Modalidade de compra gera em média 0,15% de taxas ao mês; valor pode ser seis vezes menor do que um financiamento convencional
Carro no Brasil está caro! Sim, e todos já sabemos. Ponto é que com isso o cidadão tem que se planejar cada vez mais para adquirir ou trocar o seu automóvel. E é aí que o consórcio ganha cada vez mais espaço. Segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), o sistema de consórcios no Brasil registrou com 11,73 milhões de participantes ativos em 2025 – número 10% maior que em 2024.
Com o aumento da oferta, cresce também a procura. E por isso, o cidadão deve conhecer bem este sistema, que pode ser muito vantajoso para quem está disposto a esperar.
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Para explicar sobre o consórcio de veículos conversamos com Thiago Savian, diretor comercial da Unifisa. O especialista nos esclareceu sobre a modalidade, pontos positivos e negativos, além de desmentir alguns mitos.
O sistema de consórcio, a gente costuma dizer que é o boleto do bem, onde você para você mesmo”, observa Savian.
O consórcio é uma modalidade de compra de um determinado bem, na qual uma instituição administradora reúne um grupo de pessoas interessadas neste mesmo produto. Cada integrante paga uma mensalidade (que tem taxas bem mais baixas do que um financiamento convencional) e por meio de sorteio, lance ou quitação adquire a carta de crédito para aquisição do bem. O consorciado está sujeito a ser contemplado desde o primeiro mês, até a última mensalidade.
De maneira didática, Thiago exemplificou: um grupo de 100 pessoas, que se interessa em uma carta de crédito de R$ 100 mil, se une para quitar o valor em 100 meses. Pelas contas, cada integrante pagará pouco mais de R$ 1000 por mês e assim ao menos um integrante será contemplado pelo benefício todos os meses.
* É importante ressaltar que mesmo contemplado, o consorciado deve quitar a sua dívida contratual.
Essa contemplação significa o direito de utilizar o valor juntado por aquele grupo e fazer essa aquisição”, afirma Thiago.
Existem diferentes maneiras de ser contemplado em um consórcio, isto é, de receber a carta de crédito, carro ou o bem desejado.
A primeira forma de contemplação vem por meio de sorteio baseado nos resultados da Loteria Federal. Cada participante possui um número de cota, e quem tiver o número equivalente ao sorteado é contemplado. Nesse caso, não há custo de lance adicional, já que o participante foi escolhido por “sorte”.
Funciona de forma semelhante a um leilão. Os consorciados oferecem percentuais do valor total da carta de crédito (por exemplo, 30%, 40% ou 50%). O maior lance é contemplado.
Só quem tem o lance vencedor precisa pagar. Se o seu lance não for contemplado, você não desembolsa nada e pode tentar novamente no mês seguinte”, explica o especialista.
Além do lance livre, existe o fixo e este serve para tornar o consórcio mais acessível. A administradora define um percentual fixo e após o sorteio e os lances livres, é feito um novo sorteio apenas entre quem ofertou esse valor.
Na Unifisa, por exemplo, limitamos o lance fixo em 30%. O sorteado paga os 30% e utiliza o crédito. É uma forma de permitir que todos concorram em condições mais justas”, detalha Savian.
A troca de chaves serve para quem já tem um veículo e tem intenção de trocá-lo em outro. O participante pode oferecer seu carro usado como forma de lance. O valor é avaliado pela concessionária e utilizado como lance no grupo. Se contemplado, o consorciado entrega o veículo usado e a administradora paga à concessionária o valor restante para liberar o novo carro.
O tipo mais comum de consórcio é o de veículos (novos ou usados). Dos quase 12 milhões de consorciados, 5 milhões procuram um carro ou uma moto. Porém imóveis, viagens, cursos, festas, ferramentas e outros também são consorciadas.
O cidadão também pode optar por uma carta de crédito, o que dá liberdade para ele decidir em qual estabelecimento (dentro dos permitidos na categoria) poderá descontar seu benefício.
Por ser um sistema autofinanciado, ou seja, os próprios consorciados que juntam esse valor para a aquisição de um bem, é necessário que a pessoa tenha em mente que tem que esperar”, alerta Thiago.
