A cada 11 horas um brasileiro morre por não usar o cinto de segurança
Mesmo com os avanços tecnológicos, o número de pessoas sem o cinto de segurança que vieram a óbito nas rodovias federais do país tem aumentado
Mesmo com os avanços tecnológicos, o número de pessoas sem o cinto de segurança que vieram a óbito nas rodovias federais do país tem aumentado
A cada 11 horas uma pessoa morre por não utilizar o cinto de segurança. Isso mesmo, por não gostar, por achar incômodo ou careta, todos os dias dois ocupantes de um veículo que se envolve em acidente de trânsito perderá a vida por não utilizar o principal item de segurança de um automóvel. E o que mais chama atenção é que a obrigatoriedade do uso deste equipamento está em vigor há três décadas. Além das mortes, o número de vítimas sequeladas pela negligência são assustadores.
O uso obrigatório do cinto de segurança é determinado pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) desde sua sanção, em 1997, e está previsto em seu Art. 65º. Desde então, medidas de segurança como a exigência de freios ABS e airbags nos automóveis têm sido adequadas ao dia a dia do cidadão. Em 1º de janeiro de 2024 passou a ser obrigatório que todo automóvel (importado ou não) saia de fábrica com dispositivo de aviso de não afivelamento dos cintos de segurança. Porém esta medida ainda não impactou fatidicamente no número de óbitos causados pela negligência ao uso do principal item de segurança do automóvel.
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Dados disponibilizados pela Polícia rodoviária federal (PRF) ao AutoPapo apontam que o número de mortos, feridos e autuados pela falta do uso do cinto de segurança tem aumentado nos últimos anos.
No levantamento, de janeiro a setembro de 2024, 569 pessoas que vieram a óbito em acidentes de trânsito não usavam corretamente o cinto de segurança. Estes números representam 1,78% dos óbitos totais do país, em comparação às 31.992 mortes causadas por todos os tipos de acidentes de trânsito – números disponíveis no portal transparente da PRF.
No ano passado (2023), 736 óbitos foram registrados pelo uso inadequado do cinto de segurança, junto de 41.546 mortes totais nas estradas brasileiras – maior número de vítimas fatais dos últimos 8 anos.
levantamento de óbitos por acidentes de trânsito registrados pela PRF nos últimos 8 anos
Ano | Óbitos totais | Óbitos por uso inadequado do cinto de segurança | Percentual comparativo |
---|---|---|---|
2017 | 21.545 | 677 | 3,14% |
2018 | 23.905 | 536 | 2,24% |
2019 | 24.621 | 517 | 2,10% |
2020 | 30.218 | 596 | 1,97% |
2021 | 33.780 | 606 | 1,79% |
2022 | 36.931 | 708 | 1,92% |
2023 | 41.546 | 736 | 1,77% |
2024 (jan – set) | 31.992 | 569 | 1,78% |
Mesmo que o percentual de mortos que não utilizava o cinto de segurança de maneira adequada tenha diminuído (até 2023), é importante observar que o número de óbitos em todas as categorias aumentou. Além disso, se a média de mortes no trânsito permanecer, 2024 apresentará aumento na porcentagem em relação ao ano anterior.
O número de feridos que não utilizavam corretamente o dispositivo de segurança baixou após o fim de 2017, mas voltou a subir em 2023.
Quantidade de feridos que não utilizavam corretamente o cinto de segurança
A participação da indústria automobilística na segurança do cidadão brasileiro finalmente parece fazer presença. Como já afirmado, a Resolução Contran nº 760 que entrou em vigor no início de 2024 torna obrigatório a instalação de dispositivo de aviso de não afivelamento dos cintos de segurança em veículos automotores. Dez anos antes o airbag e o freio ABS também se tornaram obrigatórios.
