Manipulação de resultado: 5 vezes que as corridas da F1 foram definidas fora das pistas
Apesar de não ter sido descoberto nenhum esquema com casas de apostas, a Fórmula 1 também já teve manipulação nas corridas ao longo da história
Apesar de não ter sido descoberto nenhum esquema com casas de apostas, a Fórmula 1 também já teve manipulação nas corridas ao longo da história
O início desta semana foi marcada pela denúncia do Ministério Público de Goiás, sobre um esquema de manipulação em partidas de futebol para beneficiar, de alguma forma, as casas de apostas que se fazem cada vez mais presentes no Brasil.
As investigações apontam que, além das plataformas, jogadores e até árbitros podem estar sendo beneficiado nesse esquema, que pode ser colocado como um dos maiores escândalos esportivos da história do país.
Mas, infelizmente, escândalos como esse são comuns em diversos outros esportes ao redor do mundo, e foi possível perceber isso algumas vezes na Fórmula 1, por exemplo.
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Por isso, o AutoPapo relembra cinco casos de manipulação de corridas na Fórmula 1. Lembrando, no entanto, que os fatos citados aqui, não têm nenhuma ligação comprovada com casas de apostas.
Lewis Hamilton e Max Verstappen protagonizaram uma das temporadas mais intensas da história da Fórmula 1, em que eles chegaram à última etapa do campeonato empatados. Não o suficiente, o título só foi decidido na última volta da corrida.
Hamilton liderava a prova com folga sobre Verstappen, até que Nicholas Latifi bateu sua Williams a poucas voltas do fim do GP de Abu Dhabi. A Mercedes optou por não trocar os pneus de Lewis por duas razões: uma ida aos boxes poderia resultar na perda da posição para Verstappen e, teoricamente, não havia tempo hábil para a corrida recomeçar, o que resultaria no fim da temporada com os carros atrás do safety-car.
A Red Bull, que não tinha nada a perder e já estava atrás, chamou o piloto holandês para calçar os pneus macios e tentar um ataque sobre o rival. A ‘manipulação’ veio pouco depois. Na ânsia de entregar entretenimento ao público, o diretor de provas Michael Masi agiu de forma equivocada no procedimento de relargada.
De acordo com o Artigo 48.12 do regulamento: “Uma vez que o último carro retardatário tenha passado o líder, o safety-car retornará aos boxes no fim da volta seguinte”. O que não aconteceu em Abu Dhabi.
Naquela corrida, na volta 57 das 58 previstas, a direção de prova autorizou apenas Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel a se realinharem – retardatários que estavam entre Lewis e Max. Daniel Ricciardo, Lance Stroll e Mick Schumacher, que não estavam entre os postulantes ao título, não tiveram o mesmo direito.
No início da volta 58 – enquanto os retardatários ainda faziam a volta de realinhamento – a bandeira verde foi acionada. Quando, na verdade, só poderia ter sido autorizada a partir da 59 (caso ela existisse). Com pneus mais velhos, Hamilton virou presa fácil de Verstappen, que ultrapassou e conquistou o primeiro título na categoria.
O procedimento correto – apesar de sem graça – seria terminar a prova atrás do safety-car, como já aconteceu em outras oportunidades. A FIA abriu uma investigação sobre o caso e decidiu retirar Masi do cargo de Diretor de Provas. Em março de 2022, a FIA divulgou seu relatório final sobre o episódio, admitindo “erro humano” e apontando fatores que levaram aos erros em Abu Dhabi. A entidade ainda reconheceu que o regulamento não foi seguido.
O caso, conhecido também como Singapuragate, foi o caso de manipulação da história da Fórmula 1, e, possivelmente, de todo o esporte mundial.
Na ocasião, Nelson Piquet Júnior bateu de forma proposital para beneficiar a estratégia que a Renault adotou para fazer Fernando Alonso vencer a corrida.
Naquele ano, a Renault não tinha o melhor carro do grid, mas estava andando muito bem na pista de Marina Bay. O bicampeão mundial tinha um bom ritmo nos treinos livres, mas um problema na Renault o impediu de disputar a pole-position e forçou Alonso a largar do fim do grid.
Mas o chefe da equipe Flavio Briatore e o engenheiro Paty Simonds tinham um plano para vencer a corrida. Para isso, Fernando largou de pneus duros foi aos pits na volta 12. Três voltas depois, Nelsinho bateu de forma proposital em um ponto estratégico que obrigava a entrada do safety-car na pista.
Como já havia parado, Alonso ficou mais próximo dos líderes e se valeu do bom ritmo que tinha para vencer a corrida. O caso da manipulação se tornou público um ano depois, quando Piquet Jr. foi dispensado da Renault e revelou o caso.
Symonds e Briatore foram banidos do esporte, Nelsinho não sofreu punições por ter contribuído com as investigações. Alonso também saiu impune pois as investigações concluíram que ele não sabia de nada.
Ayrton Senna e Alain Prost talvez sejam o maior sinônimo de rivalidade na Fórmula 1, e eles disputaram o título de forma direta por nada menos que três anos consecutivos.
