Perua e hatch médios importados da Europa ficaram apenas 1 ano no mercado, ainda bem que tinham motor brasileiro
Foi catastrófico para o consumidor. Imagine você comprar um carro novo, na concessionária e um ano depois esse carro desaparece da rede de revendas e você fica com a nítida sensação que comprou um mico. Pois acho que foi assim que se sentiu aqueles que, em 1995, compraram um Chevrolet Astra GLS nas concessionárias da GM. O Astra dessa geração foi anunciado pela GM no finalzinho de 1994 nas versões hatch e perua, que seriam importadas da Bélgica, para atender ao segmento de hatches médios, onde reinavam Fiat Tipo e VW Golf.
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Com o Astra, a GM fez algo inusitado: para facilitar e reduzir os custos de manutenção, instalavam nas unidades fabricadas na Bélgica um conjunto motor/câmbio nacional. Uma operação, certamente, cara e complicada: o powertrain era embalado, mandado de caminhão para o porto, embarcado, levado à Bélgica, e depois transferido para a fábrica do carro. Na linha de montagem, o conjunto brasileiro de motor/câmbio, semelhante utilizado pelo Monza (2.0 8v de 116 cv e transmissão manual de cinco marchas), era montado nas unidades destinadas ao mercado brasileiro. Já pensou?!
Mas, para azar da General Motors, o governo brasileiro da época resolveu mudar as regras do jogo. A taxa de importação, que na época era de 32%, saltou para assustadores 70% no primeiro semestre de 1995. O Astra que na época não era nada barato, ficou com um preço inviável. Ainda mais considerando todo esse malabarismo de carro fabricado na Bélgica com motor e câmbio brasileiros, depois destinados ao mercado nacional. Não deu outra: os preços subiram, a operação ficou cara demais, e logo a Chevrolet tirava as versões hatch e station de linha.
Essa decisão da marca americana, pegou de calças curtas aqueles que compraram o carro e aqueles que pretendiam comprá-lo. Claro que os seus dois outros concorrentes, Volkswagen e Fiat, também tiveram o mesmo problema, mas essa é uma história para depois. Já dou spoiler: a marca italiana tentou fabricar o Tipo em solo nacional, e não deu tão certo assim…
Mas, voltando ao Astra: a bomba acabou estourando mesmo, no colo do consumidor, que passou a se preocupar com fornecimento de peças de reposição e também desvalorização daquele Astra importado. Mesmo sendo elogiado pelos seus compradores como um bom carro, ele começou a padecer no mercado de usados pela ausência de peças de reposição, principalmente de funilaria e acabamento. Quando se encontravam esses componentes, o preço era proibitivo.
Como exemplo, posso citar os espelhos retrovisores. Alguns anos depois da paralisação das importações, ocorreu um aumento significativo no furto do par de espelhos externos, e de outras partes do carro, como as lanternas traseiras. Uma colega jornalista, que tinha um Astra hatch 1995, teve os retrovisores furtados e descobriu o motivo quando foi repor os componentes: na concessionária, custavam quase o valor do carro inteiro. Um absurdo!
O Astra hatch 1995, aliás, foi mais bem aceito pelo consumidor. A perua, batizada de Astra SW, foi vendida em um volume muito menor. A vantagem desses carros é que, pelo menos, motor/câmbio eram praticamente iguais aos do Monza: tinham peças de reposição aos montes no mercado, e qualquer mecânico minimamente decente sabia mexer neles. Mas, claro, você não poderia nem pensar em se envolver em um acidente ou mesmo quebrar uma peça de acabamento, sob a pena de ficar com o seu carro parado pela ausência dos componentes.
Hoje, esses carros existem em uma escala bem pequena, e sua maioria é de pessoas que os adquiriram ainda nos anos 1990, gostaram muito do que eles ofereciam e os conservam até hoje. Caso parecido com o de um amigo meu e seu Astra SW 1995, desse lote belga: o exemplar foi adquirido 0 km pelo pai dele, e segue na família até hoje. Mas, que era caro, isso era…
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