Foi lançado oficialmente o primeiro Guia de Sinalização para Rotas de Cicloturismo e Trilhas de Ciclismo de Montanha no Brasil. A iniciativa foi proposta pela Aliança Bike, em parceria com a Rede Brasileira de Trilhas e o Observatório do Cicloturismo, com apoio institucional do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Instituto Chico Mendes (ICMBio), entre outros órgãos públicos.
Este guia é inédito no país, pois busca oferecer diretrizes claras para implantação, manutenção e sinalização de rotas (seja de cicloturismo ou MTB) com padrão técnico, coerente e seguro, espalhado por diferentes biomas, regiões administrativas e tipos de trilha e percurso. Não estabelece normas obrigatórias, mas sim um referencial técnico e operável, respeitando a legislação vigente e competência dos entes federativos, ONGs e comunidades locais.
Por que um guia de sinalização era uma lacuna importante
Fragmentação de padrões: até então, muitos roteiros de cicloturismo no Brasil tinham sinalização improvisada ou adaptada de modelos estrangeiros, sem considerar clima, visibilidade, durabilidade dos materiais, severidade dos percursos ou conexão entre rotas. O novo guia busca padronizar criteriosamente isso.
Potencial de integração territorial: como afirmado por Pedro da Cunha Menezes, do Ministério do Meio Ambiente, o guia visa possibilitar que “um ciclista possa sair pedalando do Amapá e chegar ao Rio Grande do Sul com sentido de continuidade”. Essa ideia de conectividade nacional é ambiciosa, mas necessária para ampliar o turismo sobre duas rodas.
Desenvolvimento local e socioambiental: além dos benefícios para ciclistas, rotas bem sinalizadas estimulam o turismo sustentável, promovem geração de renda em comunidades do entorno, ajudam na preservação ambiental (com menor impacto, controle de trilhas) e fortalecem o reconhecimento de territórios.
O conteúdo do guia: o que inclui e como foi produzido
(Foto: Aliança Bike)
O guia foi construído após dez encontros técnicos com participação de especialistas, gestores públicos, pesquisadores, operadores de trilhas, representantes da sociedade civil, ciclistas e empreendedores locais.
Ele cobre:
Tipologias de rotas e trilhas (diferença entre cicloturismo suave e percursos de montanha mais severos), classificações de grau de dificuldade ou severidade.
Regulamentação viária aplicável, normas legais, segurança, aspectos de responsabilidade institucional.
Sinalização multimodal: como rotas de cicloturismo devem dialogar com trilhas, com estradas rurais, com acessos rodoviários, pontos turísticos, e identificar bem trechos de subida, descida, interseções, perigos, pontos de descanso.
Escolha de materiais: durabilidade, resistência ao tempo/clima, visibilidade, manutenção, adequação ao ambiente de uso.
Etapas para elaboração de projetos de sinalização: diagnóstico, planejamento, instalação, manutenção e monitoramento.
O que deve mudar com o novo guia: implicações práticas
Segurança ampliada: trilhas bem sinalizadas reduzem riscos de acidentes, desorientação ou destruição ambiental causada por uso indevido de rotas. Isso favorece não só cicloturistas experientes, mas especialmente iniciantes.
Melhor experiência do usuário: indicação de rotas, avisos de desafios, pontos de serviço (abastecimento, suporte), interseções, compatibilidade com mapas e GPS tornam o ciclismo de rota mais confiável e atraente.
Planejamento mais profissional: prefeituras, entidades de turismo, empreendimentos locais vão ter uma referência técnica para apoiar decisões sobre traçado, conservação, sinalização, marketing de roteiros.
Desenvolvimento econômico local: pousadas, restaurantes, oficinas de bike, guias locais, transporte de apoio, tudo isso pode crescer se roteiros bem estruturados atraírem mais pedalantes nacionais e estrangeiros.
Preservação ambiental: diretrizes sobre uso de materiais sustentáveis, respeito às normas de Unidades de Conservação, manutenção preventiva das trilhas ajudam a reduzir impacto.
Desafios para efetivar o guia
(Foto: Caminho da Fé)
Embora seja um passo significativo, há obstáculos a serem superados:
Capacidade financeira e orçamento local: sinalização exige investimento inicial (materiais, instalação) e manutenção contínua. Municípios de pequeno porte ou áreas remotas podem carecer desses recursos.
Coordenação institucional: o guia é referencial, não obrigatoriedade. A implementação depende de adesão voluntária, articulação entre governos municipais, estaduais, órgãos federais, comunidades e entidades privadas.
Formação técnica: quem vai implantar (gestores locais, proprietários de trilhas, empresas turísticas) precisa de capacitação em leitura de percursos, manutenção e monitoramento da sinalização.
Conectividade entre rotas: para efetivamente permitir continuidade (ex: atravessar regiões), rotas precisam estar bem conectadas geograficamente, com infraestrutura de apoio (estradas de acesso, transporte, alojamento).
Legislação ambiental e licenças: em muitas regiões, especialmente em Unidades de Conservação, rotas ainda dependem de licenças especiais, avaliação de impacto, autorização de órgãos competentes (o guia orienta sobre isso, mas há entraves práticos).
O futuro do cicloturismo no Brasil com esse guia
Com a sinalização padronizada, espera-se que:
Maior segurança traga aumento de praticantes e público visitante, inclusive de fora do país.
Roteiros menos conhecidos se tornem mais acessíveis e visíveis, diversificando destinos turísticos.
Inclusão de cicloturismo no planejamento de turismo regional e estadual como produto turístico consolidado.
Melhor integração entre infraestrutura de mobilidade urbana e ecoturismo: ciclovias urbanas ligadas a trilhas rurais, transporte até roteiros, alojamentos locais, logística de apoio.
Estudos como os exibidos no mapeamento do cicloturismo brasileiro apontam potencial de crescimento, se forem superadas as lacunas de infraestrutura, informação e governança.
O Guia de Sinalização para Rotas de Cicloturismo e Trilhas de Ciclismo de Montanha lançado em julho de 2025 representa um divisor de águas para o cicloturismo no Brasil. É um instrumento que, se bem aplicado, pode elevar a segurança, melhorar a experiência de quem pedala, valorizar territórios e gerar desenvolvimento local sustentável.
Para quem não é ciclista mas admira viagens, natureza, esporte ao ar livre, esse guia significa que cada novo trajeto de bicicleta poderá ser mais claro, mais seguro e mais prazeroso.
E para quem pedala: é um convite para participar desse novo momento, cobrar qualidade, explorar rotas bem sinalizadas e ajudar a construir um Brasil de ciclovias, trilhas e estradas onde pedalar seja uma experiência de descoberta, autonomia e respeito ao ambiente.
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