Campeão da Fórmula Delta atualmente está fora das pistas por falta de patrocínio e administra seu sonho trabalhando próximo às pistas
20 de novembro é o feriado que celebra o Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil. Marcado pelas lutas dos escravizados do passado, é referente a data da morte de Zumbi dos Palmares, uma das maiores referências antiescravista no país. Mais de 300 anos depois, o último país a abolir a escravatura do mundo ainda reflete as sequelas do período em milhões de seus cidadãos, que em sua maioria são negros. Wallace Martins é um destes rostos, que, apesar de seus títulos, talento e dedicação em corridas de kart e carros maiores, ainda enfrenta dificuldades por sua classe, origem e cor.
Wallace ficou conhecido em 2022 quando participou do Vou de Táxi, com o apresentador Luciano Huck. No passeio ele encontrou um de seus ídolos no esporte Lewis Hamilton e ainda ganhou um convite para ver o GP do Brasil de pertinho. Três anos depois a história do jovem em ascensão na Fórmula Delta muda. Hoje Wallace está fora das pistas por falta de patrocínio.
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Wallace nasceu em 12 de maio de 2003, e cresceu no bairro de Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo (SP).
Seu encontro com o automobilismo foi ao acaso. Aos 11 anos foi ao shopping brincar nos karts e os organizadores ficaram impressionados com o menino, que foi convidado para uma competição amadora. Logo nesta estreia ele venceu uma das baterias e conseguiu o pódio da competição. O que ele não sabia é que o torneio era uma seletiva para que os pilotos conhecessem mais de perto o automobilismo.
O ainda garoto começou a competir e com pouco mais de um ano, se profissionalizou no kart e em 2016 foi vice-campeão da Copa Rio Sul.
O apoio vinha diretamente da família. Seus pais trabalhavam com transporte escolar durante o dia e o Sr. Anderson (pai) ainda trabalhava à noite como eletricista no metrô. Desde cedo, a realidade financeira era um fator relevante.
Aos 14, eu já comecei a migrar mais para o carro por conta dessa dificuldade do kart, tanto de se manter com a galera que já compete há mais tempo e também com o poder aquisitivo; a galera tem uma estrutura de box muito melhor, karts muito melhores. Nessa idade eu estava competindo com macacão emprestado, dormindo em casa de mecânico amigo nosso para não ter que gastar com hotel.”
Já na Fórmula Vee (uma categoria de carros de baixo custo) e com 16 anos, Wallace foi vice-campeão e no ano seguinte sagrou-se o campeão.
Nessa época o apelido de ‘Hamilton brasileiro’ começava a surgir, afinal, além do tom da pele, a semelhança física e o esporte ligavam os pilotos. Wallace migrou para a Fórmula Delta em 2021, mas hoje, em 2025, o atleta está fora das pistas de competição, mantendo-se no esporte como pode.
Atualmente não estou competindo. Estou desenvolvendo alguns carros na Fórmula Evolution, que é uma outra categoria – bem parecida com a fórmula Vee. Mas é a forma que achei de me manter dentro das pistas.”
Contando sua história à nossa redação, Wallace apontou as dificuldades que teve simplesmente por ser quem ele é e vir de onde ele veio.
Só por ser brasileiro muitas vezes você chega lá fora e não é tão bem visto. Por conta de ser mestiço, de ser negro, de ser uma mistura de raças que se tem aqui no Brasil […] Tem muitos lugares que não aceitam a não ser europeu. por conta da cultura deles mesmo.”
Segundo o piloto, as equipes dão oportunidades aos corredores não só pela habilidade, mas por status, nome, família e influência no meio. Ser alguém sem nenhuma dessas características é um fator impeditivo.
Na época que a F4 chegou tinha apenas 12, 13 carros. Então eu consegui o patrocínio e o patrocinador insistiu para que fossemos para lá, saíssemos da Fórmula Delta. Só que ‘do nada’ surgiram os 16 carros e a vaga não surgiu para mim.”
Assim como muitos esportistas, Wallace acredita que o problema do esporte a motor no Brasil vem da base.
Falta de estrutura, informação e vontade de levar os jovens a conhecer os carros distancia ainda mais o brasileiro deste sonho. O Hamilton brasileiro disse que o dinheiro é sim um problema, inclusive o maior que enfrentou e enfrenta nesta competição tão elitizada, mas que com a educação certa mais pessoas como ele poderiam chegar às pistas.
*Lewis Hamilton é o único competidor negro de toda a história da Fórmula 1.
Mesmo com todas as dificuldades, Wallace segue em seu sonho. Ele nos disse que se tudo der certo, um patrocínio forte aparecerá e em alguns anos a Fórmula 1 deixará de estar apenas nos desejos.
Dentre as formas de ampliar sua visibilidade, Wallace investe em suas parcerias. Uma delas é sua parceria com a B Channel, emissora de TV e plataforma global de streaming sediada em Miami, que atinge milhões de espectadores em 192 países. Por meio dessa colaboração, o piloto aparece em conteúdos que dialogam com a comunidade brasileira no exterior, compartilhando sua trajetória e representando jovens talentos do automobilismo.
Nunca desista dos seus sonhos. Apesar das grandes dificuldades, independentemente da área que você for. Muitas vezes ficamos focados apenas no plano A e aí deixamos ele para ir para outra área, para trabalhar com uma coisa que nós não gostamos. Então abra o leque, estude sobre o que você gosta, vá fundo no seu sonho. Muitas vezes aqui no Brasil nós não conseguimos alcançar o que queremos, por exemplo as Olimpíadas, mas você ainda pode trabalhar como um treinador. Então como estou fazendo, meu grande sonho ainda é ser piloto da Fórmula 1. Como é muito difícil, sou piloto de outras categorias, sou piloto de teste, mas ainda trabalho com o que eu gosto.”
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