Desafios para a mobilidade urbana no Brasil: o uso da bicicleta

Como a bicicleta pode transformar nossas cidades e os obstáculos que precisamos superar para pedalar com segurança e liberdade no país

istock ciclovia da avenida paulista em sao paulo separada da pista de rolamento por grades
Ciclovia em São Paulo (Foto: iStock)
Por Camila Melo
Publicado em 01/06/2025 às 17h00

A bicicleta é uma das soluções mais inteligentes para os problemas de mobilidade urbana no Brasil. E, ainda assim, o seu potencial é subaproveitado. Com trânsito caótico, poluição em alta e cidades cada vez mais congestionadas, pensar em alternativas sustentáveis deixou de ser uma escolha: é uma necessidade urgente.

Neste cenário, a bicicleta aparece como protagonista silenciosa, mas esbarra em diversos desafios para realmente transformar a mobilidade das cidades brasileiras.

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Nesse texto, te ajudo a entender esses desafios e por que, apesar deles, pedalar ainda é uma das melhores escolhas que você pode fazer para si e para o planeta.

O cenário atual da mobilidade urbana no Brasil

De acordo com o Relatório de Mobilidade Urbana de 2022 da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), o número de veículos particulares no Brasil ultrapassou 110 milhões. Isso gera um impacto direto no trânsito, aumentando o tempo gasto em deslocamentos, a emissão de gases poluentes e os níveis de estresse da população urbana.

Ao mesmo tempo, o uso da bicicleta permanece restrito: segundo a pesquisa Mobilidade da População Urbana 2022 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apenas 7% dos deslocamentos nas cidades brasileiras são feitos por bicicleta.

Se compararmos com cidades de referência, como Copenhague (Dinamarca), onde 62% da população se desloca de bicicleta diariamente, percebemos o quanto ainda temos a evoluir.

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Apenas 7% dos deslocamentos nas cidades brasileiras são feitos por bicicleta (Fernando Frazão | ABR)

Por que incentivar o uso da bicicleta?

Antes de falar dos desafios, é importante entender os benefícios sociais e individuais da bicicleta:

  • Redução da poluição: bicicletas não emitem CO₂, ajudando no combate às mudanças climáticas.
  • Melhora da saúde pública: pedalar diminui riscos de doenças cardíacas, diabetes e obesidade.
  • Descongestionamento das cidades: bicicletas ocupam menos espaço e reduzem o tráfego.
  • Economia: pedalar é barato, sem combustível, impostos ou altos custos de manutenção.
  • Inclusão social: bicicletas são acessíveis a uma parcela maior da população.

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que cada dólar investido em infraestrutura cicloviária gera US$ 5 em economia para o sistema de saúde, graças à redução de doenças relacionadas ao sedentarismo.

Principais desafios para o uso da bicicleta no Brasil

O uso oda bicicleta no Brasil como solução de mobilidade enfrenta muitos desafios.

Falta de infraestrutura adequada

O primeiro grande obstáculo é a infraestrutura insuficiente e desconectada. Segundo a Plataforma CicloMapa, o Brasil conta com cerca de 4.000 km de ciclovias, concentradas principalmente nas capitais. Para comparação, a cidade de Bogotá (Colômbia) tem mais de 600 km de ciclovias apenas dentro de seu município.

Muitas ciclovias brasileiras não se conectam entre si, terminam abruptamente ou obrigam o ciclista a compartilhar espaço com carros em vias de alta velocidade (algo que desestimula o uso).

“Infraestruturas seguras e contínuas são o que mais influenciam a decisão de usar a bicicleta”, aponta um estudo publicado pela revista científica Transport Reviews em 2021.

ciclovia em bogota colombia foto MatthieuCattin shutterstock
Bogotá, na Colômbia, tem 600 km de ciclovias (Foto: Matthieu Cattin | Shutterstock)

Falta de segurança no trânsito

Pedalar em muitas cidades brasileiras é arriscado. O DataSUS registra que, em 2022, 13 ciclistas morriam por semana em acidentes de trânsito no Brasil.