O especialista frisou diversas vezes durante a entrevista que este é o principal ponto em que as pessoas devem se atentar na hora de fazer um consórcio.
O consorciado está sujeito a receber seu “prêmio” apenas no último mês de pagamento. Por mais que contas e probabilidades possam ser feitas para prospectar uma contemplação antecipada, não é uma certeza.
A meia parcela é uma estratégia adotada por algumas administradoras para facilitar o ingresso de novos consorciados e equilibrar o fluxo financeiro dos grupos. Nesse formato, o participante paga apenas metade do valor da parcela durante os primeiros meses do plano.
A ideia é tornar o início mais leve para o cliente, especialmente enquanto o grupo ainda está em formação e as primeiras contemplações são mais limitadas. O valor não pago geralmente é adicionado nas parcelas após a contemplação.
Aqui é onde o candidato a consorciado deve ficar ainda mais atento, já que muitos podem tentar ludibriar o interessado. É fato que essa modalidade de compra não conta com juros planejados em sua mensalidade, porém isso não significa a isenção de taxas extras.
São três as mais comuns:
Thiago explica que cada uma dessas taxas tem sua função. A primeira é fixada logo na adesão do contrato e é por ela que a administradora consegue seu lucro. O fundo de reserva visa a desistência de algum consorciado e o seguro de vida vem para o caso de algum óbito dentro do grupo, assegurando a família deste.
Ponto é que, mesmo com essas taxas, o valor extra de um consórcio pode ser 6x menor do que um financiamento convencional. Em um exemplo, enquanto um consórcio tem taxas de 0,15% ao mês, o financiamento gera 1%.
A quantidade de pessoas varia de acordo com a administradora. Thiago aponta que podem existir grupos de 100, 200, 500, 10.000 pessoas.
Em colaboração a nossa entrevista, o Administrador e também especialista Daniel Rosendo declarou que consórcios que contam com, por exemplo, o fundo de reservas ou similares asseguram eventuais desistências do consocio. Assim, a parcela abandonada não é repassada aos demais consorciados. Por isso sempre é importante verificar as clausulas do contrato para não ter um aumento inesperado na parcela.
Essa variação influencia diretamente na quantidade de contemplações que ocorrem todos os meses. O número de cotas contempladas depende do valor arrecadado com as parcelas e dos lances ofertados pelos participantes.
Se eu tiver mil consorciados pagando um bem de R$ 100 mil em 100 meses, vou arrecadar mensalmente o suficiente para contemplar dez cotas. É essa conta que determina quantos serão contemplados”, detalha Savian. “O Banco Central não permite que a administradora guarde o dinheiro para o mês seguinte, então a gente chama o máximo possível de pessoas em cada assembleia, conforme o valor disponível.”
Grupos novos tendem a contemplar menos pessoas, uma vez que algumas podem sair e influenciar na arrecadação. Conforme os meses se passam e o grupo vai chegando ao fim, os consorciados restantes muitas vezes têm dinheiro suficiente para dar o lance e adquirir ou bem.
No fim da entrevista chegamos à conclusão de que a maior desvantagem de um consórcio sem dúvidas é esperar. O consorciado pode ficar 45, 60, 100 meses ou mais aguardando seu benefício.
Por outro lado, o consórcio se faz um método seguro para adquirir um bem ou até mesmo para guardar ou fazer dinheiro, uma vez que o contemplado pode vender sua carta para um terceiro que tenha o dinheiro na mão.
Por fim, Thiago destaca que as administradoras de consórcio têm peso de instituição financeira e são fiscalizadas pelo Banco Central. Uma dica deixada pelo especialista é consultar a Abac ou o próprio Banco, para certificar-se de confiabilidade e registro da então instituição.
Além de certifica-se leia o contrato e não caia em conversas de vendedores que prometem nenhum juros ou contemplação rápida. Como explorado, nada disso é verdade ou garantia.
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Outra desvantagem: o valor da cota aumenta quando o preço do bem sobe, ou se o veículo é substituído por outro, pois o grupo deve manter o poder de compra para todos os participantes. Ou seja, se você for contemplado logo no início, vai pagar a parcela de um bem novo até o fim. Tive essa experiência com uma motocicleta, que na época saiu de linha e entrou um modelo mais caro.