Gasolina sintética no seu motor: adeus petróleo! 

Ok, carro será elétrico. Mas, como reduzir as emissões dos mais de um bilhão de veículos já rodando no mundo? 

e fuel
É possível produzir combustível em laboratório (Foto: Shutterstock)
Por Boris Feldman
Publicado em 31/12/2022 às 09h03

Combustível sintético, esta é a solução para que os veículos com motores a combustão continuem sendo utilizados para sempre. E com baixíssima emissão de carbono. Esta “gasolina” não obtida a partir de combustível fóssil foi desenvolvida pela engenharia da Porsche e a fábrica piloto, construída no sul do Chile, já começou a produção em dezembro.

O plano é produzir 130 mil litros em 2023, só para abastecer os veículos de competição da marca e os carros de teste. Mas, em dois anos, o volume produzido sobe para 55 milhões de litros e, até 2027, evolui para 550 milhões de litros anualmente. Uma gota no oceano, se imaginarmos as centenas de bilhões de litros necessários para abastecer toda a frota mundial. Mas o plano é de construir outras fábricas: as próximas seriam na Austrália e Estados Unidos.

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A ideia é substituir a geração eólica pela solar em locais com menor intensidade de ventos.  A empresa criada para a produção é a HIF (Highly Innovative Fuels), que tem participação da própria Porsche (12,5%), Siemens Eletrica, Exxon Mobil e outras.

Porsche pretende continuar com produção dos motores a combustão
Hoje, Porsche lidera o desenvolvimento do combustível sintético (Foto: Porsche | Divulgação)

Como é produzida a gasolina sintética, chamada e-fuel?

A gasolina é formada por cadeias de hidrocarbonetos, ou seja, composta basicamente de hidrogênio (H2) e carbono (C). Ela pode, portanto, ser obtida sem necessidade do petróleo, a partir de reações químicas com esses dois componentes.

A operação exige a presença de água, dióxido de carbono (CO2) e vento.

O H2 é obtido através da hidrólise da água (H20). Faz lembrar a famosa picaretagem dos “geradores de hidrogênio” oferecidos na internet para se utilizar no automóvel. Com uma diferença essencial: o hidrogênio obtido é o “verde”, ou seja, a eletricidade para a eletrólise vem de uma turbina eólica (da Siemens). O sul do Chile (Magallanes, na Patagonia) foi  escolhido por ser uma região de ventos abundantes o ano inteiro. Além do H2, o oxigênio obtido na reação é devolvido (limpo) para a atmosfera.

O carbono é obtido pelo processo de captura do CO2, uma operação que “limpa” a atmosfera por se utilizar do dióxido de carbono, responsável pelo efeito estufa. As moléculas de H2 e C formam o metanol sintético que dá origem ao e-fuel, ou e-gasolina.

Então, a fábrica de Horu Oni (sul da Patagônia) é ecologicamente correta e, além de não poluir, ainda limpa o meio ambiente.

fabrica de combustivel sintetico porsche chile
Fábrica de combustível sintético da Porsche (e parceiras) no sul do Chile (Foto: Porsche | Divulgação)

Qual motor pode usar gasolina sintética?

A gasolina sintética pode ser utilizada em qualquer motor a combustão e a emissão de poluentes é cerca de 90% inferior à dos derivados do petróleo. Mas pode-se dizer que se aproxima do “carbono zero”, pois seu processo de obtenção “limpa” o ambiente com redução do efeito-estufa.

Existem várias outras aplicações do e-fuel, inclusive em aviões e navios, onde a alternativa da energia elétrica é quase impossível pelo peso das baterias.

Além disso, o hidrogênio verde pode ser utilizado em diversos outros setores da economia, para produzir o e-metanol e a e-amônia (para fertilizantes, entre outros). Vale destacar que, das emissões de CO2 no planeta, apenas 40% se originam da geração de energia nos transportes, pois 60% vem da indústria, mineração, construções e outras.

Frota de 1,3 bilhão de carros

Como disse Michael Steiner, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Porsche, “o problema da poluição não é o motor, mas o combustível”. E enfatiza que a empresa continua focada no carro elétrico que brevemente representará 80% de sua produção. “Mas os 1,3 bilhão de automóveis que rodam hoje no mundo vão continuar a existir, circular e poluir a atmosfera. Este combustível vai contribuir para amenizar este problema”, disse o pesquisador.

Audi também investe

A Audi (assim como a Porsche, do grupo VW) também desenvolve um combustível sintético, com um conceito um pouco diferente, pois utiliza etanol e biomassa para produzir a gasolina, chamada R33 Blue Gasoline (por conter apenas 67% a partir de combustível fóssil). Já o R33 Blue Diesel é obtido com 26% de combustível parafínico renovável (como, por exemplo, o HVO – óleo vegetal hidrotratado) e 7% de biodiesel. Ambos reduzem em cerca de 20% as emissões de carbono.

Produção ainda experimental e abastecendo apenas os carros da linha de montagem, de sua frota e de competição. Assim como a Porsche, ela tem seu principal foco no desenvolvimento de elétricos, mas avança também em combustíveis “limpos” para os motores a combustão.

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7 Comentários
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Maria 6 de janeiro de 2023

Borus, boa noite!
Como comentado pelo RUYJR, tem a questão da água. Se a produção de cerveja e refrigerante tem comprometido a água doce para uso da população imagina a água doce como insumo na produção da gasolina sintética?

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RuyJr 3 de janeiro de 2023

E mais uma terceira questão: combustível para ser utilizado onde, mesmo ?!?!
Ah, na Patagônia … sim, sim ! Com aquela densidade automobilística da região … É, mas, deve ser possível estocar e, depois, transportar para próximo de um centro consumidor … Madagascar, talvez !

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RuyJr 3 de janeiro de 2023

Lembrei doutra questão: com a desculpa de q só há vento adequado no sul do Chile (!), fica fácil evitar q o Mosela, o Reno, o Ruhr, o Danúbio virem depósitos de resíduos tóxicos …

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RuyJr 5 de janeiro de 2023

E mais uma terceira questão: combustível para ser utilizado onde, mesmo ?!?!
Ah, na Patagônia … sim, sim ! Com aquela densidade automobilística da região … É, mas, deve ser possível estocar e, depois, transportar para próximo de um centro consumidor … Madagascar, talvez !

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Francisco Luzimar C. Lima 2 de janeiro de 2023

Quando houver a necessidade de descarte dessas baterias, haja lixo tóxico. E o alto custo de reposição não compensa a economia do combustível fóssil. Não comprarei veículo elétrico tão cedo…

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Santiago 1 de janeiro de 2023

Juntando-se combustíveis limpos e sustentaveis com as tecnologias híbridas já existentes e em desenvolvimento, a emissão de carbono praticamente zera.
Por outro lado, os carros elétricos à bateria não são exatamente amigáveis ao meio ambiente, tanto pelo processo de fabricação dos veiculis, quanto pela questão da obtenção da eletricidade necessaria ao abastecimento

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RuyJr 1 de janeiro de 2023

Boa noite, Boris !

Faltou um detalhe: a água a ser utilizada do mar ?!

Porque, caso contrário, a “solução” não me parece nada convincente … deixar de ter água doce para produzir combustível ?!?!

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