Meio século dirigindo, pilotando e avaliando tudo sobre rodas

Douglas Mendonça relembra sua trajetória na cobertura do jornalismo automotivo ao longo de 50 anos de carreira

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Douglas Mendonça testou testou praticamente tudo que foi vendido no mercado brasileiro (Foto: Ford | Divulgação)
Por Douglas Mendonça
Publicado em 03/08/2024 às 15h03

Agora em maio de 2024, completei 50 anos de carreira como jornalista automotivo. É praticamente uma vida, e ao longo dela viajei pelos quatro cantos do mundo, visitei fábricas de carros e conheci tecnologias automotivas, sem contar que dirigi veículos por todo tipo de terreno imaginável. Vou contar, numa série de matérias semanais, alguns dos modelos mais legais que já dirigi nessas décadas, os piores que tive o desprazer de conhecer, e algumas peripécias em testes e avaliações de diferentes veículos. E, claro, tudo tem um ponto de partida.

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Comecei a escrever sobre carros aos 20 anos, mas já trazia essa paixão desde criança, quando só queria saber, ler e aprender sobre automóveis e seu mundo. Terminando o segundo grau como técnico mecânico, pensava que já sabia de tudo sobre o assunto, mas o tempo e a vida me mostraram que não era bem assim: eu estava apenas no início, até porque a tecnologia automotiva não para de evoluir em momento algum.

Para ficar mais perto dos carros, além do curso de máquinas e motores, cursei também um ano e meio de mecânica de automóveis, sendo um insaciável buscador de informações nos livros sobre carros, mecânica e afins. Depois vieram mais três anos de engenharia mecânica, enquanto, em maio de 1974, fui convidado por um professor para responder dúvidas técnicas de leitores da Revista Oficina (que depois virou Oficina Quatro Rodas). De “respondedor de cartas”, logo passei para auxiliar de testes, ajudando nas avaliações que a revista fazia.

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Ainda na escola de engenharia, Mendonça foi convidado para ajudar a responder as dúvidas dos leitores da Oficina Quatro Rodas (Foto: Reprodução | Editora Abril)

E, claro, quem gosta de carros e mecânica, quer saber também como prepará-los. Por isso, comecei a trabalhar em uma oficina de preparação na capital paulista, tendo como chefe o preparador italiano Rafaelle Cecere, que começou a me ensinar todos os segredos de uma preparação, ou “envenenamento”, como se chamava na época. Passei, a partir daí, a frequentar o Autódromo de Interlagos, como auxiliar de pista do italiano, que fazia carros de todas as categorias do automobilismo nacional. Isso só me fez gostar ainda mais do assunto, descobrindo que aquele moleque de anos antes, na verdade, ainda não sabia nada.

Na área jornalística, fiquei na revista Oficina/Oficina Quatro Rodas até o seu fim em 1978. Ali, fui convidado a começar um novo projeto: a Oficina Fiat, que era distribuída gratuitamente às oficinas mecânicas do país, servindo para ensinar os mecânicos sobre o pequeno 147. Produzi, praticamente sozinho, a Oficina Fiat até meados dos anos 80. Em paralelo, em maio de 1981 comecei na Revista Quatro Rodas, primeiro com matérias simples, até me iniciar na área técnica de testes. Também dava ali, em 81, meus primeiros passos como piloto de competição, utilizando um VW Passat preparado por mim e alguns amigos.

Douglas Mendonça e o misterioso E. Dutra

Uma curiosidade é que fiz muitos trabalhos para o Jornal Folha de S. Paulo e para a revista Oficina Mecânica. Mas, por questões burocráticas, não podia assinar matérias de outros lugares além da Quatro Rodas com meu próprio nome, aí criei um pseudônimo: E. Dutra. Essa “vida dupla” durou pouco, já que fui ficando cada vez mais atarefado na QR, me sobrando pouco tempo para outros trabalhos. Ainda assim, consegui até fazer alguns materiais oficiais para as fábricas, como o release de lançamento do Fiat Uno em 1984 e da Elba em 1986.

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Além de escrever para Quatro Rodas e Folha de S. Paulo, Douglas também produziu textos de lançamentos imporantes, como o release do Fiat Uno (Foto: Fiat | Divulgação)

Na Quatro Rodas, juntamente com Luiz Bartolomais Júnior, iniciamos a modernização dos processos de testes de avaliação: tornamos digitais todas as medições, que até então eram mecânicas (com a 5ª roda de bicicleta, display de precisão no painel e bureta). Na segunda metade dos anos 1980, tínhamos uma aparelhagem semelhante à dos fabricantes da época, que eram utilizados no desenvolvimento dos novos carros, ou seja, conseguíamos resultados mais precisos nos testes.

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Entre os carros avaliados por Mendonça esteve nada menos que o antológico Gol GTI, em seus dias de Quatro Rodas (Foto: Marco de Bari | Quatro Rodas)

Fiquei na Quatro Rodas até 1994. Depois de alguns meses como assessor de imprensa (inclusive da Mitsubishi, quando era importadora), queria voltar a escrever sobre carros, e testá-los. Recebi um convite irrecusável, do próprio Luiz Bartolomais, para uma nova revista automotiva que estava nascendo, a Motor Show. De bate e pronto, aceitei o desafio, e fiquei na publicação que ajudei a criar por cerca de 24 anos, dos quais quase dez como diretor de redação.

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Depois de algum tempo como colunista digital da Motor Show, logo comecei também as minhas outras colunas na internet (inclusive aqui no AutoPapo). Sem dúvidas, nesse meio de caminho, muitas coisas aconteceram: perdi minha visão no começo de 2012, mas cheguei a dirigir em duas ocasiões mesmo sem enxergar. Uma, com um Fiat Palio de corrida em 2015, quando dei três voltas em Interlagos, e outra, em 2019, chegando a quase 240 km/h com um Ford Mustang Black Shadow numa pista de aeroporto.

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Mesmo sem a visão, Douglas Mendonça não aposentou o volante e levou para pista carros como Fiat Palio e Ford Mustang (Foto: Claudio Larangeira)

Ao longo desses 50 anos, cheguei a conhecer mais de 25 países do mundo para dirigir, pilotar ou conhecer veículos dos mais diferentes estilos nas mais diversas pistas. Estimo mais de 1.300 carros avaliados nesse período. Vi e conheci muitas tecnologias e novidades: desde híbridos dos anos 90, até momentos únicos com um Fórmula 3000 no Autódromo de Curitiba, ou guiando um Audi R8 a 315 km/h debaixo de chuva. Deles, e de outros modelos, começo a falar na próxima semana!

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Para levar um Audi R8 a 315 km/h (na chuva) era necessário muita perícia, além de coragem (Foto: Audi | Divulgação)
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