Guerra dos carros chineses está apenas começando

Chineses deixaram de construir automóveis rudimentares e passaram a oferecer automóveis com tecnologia de ponta

gwm haval h6 gt azul escuro frete em movimento autodromo
Haval H6 GT chegou com conjunto hibrido de quase 400 cv e preços agressivos (Foto: GWM | Divulgação)
Por Sergio Quintanilha
Publicado em 12/03/2023 às 11h03
Atualizado em 13/03/2023 às 13h50

Esta semana a chinesa GWM finalmente divulgou os preços de toda sua linha de carros no Brasil. Três modelos Haval H6 já estão em pré-venda no mercado com preços bem competitivos (mas não baratos, pela categoria dos carros).

VEJA TAMBÉM:

O Haval H6 Premium HEV (híbrido completo), vai direto no coração do Toyota Corolla Cross Hybrid com o preço de R$ 209.000. O carro chinês é maior e dá um banho de potência (243 cv contra 122 cv), sem contar que tem um acabamento superior e uma lista interminável de itens eletrônicos de segurança, conectividade e tecnologia.

O Haval H6 Premium PHEV (híbrido plug-in) compra briga num segmento mais sofisticado, o do Jeep Compass 4xe. Além de ser muito mais potente (393 cv contra 240 cv) e entregar muito mais torque (77,7 kgfm contra 38,7 kgfm), o SUV chinês é absurdamente mais em conta: a diferença de preços entre os dois híbridos plug-in passa de R$ 69 mil reais. O Haval H6 custa R$ 269.000 e o Compass 4xe sai por R$ 338.400.

De quebra, os chineses ainda contam com o Haval H6 GT, que custa R$ 299.000, oferecendo aos brasileiros endinheirados a chance de comprar um SUV esportivo abaixo de R$ 300 mil. Outras marcas também são afetadas pela investida da GWM com seu “trio elétrico” Haval.

A marcha dos carros chineses

Mas não é só isso. Outra chinesa, a BYD, estaria por um fio para anunciar a compra da fábrica da Ford em Camaçari, BA. Porém, conforme reportagem de Paula Gama, o acordo entre a BYD e o governo da Bahia avança na questão da mobilidade urbana. O presidente Lula pode voltar da viagem à China com um trunfo midiático: a substituição da Ford pela BYD na produção de carros na Bahia.

fabrica ford camacari compra byd 2
BYD está de olho na fábrica da Ford, em Camaçari (BA) (Foto: Ford | Divulgação)

Mais do que isso, se a BYD realmente começar a produzir carros no Brasil, eles certamente serão elétricos. No mínimo, híbridos na fase inicial, como é o plano da GWM para Iracemápolis, SP, na fábrica que comprou da Mercedes-Benz. Para muitos analistas, embora seja menor atualmente em volume, a BYD tem mais potencial do que a GWM, pois é a terceira fabricante de veículos mais valorizada do mundo, atrás apenas da Tesla e da Toyota, pois ultrapassou nada menos que a gigante Volkswagen.

A china já superou há muito tempo a discussão entre carros elétricos e carros a combustão, que persiste no Brasil devido ao lobby da Anfavea a favor do etanol e dos interesses da Stellantis e da própria Volkswagen. Para marcas populares como Fiat e Volks, que já estão investindo montanhas de dinheiro na Europa e na China, quanto mais o Brasil continuar com os carros a combustão, melhor, pois elas ganham muito dinheiro aqui sem ter que reinventar a roda.

Mas os carros chineses estão entrando na briga e isso vai mudar o cenário. Para a China, quanto mais mercados estiveram abertos para os veículos 100% elétricos, melhor. E o Brasil, com o tamanho que tem, pode ser um mercado poderoso para a China. Se a alíquota de imposto zero para carros 100% elétricos persistir por mais uns dois ou três anos, carros chineses a bateria vão invadir o mercado e criar um novo tipo de consumidor. Os jovens não discutem se o futuro vai ser elétrico, conectado e descarbonizado – eles fazem questão disso, como resposta a gerações anteriores que encardiram o mundo, destruíram o meio ambiente, aqueceram o planeta e colocam suas vidas (a dos jovens) em risco. Os carros fazem parte desse mundo, queiram ou não os incautos.

