Cursos práticos reposicionam motociclistas experientes e em formação
Crescer na pilotagem de motocicletas demanda conhecimentos de física, prática de manobras e, claro, muito suor
Crescer na pilotagem de motocicletas demanda conhecimentos de física, prática de manobras e, claro, muito suor
Proficiência. Palavra que dificilmente te passará à cabeça se você entrar quadrado numa curva com a moto. Também não adianta apelar para o anjo da guarda: em vias urbanas, expressas ou rodovias, a diferença entre o domínio da máquina e um corpo no chão está na compreensão individual, no desenvolvimento de habilidades técnicas e na prática de manobras.
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E por se tratar de um esporte mecânico, muito depende também das características da própria motocicleta. Andar bem é uma combinação dessas qualidades com uma mentalidade de gerenciamento de risco – logo, algo que pode ser treinado e adquirido. As moto-escolas não ensinam o básico além da 1ª marcha, e a verdade é que ter entre as pernas uma moto acima de 250 cilindradas causa arrepio na espinha.
Como agravantes da falta de habilidade, somam-se ainda a negligência do piloto e a falta de respeito pela moto, que levam a acidentes e fatalidades. Crescer na pilotagem custa, demora e esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas. Os adversários somos nós mesmos.
A boa notícia é que o mercado nas grandes capitais oferece opções personalizadas de cursos de pilotagem e/ou moto habilidade para homens e mulheres quem se interessam pela condução sobre duas rodas, seja para uso urbano ou para competições. Em pauta, além de aceleradas em pista, entram conceitos de inércia, forças centrífuga e centrípeta. Parece difícil? Não mais que pilotar sem pelo menos conhecê-los.
“Controlar sua moto com confiança te faz experimentar os níveis mais elevados de satisfação e prazer em pilotar”, diz Suzane Carvalho, campeã de diversas categorias do automobilismo e motociclismo e fundadora, desde 2003, de um centro de treinamento homônimo para pilotos amadores e profissionais, em São Paulo, onde ela multiplica o conhecimento adquirido nas pistas.
Suzane conta que os cursos são divididos em módulos que envolvem da moto-ergonomia individual para otimizar o desempenho, à prevenção de colisão em alta velocidade, passando por uma revisão do comportamento do tráfego como espaçamentos, bloqueios, etc, além do controle em baixa e alta velocidades. “Confiança é a chave de estar no controle de sua moto em todas as condições, seja para andar em cascalho, na chuva, em curvas fechadas e rápidas ou numa pista de corrida”.
Catapultada de uma Honda XRE 300 Adventure para uma Harley Davidson Fat Bob de 1.745 cc e 306 kg, a administradora e estudante de engenharia Pamela Ferreira, 29, sentiu o peso da responsabilidade na primeira curva: “Eu tinha uma experiência diferente de pilotagem até então. A partir da primeira volta na Harley eu já me apaixonei, mas sabia que só ia adquirir segurança fazendo cursos e treinando”, diz.
Na via da especialização, ela passou pelas academias de pilotos Road Training e a da BH Harley Davidson, pela Discover Ride Skill e pela Masterize, todas em Belo Horizonte (MG). “Esses cursos me ajudaram a melhorar a pilotagem, maneabilidade, confiança e segurança, tanto na cidade quanto na estrada”, diz.
“Um dos módulos mais interessantes que fiz foi o de frenagem de emergência com e sem o uso da embreagem. Costumamos frear nas vias públicas, mas é raro termos que frear de uma vez entre 120 km/h e 140 km/h. Já precisei fazer uma frenagem nesse estilo e foi a habilidade adquirida que me salvou”, lembra.
Frear motos exige muita experiência porque varia conforme a situação, tipo de moto e piso. Por isso os sistemas são independentes, enquanto no carro os freios são comandados por um pedal só.
Hoje, Pamela continua a prática da moto habilidade com a equipe Cones & Chão, também na capital mineira. “Treinamos além do nosso limite, além até do limite da moto, e sempre corremos o risco de tombar, daí vem o nome do grupo. Mas é assim que consigo chegar na excelência da moto habilidade, utilizando o máximo a capacidade angular da Fat Bob”, conta ela.
Exatamente devido ao conhecimento técnico, Pamela é responsável pelo planejamento e segurança de rides no coletivo de motociclistas The Litas Belo Horizonte, além de desempenhar papeis de destaque nos comboios do HOG e Ladies of the Road, grupos ligados à concessionária Harley Davidson na capital mineira.
Impossível não perceber sua facilidade de contra esterçar e pendular em uma moto tão baixa e pesada. “A Fat Bob é uma das melhores Harleys para fazer curvas”, diz Pamela. De fato, desde 2018 o modelo ganhou um novo quadro e rodas de alumínio.
Cerca de 17 kg mais leve em relação ao modelo anterior, a nova Fat permite ângulos mais fechados nas curvas, aumentando a maneabilidade. Com garfo invertido, a suspensão dianteira conta com tecnologia SDBV, Showa Dual Bending Valve, já testadas na família Touring e “transplantadas” para a família Softail. A suspensão traseira é do tipo mono e foi montada em nova posição para garantir maior tração e estabilidade.
