Eletrificação a passos curtos até nos games
Resistência à eletrificação é algo que vemos até mesmo nos videogames, muito em função da incapacidade de reproduzir os pontos positivos
Resistência à eletrificação é algo que vemos até mesmo nos videogames, muito em função da incapacidade de reproduzir os pontos positivos
A mobilidade está passando por uma transformação. A mais profunda desde a substituição do cavalo pelo motor a combustão. A eletrificação chegou como uma necessidade para reduzir emissões de poluentes.
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São quase 1,5 bilhão de veículos soltando fumaça na atmosfera todos os dias. Ou seja, não dá para não dizer que os carros ajudam a transformar o mundo numa defumadora. Há que já abraçou a tecnologia, mas também há quem ainda resista.
Fatores como infraestrutura de recarga, autonomia e preço são argumentos que nos fazem desistir da hipótese de ter um carro elétrico num futuro curto ou distante. Aqui no AutoPapo sempre que falamos de elétricos, notamos comentários acalorados em defesa e repúdio. Eu mesmo tenho minas ponderações sobre os elétricos.
Sei como é viajar de um estado para o outro com os olhos no nível da bateria e ter que reduzir o ritmo para não ficar parado sem pilha. Sei também como é ter que esperar duas horas para dar uma carga para poder voltar para casa. E também já vivi o dissabor de encontrar um carro térmico na vaga de elétrico. Mas tudo no âmbito da avaliação.
Ao mesmo tempo também notamos as vantagens desses carros. Certa vez, testando um modelo eletrificado, no meio de uma das incontáveis crises de abastecimento (que se tornaram moda nos últimos anos), passei por postos lotados e filas imensas.
Naquela hora, o motor elétrico se tornou algo precioso, ainda mais que meu carro próprio estava encostado com o tanque na reserva. Numa ultrapassagem, o torque imediato garante segurança até mesmo quando a janela é curta. Ou seja, tudo sem seu lado bom e ruim.
Mas esse espaço é sobre games. E vamos falar sobre carros eletrificados nos games. Assim como o cinema, a indústria de jogos se tornou uma vitrine para lançar tendências e necessidades de consumo. E os modelos elétricos já fazem parte das listas de vários títulos. Mas esses carros são marginalizados.
Um dos mais antigos foi, “Gran Turismo 5”, de 2010. Com mais de 1.200 veículos, o jogo trazia os elétricos Nissan Leaf, Tesla Roadster, Honda insight e Mitsubishi i-Miev. Também figuravam os híbridos Honda CR-Z e Dualnote, além do Toyota Prius. Todos carros “alienígenas” naquela época.
O game até trazia disputa de eletrificados. E o jogador os adquiria pela necessidade de vencer aquele desafio e ampliar a lista de conquistas. Em “PROJECT Cars”, de 2014, na lista de carros fabulosos como Ruf Yellow Bird, tinha também o um Aston Martin Rapide S Hydrogen Hybrid.
Confesso que tenho esse game desde que comprei meu PS4 e só pilotei esse carro para escrever esse artigo. Ele pesa quase duas toneladas (olha que era uma edição de pista com peso aliviado), espalha muito nas curvas e exige muito dos freios. Numa corrida, não será o primeiro a ser escolhido.
Nos games atuais como “Forza Motorsport 7”, “Gran Turismo 7” e “Assetto Corsa” há modelos eletrificados. Lembro quando o Porsche Taycan chegou ao mercado, logo passou a engrossar a lista de carros de “Gran Turismo Sport”.
Opa! vamos pilotar o elétrico. A falta de ronco e marchas fez a experiência ser medíocre. Pouco prático numa prova com modelos apenas a combustão, que eram mais leves e mais estáveis.
Minha “cisma” com o Taycan só passou quando eu realmente guiei aquele Porsche na pista, que acelera como a Millenium Falcon. Mas me incomodou não poder reduzir nas borboletas, pois ele tem marcha única.
Uma coisa que os games não conseguem reproduzir por exemplo, é a entrega de torque imediata. Aquela colada das costas no banco. A falta de ruído, que é algo confortável no uso de um elétrico, torna o game monótono. O ronco do motor é algo sensorial, que mexe com a libido ao volante ou diante do joystick.
Guiar um e-tron ou um Tesla S na vida real é algo fascinante. Mas nos games é uma bala com papel. Afinal, é até crueldade colocar um Renault Zoe ao lado de Mini JCW ou 500 Abarth. Ou mesmo um Mercedes EQE ao lado de um Red Pig ou 190E Evo II.
Estava dando uma espiada na minha lista de carros em “GT7”. Dos 118 carros da garagem apenas um era eletrificado. Um pacato Honda Fit, de geração passada. Isso porque foi o primeiro carro do jogo.
Uma saída para mostrar as virtudes seria um game apenas com elétricos? Saiba que ele já existe. Se chama “Electric Car Simulator 2023”, da Tit Software. Um jogo mobile com mais de 1 milhão de downloads no Google Play. Mas é quase um gol contra. Isso porque o jogo é ruim. O jogador que quiser guiar modelos diferentes terá que pagar por eles com dinheiro real.
Além disso, é um jogo que coloca carros reais como Tesla Model 3, Peugeot e-208, Volkswagen ID.3 (uma das poucas vezes que você irá ver esse carro de fato), dentre outros. O problema é que o game não traz uma proposta de explorar as potencialidades do elétrico, mas um monte de rampas e outras situações fantasiosas que funcionam em “Super Mario Kart”.
Carros híbridos são mais benquistos nos games. Modelos como Acura (Honda) NSX, Ferrari LaFerrari, Porsche 919 Spyder e McLaren P1 são figurinhas carimbadas em quase todos os games de corrida. Claro que seus módulos elétricos são meros detalhes, mas não deixam de ser eletrificados. São carros que não refletem a realidade do motorista comum.
O que quero dizer aqui é que toda novidade gera desconfiança e repulsa. Principalmente quando ainda há tantas incertezas e o custo de aquisição seja proibitivo para quase todo mundo. Mas fato é que as novidades são incorporadas em nossas vidas, uma hora ou outra a gente vira a chave.
Mas confesso que não vou trocar meu Godzilla R32 futucado por um elétrico, em “Gran Turismo”. Pelo menos por enquanto!
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