Em 1991 Prost tinha a vantagem na reta final, e Senna precisava vencer o GP do Japão para levar a decisão para a última etapa, na Austrália.
Na classificação, o brasileiro anotou a pole-position. Mas na corrida, o francês largou melhor e assumiu a ponta na primeira curva. O ‘professor’ se manteve na frente até a volta 47, quando a prova chegou ao estopim.
Senna armou o bote na chicane que antecedia a reta principal, colocou a McLaren pelo lado de dentro, mas acabou sofrendo uma fechada de Prost, e eles se tocaram. Alain acabou abandonando. Ayrton pediu a ajuda dos ficais e conseguiu voltar para a corrida.
O brasileiro precisou ir aos boxes trocar a asa dianteira, voltou para a pista em segundo e com 3 voltas do fim recuperou a liderança, venceu o GP do Japão e, teoricamente, tinha levado a disputa para a corrida derradeira.
Mas antes mesmo da cerimônia do pódio, Senna acabou punido e foi desclassificado da prova. Prost se sagrou tricampeão.
Segundo o artigo 56 do regulamento da época, caso um carro ficasse parado no meio da pista, os comissários poderiam removê-lo para um local seguro e, se o piloto conseguisse fazer o motor voltar a funcionar (como Senna), o piloto poderia voltar a prova.
A irregularidade, no entanto, foi por Ayrton ter cortado a chicane quando voltou para a corrida. A decisão da direção foi controversa, porque para não cortar a curva, o brasileiro teria de ir no sentido contrário do traçado. Além disso, ele não ganhou vantagem alguma com a manobra, visto que já havia perdido muito tempo com a batida.
Inúmeros fatores contribuíram para o GP de Mônaco de 1984 ficar marcado na memória dos fãs da Fórmula 1. Entre os principais, a forte chuva que caia no principal, e a performance notória de Senna com a Toleman.
Aquela temporada foi dominada pela McLaren e Alain Prost e Niki Lauda foram os grandes protagonistas daquele ano. No GP de Mônaco, Lauda acabou abandonando a prova, e Prost teve caminho livre para vencer e ampliar a liderança no campeonato.
O francês, com problemas nos freios, tinha sua posição ameaçada pelo brasileiro que estava voando na chuva torrencial que caía em Mônaco. Prost chegou a sinalizar com as mãos pedindo o fim da prova, devido as condições de pista inseguras.
Quando Ayrton se aproximava de Prost a direção de prova encerrou a corrida de forma precoce, alegando condições inadequadas para correr.
Anos mais tarde Jacky Ickx, comissário em Mônaco em 1984, confessou a Reginaldo Leme que tomou essa atitude depois de ceder à pressão do presidente da FIA, Jean-Marie Balestre. Balestre, francês como Prost, tomou a decisão como forma de beneficiar o compatriota na disputa pelo título.
O tiro, no entanto, saiu pela culatra. Como ainda não haviam sido percorridos 3/4 da distância original, a pontuação foi atribuída pela metade, e Prost levou apenas 4,5 em vez de 9 pontos pela vitória. Na classificação final do campeonato, o francês perdeu para Lauda por meio ponto de diferença. Caso a corrida tivesse prosseguido, e o francês, levado a pontuação plena de primeiro ou segundo colocado (9 ou 6 pontos), ele teria sido campeão.
Nelson Piquet brigou com Carlos Reutmann até o fim do Mundial de Fórmula 1 de 1981, quando conseguiu superar o argentino na última corrida, realizada em Las Vegas. No entanto, aquele campeonato também foi alvo de manipulação.
Reutmann, da Williams, chegou aos Estados Unidos com um ponto de vantagem sobre Piquet, da Brabham, e chegou a anotar a pole position para a corrida.
Mas anos depois, Bernie Ecclestone, homem à frente da Brabham na época, admitiu que se valeu de meios não legais para beneficiar o seu piloto na briga pelo caneco.
Na série documental “Lucky!”, Ecclestone admitiu que teve um suborno para beneficiar o piloto brasileiro.
“Tinha muita força G pelo jeito que as curvas foram colocadas [no sentido anti-horário]. E, depois do primeiro dia de testes, ficou claro que os pilotos teriam dores no pescoço.
Carlos conseguiu falar com um massagista nos boxes, fui ver esta pessoa e, após uma discussão financeira, eles decidiram favorecer Nelson. Não sei se já contei a Carlos.”
Apesar de ter saído da ponta, o argentino acabou cruzando a linha de chegada em oitavo, enquanto Nelson terminou em quinto, somou os pontos necessários e venceu o rival por um ponto de diferença (50 a 49).
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O sentido de manipular, quer dizer tomar decisões conscientes para alterar o resultado, só dependendo daquela situação, e que foram tomadas de forma deliberada. Das citadas, concordo apenas com duas: a do Nelsinho Piquet, em 2008, e do Balestre, em 1989. O caso de 1981 dependia muito mais dos pilotos do que alguma decisão externa. Em tese, os dois pilotos foram beneficiados pela decisão. Em 1984 e 2021 não foi comprovado casos de corrupção ou preferência explícita por algum resultado. Aliás, no final das contas, foi a citada decisão que tirou o título do Prost.