“Mas a facilidade que eu enxergo em pilotar essa moto é uma soma de fatores. O primeiro é que meus pais sempre me ensinaram que nada é impossível, e que pode ser feito se encontrarmos o jeito certo. O segundo fator é que meu amor pelas motos me faz querer pilotar qualquer modelo que exista. E por último, é que a prática adquirida em cursos elevou não só meu conhecimento, mas também minha confiança”.
Em Belo Horizonte, os cursos de pilotagem são, em sua maioria, divididos em dois dias de aulas teóricas e práticas, com carga que varia entre 16 e 20 horas/aula. São voltados para motociclistas experientes ou em formação e um dado comum é a crescente procura de mulheres por especialização.
“Diversas mulheres procuram nosso curso, independentemente da experiência como motociclistas, para aperfeiçoar o domínio de motos de alta cilindrada em baixa velocidade e para melhor gerenciamento dos riscos”, diz Anderson Damasceno, 44, co-fundador da Academia de Pilotos Road Training. “A maior demanda delas é pelo controle da motocicleta em retornos, em vias estreitas e inclinadas, e manobras em locais apertados”.
Segundo ele, o primeiro ensinamento do curso é baseado no autoconhecimento. Afobação, euforia, medo, baixa autoestima e tantos outros sentimentos são fatores impeditivos para o desenvolvimento da aprendizagem.
“A partir desta compreensão das dificuldades dos alunos partimos para o treinamento propriamente dito, onde é perceptível que grande parte dos motociclistas, mesmos os mais experientes, ainda não dominam corretamente a tríade embreagem, acelerador e freios. E muitos têm grande dificuldade com a visada – a moto vai para onde olhamos”, completa.
Instrutor de cursos regulares na Milwaukee, Clóvis Cendon concorda: “Tudo começa com a sensibilidade correta no freio traseiro, embreagem semi apertada e aceleração contínua. Isso fará o piloto encontrar o ponto de equilíbrio da motocicleta. Logo após, iniciamos as manobras pelas pistas de cones”.
Cendon reforça pontos importantes: “Os equipamentos de segurança do piloto são um capítulo à parte, assim como as regras de trânsito voltadas para os motociclistas. Todo o conteúdo programático, com pilotagem defensiva, frenagem em piso seco e molhado, tangência, tomada e saída de curvas, etc, é passado de forma teórica e prática”.
“Praticamente anulamos o peso da moto quando aprendemos a dominar as técnicas de pilotagem”, diz Thiago Portela, 36, da Masterize. “O piloto passa a controlar a moto e conseguimos mostrar, na prática, que como é fácil contornar seu o peso”, diz. “Já no módulo de curvas, ensinamos conceitos de segurança tanto em baixa quanto em alta velocidade, que é o recomendável nas estradas”.
Aline D’Angelo, fundadora da grife Legend Ladies e aluna da Masterize, lembra como foi o exercício de levantar sua Harley Deluxe de mais de 300 kg, tombada no chão, pela primeira vez: “Tem a ver com o posicionamento correto do corpo. É o ângulo da perna que determina o movimento. Não é necessário força e, sim, jeito”.
Segundo ela, a visada também é uma lição importante: “A moto vai para onde você estiver olhando. Aprendi que o olhar e o posicionamento da cabeça são fundamentais para uma boa pilotagem”.
Glaycon Ferreira, 40, que desenvolveu três módulos com diferentes objetivos no curso Discover, finaliza com uma dica prática que faz toda a diferença no dia a dia. “Pilotos de motos muito pesadas como as big trails, custons e tourings devem sempre manter os ombros paralelos ao asfalto”.
Segundo ele, a dica é não inclinar o ombro e o corpo junto com a moto na curva. O piloto deve posicionar o corpo um pouco à frente e manter os ombros retos, com o olhar sempre para o final da trajetória. “Ao experimentar essa técnica, é possível fazer uma curva muito mais suave”.
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Matéria sensacional e surpreendente. A grandeza de detalhes e informações me colocou um sorriso logo no inicio “Fazer uma curva quadrada” quem nunca?
Levar ao motociclista informações e conscientizar de que a motocicleta e o piloto precisão estar em sintonia é muito importante.
Parabéns não só por essa matéria, mas pela profissional que você é enriquecendo em detalhes e informações a nossa leitura.
???
Matéria importante e necessária, principalmente para motociclistas iniciantes que adquirem motos de alta cilindrada. Valeu, Ju!
Era tudo o que eu precisava ler nesse momento. Obrigada pela matéria esclarecedora, leve e tão necessária.
Matéria informativa, relevante. Muito agradável a leitura. Ju arrasa.
Gostei demais da reportagem, conteúdo super relevante e rico de informações orientativas!
Excelente reportagem, destacou bastante a importância dos cursos. Pretendo fazer um assim que possível.
Ju sempre sensacional!!!!
Amei!!!
Excelente matéria e muito pertinente! Parabéns, Juliana Dapieve, pela qualidade da matéria, além de enaltecer a pilotagem feminina!
Bem legal