O vexame da Chevrolet D20 4×4 com cruzeta ‘podre’
Mancada! Todas as picapes do teste da imprensa quebraram, inclusive quando o engenheiro da GM tentou ensinar como guiar aquela tragédia
Mancada! Todas as picapes do teste da imprensa quebraram, inclusive quando o engenheiro da GM tentou ensinar como guiar aquela tragédia
Já imaginaram: todo o corpo de engenharia de uma grande indústria automotiva desenvolver um produto, e, logo na estreia, ele quebrar? Pois isso realmente aconteceu, e a mancada foi feita por uma fabricante de origem norte-americana instalada no Brasil. Eles tinham uma linha de picapes que, realmente, era tida como uma das mais vendidas do mercado nacional, e gozavam da admiração do consumidor, que sabia, ao longo dos anos, que o produto era confiável, durável e robusto, como prometido.
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Mas aí os gringos acharam que, se lançassem uma versão 4×4 das tais picapes, suas vendas cresceriam ainda mais. Nesse “Brasilzão”, uma picape com tração nas quatro rodas as vezes é fundamental, especialmente nos interiores enlameados do país. A ideia não era lá errada, mas a execução foi catastrófica.
Lá pelos idos de 1987, começaram a trabalhar nesse novo produto, que, na realidade, era a adaptação das caminhonetes já existentes. Mas, não era fácil, já que as picapes tinham tração traseira no projeto original, e era preciso, da transmissão, tirar uma saída para o eixo dianteiro tracionar também.
Seguindo a tradição da suspensão independente nas rodas dianteiras, o conjunto da picape deveria ter uma composição igual. Diferencial fixado nas longarinas, semieixos, juntas universais nas pontas e um grande curso dessa nova suspensão frontal. Trabalho digno de uma boa engenharia, que seria finalizado no segundo semestre de 1989.
Nesse ano, os primeiros protótipos já rodavam, e alguém teve a infeliz ideia de convidar um grupo de jornalistas especializados para fazer uma trilha bem difícil no interior do estado de São Paulo. Um evento que durou três dias, passando por barrancos, riachos, aclives e declives de terra, e muita lama.
Os engenheiros orgulhavam-se do verdadeiro monstrengo com tração nas quatro rodas que eles haviam criado, e afirmavam que venderiam as picapes a diesel, gasolina ou álcool, com cabine simples ou dupla, para todos os tipos de público consumidor. Prometia ser um sucesso…
Mas, claro, algo deu errado. No tal “superteste” com os jornalistas, estavam cinco unidades, ainda protótipos, que deveriam suportar com galhardia os três dias de aventuras intensas pelo duro percurso escolhido. As tais picapes começaram a quebrar, uma atrás da outra! Das cinco, três “faleceram” já no primeiro dia de evento, não aguentando o repuxo. O que quebrava? A cruzeta dos semieixos dianteiros, nos momentos de maior exigência de força. O problema era muito mais frequente nas versões a diesel, por conta do torque amplo, bruto, logo nas baixas rotações. As juntas universais (ou cruzetas), não suportavam e logo “pediam arrego”.
O fato era agravado pelos motoristas mais nervosos, que não controlavam com delicadeza o pedal da embreagem. Mas, seja lá quem estivesse ao volante, todo o conjunto mecânico deveria aguentar. Afinal, quando o carro é vendido, ninguém pede o currículo do condutor. Seja lá quem for o motorista, o automóvel não deve quebrar no uso para o qual ele foi destinado.
No segundo dia, a quarta picape quebrou, com um dos mais cuidadosos e experientes jornalistas automotivos da história do nosso país ao volante. Restou uma unidade, mas não por muito tempo. Terceiro dia, um engenheiro de pós-venda da tal fabricante norte-americana (nem era da área de desenvolvimento) resolveu, por conta própria, fazer uma crítica aos jornalistas presentes, alegando que eles eram “braço-duro” e haviam quebrado quatro caminhonetes robustas como aquelas.
O interessante é que esse mesmo engenheiro, logo depois, pegou a quinta e última picape para mostrar como deveria ser a condução com a nova tração 4×4. Menos de 50 metros adiante, adivinhem? A caminhonete quebrou! Sobraram gargalhadas daqueles que deveriam ser os alunos, observando e aprendendo com o tal engenheiro, como aqueles veículos deveriam ser conduzidos. Ironia do destino.
O lançamento e início de vendas das picapes 4×4 ocorreram logo depois, por mais incrível que possa parecer. Os problemas das cruzetas não foram resolvidos, e logo as unidades vendidas começaram a quebrar. A solução foi tirar a tração nas quatro rodas do catálogo o quanto antes, alguns meses depois do fatídico teste com a imprensa. Ao menos, os exemplares restantes viraram peças valiosas nas mãos dos colecionadores.
Esse vexame não foi só dessa indústria automotiva norte-americana. Uma marca inglesa, bem conhecida e prestigiada no mercado nacional, também cometeu as suas mancadas, bem semelhantes à essa da fabricante norte-americana. A diferença é que os jornalistas brasileiros estavam no exterior, e não no interior de São Paulo. Fica para uma outra edição dessa coluna…
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