Entretanto, a frota brasileira ainda não está totalmente adaptada a estas novas tecnologias. Segundo o Ministério dos Transportes, dos mais de 122 milhões de veículos, apenas 2,7 milhões serão fabricados em 2024 (considerando carros de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus), ou seja, após a nova tecnologia de alerta de afivelamento.
Além disso, mais de 82 milhões destes modelos foram fabricados no ano de 2013 ou antes, sendo assim muitos destes desprovidos de airbags e freios ABS.
* 37 milhões de veículos brasileiros são motocicletas, motonetas, ciclomotores ou caminhões e não necessitam ou possuem – em algumas variantes – airbags, freios ABS e cintos de segurança.
O estudo: “Cinto de Segurança: eficácia, ações, posicionamento e recomendações”, publicado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), em 2022, prova, documenta e quantifica a importância do uso do cinto de segurança.
No documento, a Abramet explica – dentre outros aprofundamentos – que o cinto de segurança é o principal equipamento de segurança passiva, além de ser simples de se utilizar e contribuir de forma decisiva para a diminuição das consequências dos sinistros automobilísticos.
Mecanismo de retenção dos ocupantes de um veículo em seus assentos, foi desenvolvido para impedir que braços, pernas e cabeça se choquem contra as estruturas rígidas do veículo, com outras pessoas, ou que os órgãos internos sejam submetidos às forças geradas por ocasião de um sinistro, com grande dissipação de energia, ou ainda que sejam lançadas para fora do veículo, o que acarretaria agravamento das lesões e risco de morte”, afirmam os especialistas no documento.
A associação ainda aponta neste estudo que a redução de número de mortes no trânsito pode chegar a 43% quando utilizado o cinto de segurança de três pontos, e 32% com o uso do dispositivo dois pontos na parte traseira do veículo – dados trazidos pela Abramet e originários da NHTSA.
Em entrevista ao AutoPapo, o ex-assessor técnico da Fiat, diretor de produtos da Stellantis e atualmente apresentador no AutoEsporte, Ricardo Dilser, reafirma que com toda sua experiência certamente o cinto de segurança é o equipamento de segurança mais importante.
É o equipamento de segurança mais importante do século! Apenas ele já dá uma garantia gigantesca e mesmo com toda essa tecnologia embarcada nos carros atuais ele continua sendo o mais eficiente”, aponta o especialista. “Um carro de F1 não tem freios ABS, mas tem cinto de segurança. Não tem airbag, mas tem cinto de segurança. Não tem controle de tração, mas tem cinto de segurança.”
Perguntamos ao Dilser se ele acredita, com toda sua experiência, que a indústria possa vir a desenvolver alguma tecnologia que impeça até mesmo os mais resistentes ao cinto de segurança de sair sem que o equipamento esteja afivelado. Em tom descontraído ele afirmou que se dependesse dele, um carro não daria nem a partida caso o condutor estivesse sem o cinto, mas que acha difícil que tal evolução consiga ser efetiva no dia a dia das estradas.
Como medida de intervenção a estes números de óbitos relacionados a falta do uso do cinto de segurança, além das novas políticas que o Estado tem criado para a frota brasileira, a PRF tem utilizado suas redes sociais – fora clássicas campanhas de intervenção e operações locais – para conscientizar os motoristas.
Em vídeos, os agentes alertam os cidadãos com exemplos e falas de como pode ser perigoso para si e para os demais tripulantes do carro viajar sem o uso do cinto de segurança.
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Não é por falta de leis, nem de divulgação, e nem de medidas técnicas e legais.
Existem aqueles indivíduos que se comprazem em ignorar regras e leis, como forma de se acharem mais capazes e espertos do que os outros.
Não há muito o que se fazer em relação a esses daí, além de fiscalizar e aplicar multa (que muitas vezes nem serão pagas).
“Estupidez é uma falta de inteligência, entendimento, razão ou sagacidade, uma incapacidade de aprender. Pode ser inata, assumida ou reativa”. – Wikipedia