Carros chineses e elétricos na América do Sul

Ainda é cedo para saber que papel terão a Caoa Chery e a JAC Motors nesse novo cenário. A Caoa já tem produção local em parceria com a Chery, mas a montadora chinesa pretende fabricar carros 100% elétricos na Argentina. Isso pode ser um sinal de que os chineses enxergaram muito potencial no mercado sul-americano (a Argentina já se decidiu pelo carro elétrico) e não querem ficar reféns da estratégia conjunta que podem ter com a Caoa.

chevrolet bolt portal 1 carros chineses
GM pode deixar de fabricar caso o Brasil não se consolide como fabricante de elétricos (Foto: Chevrolet | Divulgação)

Quanto à JAC, pode crescer se conseguir uma boa evolução de seus carros agora que teve grande parte de sua operação na China comprada pela Volkswagen. Enquanto isso, a GM assiste de camarote e torce pelo sucesso dos carros chineses no Brasil, pois isso facilitará sua intenção de ter uma Chevrolet 100% elétrica a partir de 2035, decisão que já está tomada, independentemente da escolha que o Brasil fizer.

Caso o Brasil não tenha fôlego para produzir carros elétricos, a GM vai fazer igual à Ford: passará a ser uma importadora e produzirá em outros países; na Argentina, por exemplo. Podem ter certeza: não haverá um Onix ou Tracker ou Montana a combustão na linha Chevrolet 2035. Isso já está decidido por Detroit.

Como se vê, a guerra dos chineses está apenas começando. Desta vez os carros não brigam com veículos mal construídos e cheios de equipamentos, como no comecinho da década de 2010, mas sim com veículos de padrão global e que estão trazendo tecnologias novas, a ponto de emparedar carros de marcas fortes como Toyota e Jeep.

Newsletter
Receba semanalmente notícias, dicas e conteúdos exclusivos que foram destaque no AutoPapo.

👍  Curtiu? Apoie nosso trabalho seguindo nossas redes sociais e tenha acesso a conteúdos exclusivos. Não esqueça de comentar e compartilhar.

TikTok TikTok YouTube YouTube Facebook Facebook X X Instagram Instagram

Ah, e se você é fã dos áudios do Boris, acompanhe o AutoPapo no YouTube Podcasts:

Podcast - Ouviu na Rádio Podcast - Ouviu na Rádio AutoPapo Podcast AutoPapo Podcast
SOBRE
10 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Comentários com palavrões e ofensas não serão publicados. Se identificar algo que viole os termos de uso, denuncie.
Avatar
Edilson Bolanho 14 de março de 2023

Se são tão bons, porque os famosos TIGOS estão perdendo tanto em valores de recompra? Enquanto isso a Volkswagen o carro usado é mais caro que um zero.

Avatar
DIEGO 14 de março de 2023

É uma vergonha um país como nosso possuindo infraestrutura, matéria prima e mão de obra qualificada não possuir sequer uma montadora de veículos 100% nacional.

Avatar
Felipe 13 de março de 2023

Parabéns Sérgio ótimo e lúcido texto. Só li verdades.

Avatar
João 13 de março de 2023

A China começou a produzir carros muito depois que o Brasil, inclusive um nacional, o Santana e já superou em termos de tecnologia e qualidade. O problema do Brasil não são os políticos nem juízes, é o próprio povo que é limitado demais.

Avatar
Paulo 13 de março de 2023

Bonitos, potentes, mas não exatamente populares
. Muito distantes do cidadão comum. Só sonho.

Avatar
Paiva13 13 de março de 2023

Que bom que AUTOPAPO mudou o discurso e reconhece que o futuro é de ??️? elétricos. Sem essa corruptela brasileira de híbrido com etanol.

Avatar
Marcelo 12 de março de 2023

Ok, na teoria tudo muito bonito…mas e depois peças de manutenção? Um farol, uma porta, vidros.
Tem que ser realista, como exemplo a compass 4xe. Se acontece algum sinistro, pode-se pegar as peças da unidade nacional, pois são intercambiáveis, Toyota é feito no Brasil…
Sim, carro chinês vai ser uma dor de cabeça, mas eu não coloco meu dinheiro ainda neles, vai demorar um bom tempo

Avatar
Jo 12 de março de 2023

Na maioria dos casos, byd e haval tem melhor razão custo benefício que seus concorrentes. A ver isso…

Avatar
Carlos 12 de março de 2023

Apesar dos fãzocas de banheiras estadunidenses, é cada dia mais claro que a China também tomou a dianteira na evolução tecnológica veicular.
Primeiro foram os japoneses na década de 1980, 20 anos depois os coreanos e, agora, a vez da LOCOMOTIVA global.

Avatar
Magnus de Souza 14 de março de 2023

Sou apaixonado por carros potentes,econômicos,bem acabados e confortáveis ,como a China está integrada ao mercado global ,vai acabar ditando as regras para esse mercado que promete invadir o mundo ,proteger o meio ambiente e o bolso do consumidor com durabilidade é o plus da nova década .

Avatar
Deixe um comentário