Mercedes-Benz Classe A chegou com grandes expectativas, mas se transformou num dos maiores cases de fracasso da indústria brasileira
Desde o início da era do automóvel, a Mercedes-Benz sempre se notabilizou mundialmente na construção de carros sólidos, sofisticados, duráveis, luxuosos, tecnologicamente avançados, porém caros. Claro que, até hoje, a marca responde mundialmente pelo prestígio, que acabou criando uma imagem que a coloca como uma das melhores fabricantes de carros do mundo.
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Lá por meados dos anos 1990, a marca achou que era o momento de oferecer, aos consumidores de todo o mundo, um produto Mercedes-Benz que fosse acessível a um número maior de consumidores. Ou seja, um carro mais barato.
Para realizar essa meta, sua especializada engenharia começou a trabalhar no projeto de um carro de pouco menos de 3,6 metros de comprimento, capaz de transportar com relativo conforto e muita segurança uma família média de 4 integrantes, fosse ela europeia ou latino-americana. Ao mesmo tempo, o tal carro deveria ser econômico no consumo de combustível e ter um custo de manutenção semelhante àqueles encontrados nos veículos de seu segmento, mesmo que de outras marcas. Uma meta difícil de ser alcançada.
Aqui no Brasil, esse carro foi apresentado no Salão do Automóvel em 1998 e sua comercialização deveria ser iniciada no início de 1999. Fabricado na cidade mineira de Juiz de Fora, onde foi erguida uma fábrica totalmente nova, o Classe A inovava até sobre esse aspecto: nessa cidade mineira não havia a cultura da fabricação de carros.
O projeto era mesmo revolucionário! Um Mercedes compacto com 3,58 metros de comprimento, estilo monovolume altinho, com motor 1.6 dianteiro transversal, juntamente com o câmbio de 5 marchas, que poderia ter pedal da embreagem ou, opcionalmente, embreagem automática de ótimos resultados práticos.
Sua carroceria, de assoalho alto, tinha a curiosidade de possuir uma espécie de “sanduíche” sobre a parte inferior do monobloco, que tinha como objetivo absorver impactos laterais. Devido ao seu alto centro de gravidade, e depois de alguns testes catastróficos na Europa, ganhou de série um sofisticado sistema eletrônico de controle da estabilidade (ESP), que só se tornou obrigatório no Brasil em 2024.
Só para que se tenha uma ideia, o Mercedes do final dos anos 1990 tinha o mesmo comprimento do atual Fiat Mobi e a mesma distância entre-eixos do Renault Kwid. Só que o Mercedes Classe A era mais bem resolvido que esses populares em termos de ergonomia e espaço interno.
Na apresentação do Salão de 1998, foi uma verdadeira festa: todos queriam ver o Mercedinho que seria vendido a preços populares. Pelo menos, teoricamente, assim deveria ser. Até aí, tudo era festa, e os elogios enchiam de coragem os alemães responsáveis pelo lançamento aqui no Brasil.
Mas a realidade dos fatos começou a dar pinceladas ao quadro do novo lançamento. Nessa época, as mulheres palpitavam na compra de novos carros, mas quem respondia no final das contas eram os homens. O “Mercedinho” agradava o público feminino, mas nem tanto o masculino. Só com esse impasse, a fabricante já perdia alguns possíveis clientes.
Além disso, outro “problema” estava ligado diretamente à marca Mercedes-Benz, que muitos associavam aos carros caros, de luxo, e altos preços de manutenção e peças. A proposta de ter um modelo mais barato, que na época batia de frente com Renault, Citroën e, posteriormente, até Honda e Chevrolet, era bacana, mas não com os custos de um Mercedes. Ou seja, era um carro mais “popular”, só que, na hora das revisões ou aquisição de peças, era um Mercedes.
A partir desse ponto, foi uma descida ladeira abaixo do sonho da Mercedes em abocanhar uma fatia do segmento de carros baratos. E o “barato” do Classe A era relativo: com seu valor de mercado, era possível comprar um Chevrolet Vectra completo, com todos os seus equipamentos de luxo e conforto!
A barra começava a pesar para o Mercedes Classe A. Com relação a manutenção, de fato, o custo da hora trabalhada do mecânico em uma concessionária Mercedes era o mesmo, quer fosse para um sedan luxuoso ou para o compacto Classe A. E nem é preciso dizer que os custos de uma concessionária da marca alemã são bem maiores que os da Renault, Citroën ou similares, né?
Além disso, o preço das suas peças era ligeiramente maior que o de um Renault Scenic, por exemplo. Esses fatores, somados, levaram os consumidores a adquirirem os produtos dos concorrentes, que, se não tinham a qualidade e a tecnologia da marca alemã, pelo menos custavam menos, quer seja na aquisição ou na manutenção.
No final, as vendas no Brasil foram catastróficas! Só para que se tenha uma ideia, sua produção foi paralisada em 2005, após cerca de seis anos de mercado. A fábrica de Juíz-de-Fora podia produzir 100 mil carros por ano, mas não chegavam a atingir nem 10% dessa capacidade num ano bom. No total, pouco mais de 61 mil unidades do Classe A foram fabricadas na planta mineira, número que nem chegou a bater as expectativas de venda da Mercedes para o primeiro ano (pretendiam emplacar 70 mil Classe A nos 12 primeiros meses de mercado).
O modelo chegou até a receber algumas alterações ao longo do tempo, como um novo motor 1.9 que, achavam os dirigentes alemães, cairia mais no gosto brasileiro, ou a opção da transmissão automática convencional, com cinco marchas. Teve até uma versão, a Avantgarde, com proposta mais esportiva. Nada adiantou, e o promissor “Mercedinho” acabou encalhando. Histórias da nossa indústria automotiva…
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