Chevrolet Astra: o foguete molhado da Bélgica

Perua e hatch médios importados da Europa ficaram apenas 1 ano no mercado, ainda bem que tinham motor brasileiro

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Chevrolet Astra era um carro simpático, bem construído, mas foi golpeado pela taxa de importação (Fotos: GM | Divulgação)
Por Douglas Mendonça
Publicado em 24/08/2025 às 15h00

Foi catastrófico para o consumidor. Imagine você comprar um carro novo, na concessionária e um ano depois esse carro desaparece da rede de revendas e você fica com a nítida sensação que comprou um mico. Pois acho que foi assim que se sentiu aqueles que, em 1995, compraram um Chevrolet Astra GLS nas concessionárias da GM. O Astra dessa geração foi anunciado pela GM no finalzinho de 1994 nas versões hatch e perua, que seriam importadas da Bélgica, para atender ao segmento de hatches médios, onde reinavam Fiat Tipo e VW Golf.

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Com o Astra, a GM fez algo inusitado: para facilitar e reduzir os custos de manutenção, instalavam nas unidades fabricadas na Bélgica um conjunto motor/câmbio nacional. Uma operação, certamente, cara e complicada: o powertrain era embalado, mandado de caminhão para o porto, embarcado, levado à Bélgica, e depois transferido para a fábrica do carro. Na linha de montagem, o conjunto brasileiro de motor/câmbio, semelhante utilizado pelo Monza (2.0 8v de 116 cv e transmissão manual de cinco marchas), era montado nas unidades destinadas ao mercado brasileiro. Já pensou?!

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Vendido como Opel Astra, na Europa, o médio era importado da Bélgica

Mas, para azar da General Motors, o governo brasileiro da época resolveu mudar as regras do jogo. A taxa de importação, que na época era de 32%, saltou para assustadores 70% no primeiro semestre de 1995. O Astra que na época não era nada barato, ficou com um preço inviável. Ainda mais considerando todo esse malabarismo de carro fabricado na Bélgica com motor e câmbio brasileiros, depois destinados ao mercado nacional. Não deu outra: os preços subiram, a operação ficou cara demais, e logo a Chevrolet tirava as versões hatch e station de linha.

Essa decisão da marca americana, pegou de calças curtas aqueles que compraram o carro e aqueles que pretendiam comprá-lo. Claro que os seus dois outros concorrentes, Volkswagen e Fiat, também tiveram o mesmo problema, mas essa é uma história para depois. Já dou spoiler: a marca italiana tentou fabricar o Tipo em solo nacional, e não deu tão certo assim…

A implosão do Astra

Mas, voltando ao Astra: a bomba acabou estourando mesmo, no colo do consumidor, que passou a se preocupar com fornecimento de peças de reposição e também desvalorização daquele Astra importado. Mesmo sendo elogiado pelos seus compradores como um bom carro, ele começou a padecer no mercado de usados pela ausência de peças de reposição, principalmente de funilaria e acabamento. Quando se encontravam esses componentes, o preço era proibitivo.

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O interior do Astra era sofisticado e bem equipado para os padrões dos anos 1990

Como exemplo, posso citar os espelhos retrovisores. Alguns anos depois da paralisação das importações, ocorreu um aumento significativo no furto do par de espelhos externos, e de outras partes do carro, como as lanternas traseiras. Uma colega jornalista, que tinha um Astra hatch 1995, teve os retrovisores furtados e descobriu o motivo quando foi repor os componentes: na concessionária, custavam quase o valor do carro inteiro. Um absurdo!

O Astra hatch 1995, aliás, foi mais bem aceito pelo consumidor. A perua, batizada de Astra SW, foi vendida em um volume muito menor. A vantagem desses carros é que, pelo menos, motor/câmbio eram praticamente iguais aos do Monza: tinham peças de reposição aos montes no mercado, e qualquer mecânico minimamente decente sabia mexer neles. Mas, claro, você não poderia nem pensar em se envolver em um acidente ou mesmo quebrar uma peça de acabamento, sob a pena de ficar com o seu carro parado pela ausência dos componentes.

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Astra SW era ainda mais rara que o hatch

Hoje, esses carros existem em uma escala bem pequena, e sua maioria é de pessoas que os adquiriram ainda nos anos 1990, gostaram muito do que eles ofereciam e os conservam até hoje. Caso parecido com o de um amigo meu e seu Astra SW 1995, desse lote belga: o exemplar foi adquirido 0 km pelo pai dele, e segue na família até hoje. Mas, que era caro, isso era…

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