Maverick foi lançado ‘sem motor’ e esse foi o motivo do seu fracasso!
Faltando poucos meses para a chegada do modelo ao mercado, executivos da montadora norte-americana descobriram que teriam que usar um motor velho nele
Faltando poucos meses para a chegada do modelo ao mercado, executivos da montadora norte-americana descobriram que teriam que usar um motor velho nele
Acreditem, isso realmente aconteceu em nossa indústria automotiva. A Ford praticamente enfiou os pés pelas mãos quando o assunto foi data de lançamento do Maverick o e início de produção de um motor inédito que equiparia a novidade. A história já começou torta quando as pesquisas de mercado, encomendadas pela própria marca, indicavam um modelo seu produzido na Europa (o Taunus) para ser a preferência do consumidor brasileiro. Mas não quiseram assim…
Na realidade, após as pesquisas feitas, a diretoria da Ford contestou o resultado, acreditando piamente que o brasileiro queria um carro com design dos EUA, e não da Europa. Mesmo sabendo que o sedan de grande sucesso da sua arquirrival (o Chevrolet Opala), era, na realidade, alemão.
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O tanto que o Opala vendia era a prova de que o nosso mercado gostava, e muito, do design europeu. Mas quiseram seguir o caminho contrário, e resolveram produzir em solo nacional um modelo norte-americano.
O Ford Maverick havia sido apresentado nos EUA pela primeira vez no final dos anos 1960, e por lá era um modelo de entrada. Perseguia as linhas básicas de um esportivo de estrondoso sucesso, o Mustang: traseira curta, frente longa, portas grandes e linhas no melhor estilo “fastback”.
Toda a indústria estava se movimentando para que ele fosse lançado no Brasil em meados de 1973, afinal, a marca rival vendia o sedan concorrente, de design europeu, em grandes quantidades há anos. Quiseram explorar esse segmento também, e correram para a estreia.
Um dos diretores norte-americanos que cuidava ativamente do segmento de autopeças da Ford foi quem me confidenciou essa história. Cerca de 1 ano antes do lançamento, ou seja, em meados de 1972, tiveram uma reunião do alto escalão aqui no Brasil para acompanharem o andamento do lançamento do Maverick, que viria na linha 1974.
O CEO da fabricante foi cobrando de cada uma das diretorias (manufatura, pintura, tapeçaria, fornecedores, engenharia e por aí vai), quando tudo estaria pronto para o lançamento e produção em série. Chegando na área de motores, eles também teriam outro lançamento: o de um novo motor, que traria potência, economia e excelente performance, inclusive na durabilidade. Esse seria o moderno propulsor de quatro cilindros para o novo carro.
Nesse momento, descobriram um descompasso terrível: a fábrica do novo motor só estaria pronta para a inauguração em 1974, praticamente 1 ano após o lançamento do Maverick! Ou seja: teriam um carro prontinho, mas sem motor para equipá-lo. Problemão, já imaginaram?
Faltavam apenas alguns meses para a estreia do novo modelo, e só ali ficaram sabendo que a maioria das suas versões de acabamento não teria um motor disponível. As mais caras, como utilizavam um powertrain importado dos EUA e Canadá, não seriam afetadas, mas as de entrada ficaram “de cofre vazio”.
Nessa reunião, foi um desespero. O CEO batia na mesa e, com razão, bravejava com sotaque americano: “Temos um carro praticamente pronto, mas sem motor para colocar nele? É isso mesmo?”. Pânico instalado, e foi jogado nas costas da engenharia a solução para o problema.
Não tinha muito o que fazer: de imediato, pronto, havia o conjunto motor/câmbio de um outro sedã bem mais antigo, o Aero Willys, que já tinha saído de linha. Com algumas alterações, esse powertrain serviria ao novo sedan, ainda que não ficasse nenhuma maravilha.
Este motor era bem antigo: um projeto datado do final dos anos 1940, e que havia servido à diversos veículos. Tinha seis cilindros em linha, todo fundido em ferro, com válvula de admissão no cabeçote e válvula de escapamento no bloco. A taxa de compressão era baixíssima, e a alimentação era feita por um singelo carburador de corpo simples. Tinha 3.0 litros, uma sede inacabável por gasolina e baixíssimos números de potência e torque se considerada sua cilindrada.
Na época, falavam que era um motor de seis cilindros que bebia como V8 e andava menos que um quatro cilindros. Mas, apesar das críticas, era o único disponível para equipar o Maverick. O resultado já foi catastrófico logo de cara.
No primeiro teste da revista Quatro Rodas com o Maverick seis-cilindros, ele lançou uma biela para fora do bloco, abrindo um rombo na lateral, durante a prova de aceleração em potência máxima. Isso já dava mostras do quão frágil era esse propulsor, e, definitivamente, ele não deveria estar equipando o moderno carro.
Mas era o que havia disponível, ao menos até a fábrica de motores ficar pronta e iniciarem a produção do inédito propulsor.
O carro, em si, era robusto para o mercado brasileiro, nossas ruas e estradas, e na versão coupé com duas portas, exibia um entre-eixos curto e reduzido espaço no banco traseiro.
Suas linhas eram bem esportivas, o que agrava uma parte dos consumidores brasileiros, tanto que a versão V8, aquela com motor importado, era cobiçada pelo público de carros esportivos. Nas pistas de competições, fez muito sucesso com esse powertrain, aliás.
Mas o problema era mesmo as versões de entrada, aquelas movidas pelo velho motor 3.0 de seis cilindros em linha. Isso até o novo motor, de projeto moderno, chegar ao mercado no segundo semestre de 1974: aí já falamos de um 2.3, com quatro cilindros em linha, comando de válvulas no cabeçote, coletor de admissão em alumínio, que rendia mais potência e torque que o velho 3.0.
Além de tudo, gastava menos combustível e garantia melhor fôlego ao modelo, que chegava a superar o quatro cilindros da concorrência nesses aspectos.
Apesar da tentativa de recuperação de imagem do carro quando ele estreou o novo motor, na linha 1975, aquela versão tenebrosa de seis cilindros em linha o manchou bastante. No final, o Ford Maverick acabou durando até o primeiro semestre de 1979, com fracas vendas no total e a chancela de “fracasso” no meio automotivo. O rival? Seguiu firme e forte, chegando aos anos 1990. Um claro de exemplo de como a falta de planejamento pode afetar um carro e sua marca…
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