As causas mais comuns são:

  • Falta de respeito às leis de trânsito (como a distância mínima de 1,5m ao ultrapassar um ciclista).
  • Excesso de velocidade dos veículos motorizados.
  • Falta de campanhas educativas.

Cultura da “carrodependência”

O carro é visto como símbolo de status em grande parte do Brasil, enquanto a bicicleta, infelizmente, ainda carrega o estigma de ser “transporte de pobre” ou “meio de lazer”, e não de mobilidade séria.

Essa percepção influencia políticas públicas e investimentos, que continuam priorizando obras rodoviárias em detrimento da mobilidade ativa.

Condições climáticas e urbanas

Em cidades muito quentes, chuvosas ou com terrenos acidentados, pedalar pode ser mais desafiador. No entanto, isso pode ser mitigado com tecnologias modernas, como bicicletas elétricas, e com investimentos em ciclovias com sombra, locais para descanso e hidratação.

Falta de integração com outros modais

Idealmente, o ciclista deveria poder combinar o pedal com transporte público (metrô, ônibus, trem). No Brasil, essa integração ainda é incipiente. Em muitos lugares, nem mesmo existem bicicletários seguros nas estações.

O que o Brasil tem feito para melhorar?

Apesar dos desafios, existem iniciativas animadoras:

  • Plano de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012): estabelece que as cidades devem priorizar modos de transporte não motorizados.
  • Campanhas educativas como o “Maio Amarelo” têm abordado a importância de respeitar ciclistas no trânsito.
  • Programas de bicicletas compartilhadas (como BikeSampa, BikeRio, Yellow e Tembici) têm popularizado o uso da bike em grandes centros.

Como vencer esses desafios?

Para incentivar o uso da bicicleta na mobilidade urbanda no Brasil, precisamos melhorar a infraestrutura com:

  • Ciclovias contínuas, bem sinalizadas e conectadas aos centros urbanos.
  • Estacionamentos seguros para bicicletas.
  • Faixas exclusivas nas vias rápidas.

Cidades como Paris investiram bilhões de euros em “superciclovias”  e a cidade viu o número de ciclistas dobrar em poucos anos.

Tornar o trânsito mais seguro

É essencial:

  • Fiscalizar e punir motoristas que desrespeitam ciclistas.
  • Reduzir limites de velocidade em áreas urbanas.
  • Promover campanhas educativas permanentes.

Incentivar a cultura da bicicleta

Mudanças culturais vêm de políticas públicas e educação:

  • Incentivos fiscais para quem usa bicicleta para trabalhar (como acontece na França).
  • Projetos nas escolas para formar uma geração mais consciente.

Integrar bicicleta e transporte público

Sugestões práticas:

  • Permitir o embarque de bicicletas em metrôs e trens fora dos horários de pico.
  • Construir bicicletários gratuitos ou de baixo custo nas estações.
  • Criar bilhetes combinados (metrô + aluguel de bike).

Investir em soluções para climas difíceis

  • Bicicletas elétricas podem ajudar em cidades quentes ou montanhosas.
  • Áreas de apoio para ciclistas (com sombra, bebedouros e vestiários) tornam a experiência muito mais agradável.

Se você deseja incluir a bicicleta na sua rotina, veja 10 dicas para ir de bicicleta para o trabalho.

A bicicleta é muito mais do que uma alternativa: é uma resposta eficiente, saudável e sustentável aos problemas de mobilidade urbana do Brasil. Mas para que ela ocupe o lugar que merece, é preciso enfrentar desafios estruturais, culturais e políticos.

A boa notícia? Cada vez que você escolhe pedalar, você não apenas transforma seu próprio dia, mas também contribui para cidades mais humanas, seguras e conectadas.

Pedalar é, no fundo, um ato de esperança e de transformação.

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