motor 2.0 diesel, com um ou dois turbos, indo de 122 a 163 cv.

Esse motor possui boa fama na Europa, mas no Brasil sofreu com a poeira. Frotas de empresas, como mineradoras, e fazendeiros tiveram vários problemas com a correia dentada devido a esse fator.

Outro erro do lançamento foi vender a Amarok apenas com câmbio manual. A caixa automática já era bem difundida nesse segmento, principalmente nos modelos topo de linha.

A Volkswagen corrigiu essas criticas: um sistema que usava pressão positiva evitava o acúmulo de poeira na correia dentada e o câmbio automático de oito marchas veio dois anos depois junto de mais potência. Mas a imagem da Amarok já estava manchada.

Hoje a Amarok virou uma picape de nicho graças ao motor V6 TDI introduzido em 2018. Seu público cativo é o de quem quer uma picape, mas gosta de acelerar no asfalto.

4. Peugeot 2008

peugeot 2008 2016 branco frente em estrada de terra
O 2008 tinha tudo para dar certo, mas a marca errou na escolha dos câmbios (Foto: Peugeot | Divulgação)

O ano de 2015 foi decisivo no mercado de SUVs compactos no Brasil. O Honda HR-V, o Jeep Renegade e o Peugeot 2008 estrearam praticamente juntos, elevando o padrão desse filão.

Antes tínhamos apenas o Ford EcoSport e o Renault Duster, dois modelos bem simples por dentro. Esse trio mostrou que os SUVs poderiam ser mais equipados e caprichados.

Mas sabemos bem que apenas o HR-V e o Renegade fizeram sucesso no Brasil. Mesmo cheio de potencial, o Peugeot 2008 fracassou por deslizes da engenharia.

Na época o câmbio automático já era popular nas cidades e a Peugeot insistiu na antiga caixa AL4 para os modelos 1.6. Ela foi atualizada, mas a fama ruim e ter apenas quatro marchas assustava o público.

Quem desejava um motor mais potente podia levar o 1.6 THP de 173 cv estava preso ao câmbio manual. Uma decisão no mínimo estranha para um SUV familiar.

Na linha 2018 a Peugeot trocou o antigo câmbio automático de quatro marchas por uma caixa de seis no modelo aspirado e esse mesmo câmbio foi adotado no THP. Aí já era tarde demais.

5. Fiat Linea

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Posiciona um compacto contra os médios de classe mundial foi um grande erro (Foto: Fiat | Divulgação)

O lançamento do Toyota Corolla de nona geração, em 2003, aqueceu o mercado de sedãs médios. Todas as marcas lançaram novidades nos anos seguintes, mas a Fiat estava com o Marea envelhecido e com fama ruim no mercado.

Como não existia um sedã médio da Fiat no mundo em meados dos anos 2000, a solução foi rechear um compacto. O Linea veio como uma versão de três volumes do Punto, mas ganhou diversos minos para não passar vergonha diante de Honda Civic, Toyota Corolla e Chevrolet Vectra.

Essa estratégia não convenceu, o Linea estava mais para um sedã compacto de topo, como o Volkswagen Polo, que para um médio. A carroceria estreita e as similaridades com o Punto jogaram contra.

No final de sua carreira, o Linea era popular como táxi devido aos bons descontos dados pela Fiat. Hoje ele não é lembrado com carinho como ocorre com o Tempra e o Marea, mesmo tendo a versão esportiva T-Jet.

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