Como Frogger pode te fazer um ser humano bem melhor?

Clássico da Konami é uma obra-prima do design, mas também uma das melhores metáforas sobre o livre arbítrio do ser humano

frogger
Frogger é quase que uma aula de semiótica sobre como conduzimos a própria vida (Foto: Konami | Divulgação)
Por Marcelo Jabulas
Publicado em 10/03/2024 às 11h03

Quem acompanha este espaço sabe que falo de games. Geralmente jogos de carros. Escrevo sobre videogames como uma válvula de descompressão porque adoro jogar. E tem hora que fico de saco cheio de carro de verdade, de análise de mercado, de pastilha de freio, manga de eixo e gasolina batizada.

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E como é de praxe vou falar de um jogo: Frogger. Isso mesmo, aquele game do sapinho que precisa atravessar a avenida e o rio para chegar sua toca. Uma obra de arte de design e também uma fascinante peça de analogia do comportamento humano.

Frogger foi desenvolvido pela Konami para uma máquina de arcade da Sega, em 1981. Como todo jogo fliperama, ele é implacável. Extremamente difícil, é um jogo que exige decisões certeiras para que o jogador chegue ao objetivo.

Frogger dá liberdade total para o jogador decidir seu destino. Seu fim é a casinha e o meio é o caminho. E de forma maquiavélica o fim também justifica o meio. Mas as consequências são sofridas apenas pelo jogador que pode ver seu sapinho esmagado pelo automóvel ou engolido pelo jacaré. Um pulo em falso é o fim de tudo.

Frogger e a filosofia

Agora vamos filosofar. Frogger é como a vida. Temos a liberdade de fazer o que quisermos. E neste imenso leque de opções há também a possibilidade de escrevermos e falarmos o que queremos. No entanto, assim como no jogo, tudo que decidimos fazer tem um efeito. Podemos chegar na casinha do sapo ou morrer no meio da avenida.

E como tudo que falamos, escrevemos e fazemos tem consequências, vamos ver como os sapinhos se estabacam nas estradas e rios da vida, da internet e das redes sociais. As consequências têm graus e intensidades diversas. Pular na frente do carro sempre é uma burrice, mas há quem jogue assim todos os dias.

Na sexta-feira (8), alguns “pensadores” de redes sociais se levantaram para reverberar seu brado em nome de suas convicções rupestres. Foi um pequeno levante para rechaçar um conteúdo que produzimos vinculando o automóvel com a mulher, para marcar o Dia Internacional das Mulheres.

Para quem não sabe, o Dia das Mulheres não é para dar florzinha ou sobremesa. É um dia para lembrar das conquistas da mulher como integrante da sociedade. Um dia para marcar lutas, mortes e selvagerias pelo fato de serem mulheres. Até o final deste texto alguma mulher será violentada ou assediada. É lamentável.

E é um dia para refletir que ainda há muito a ser conquistado. E quando resolvemos revelar alguns dados de como as mulheres são protagonistas no Clube do Bolinha do automóvel, o tempo fechou.

Um dos nobres batráquios gastou seu tempo para redigir  o seguinte comentário: “Nem no dia Nacional (SIC) da Mulher, elas perdem a oportunidade de querer se comparar aos homens”, cita o beócio anfíbio como se vivesse um momento de pânico, como se a toca do sapinho já tivesse sido ocupada.

Numa pequena visita ao seu perfil do cujo, ficou claro que o comportamento deste dicó jamais poderia ser diferente. Uma mulher não precisa se comparar a nenhum homem, caro obtuso. Elas nem querem isso. Faça uma enquete.

Outro pacóvio, com perfil assustador, afirma que a habilitação da mulher é um porte de arma. Não precisa ler Freud para entender o grau de paranoia destes pobres ignaros. Fofo, você não está sendo seguido ou ameaçado. Geralmente é o contrário, basta observar as estatísticas.

Dicotomia pela embreagem

Numa dessas “epifanias”, o pascápio cururu considera que um motorista “de verdade” deve ter conhecimento aprofundado de mecânica, não pode em hipótese alguma raspar uma roda no meio fio. Pois conduzir um automóvel do ponto A ao B não basta.

Mas dirigir é justamente deslocar do ponto A ao B, assim como o sapo do videogame. É física! Para nosso amigo saltitante, o mundo é dividido por quem sabe ou não fazer uma embreagem durar.

E nessa lógica vem a seguinte pergunta: todo homem troca a própria embreagem? Para ser um sujeito digno de respeito, é preciso saber ler a vareta de óleo? Se fosse assim, oficinas de retífica e donos de guincho já teriam ido à falência.

Outros comentários foram removidos devido ao grau de jocosidade e total falta de respeito, não somente com a excelente jornalista que buscou jogar farol na escuridão da ignorância de uns, mas com toda e qualquer mulher.

Prezados batráquios, vocês não precisam gostar da mulher, não precisam ser amigos de uma mulher, nem precisam falar com uma mulher. Mas vocês devem respeitar toda e qualquer mulher. Não sejam néscios que acreditam que isso é bacana, obedientes lacaios dos profetas do Twitter.

Vivee é como o jogo do sapinho. Não adianta sair em disparada, sem parar para pensar, pois não se chega à casinha. O caminhão vai te atropelar, a pedra falsa vai te jogar na correnteza. E com as palavras é assim também.

Por favor, senhores, que estufam o peito diante do teclado do computador ou do celular para regurgitar suas asneiras, se não forem capazes de falar algo útil, fiquem em silêncio. Ninguém é obrigado a fazer papel de idiota.

O saudoso Umberto Eco, pensador italiano e uma das mentes mais brilhantes do século 20, certa vez disse que: “a Internet deu voz aos idiotas”. É a mais pura verdade. Em outras palavras, para não fugirmos de nosso tema, a Internet nos permite saltitar entre carros a hora que quisermos, mesmo sabendo que seremos esmagados por pequenos vexames ou grandes tragédias.

Talvez você não queira calcular seus saltos no videogame da vida, apesar de eu recomendar a reflexão. Mas faça por sua mãe, filha, esposa, irmã, sobrinha, colega, vizinha, ou sua neta. Pelo menos tente se colocar no lugar delas. O jogo delas é sempre em um level mais difícil que o seu.

Assim, recomendo que todos joguem Frogger. Faz bem para a vida!

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