Como será o novo carro popular que promete salvar o mercado?
Indústria, varejo e governo estudam o novo carro popular, mas pouco se sabe como será e o que será preciso para que ele custe próximo aos R$ 50 mil
Indústria, varejo e governo estudam o novo carro popular, mas pouco se sabe como será e o que será preciso para que ele custe próximo aos R$ 50 mil
A discussão sobre o retorno do carro popular no Brasil está acalorada. O consumidor não consegue bancar os preços atuais dos automóveis. A indústria tirou o pé na produção para não acumular produtos encalhados nos estoques. Ao mesmo tempo, os concessionários reclamam da falta de clientes. E por fim, o governo depende da indústria para alavancar o consumo e não deixar que a economia se estagne. Mas como seria o novo popular?
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Ainda não há nada definido. Tudo está na esfera da imaginação e rascunhos em guardanapos. Indústria, governo e varejo não chegaram a um consenso. Mas o que se sabe é que o governo teria que tirar o pé na carga tributária e que fabricantes iriam remover tudo que não fosse essencial em seus automóveis.
Nas redes sociais, usuários mais afoitos bradam que a culpa da alta dos preços se dá pelo excesso de itens de segurança. Há quem diga que o carro não deveria ter airbag, freio ABS ou controles de tração ou estabilidade. Tem até youtuber que levanta essa bandeira, mas se nega a rodar em carro com menos de seis airbags.
No entanto, conversamos com um executivo de um dos maiores grupos automotivos do mundo. Ele disse que não há como retirar itens de segurança “conquistados”.
“Não há como remover esses equipamentos. Fornecedores que entregam freios ABS, módulos elétricos e bolsas infláveis também estão de olho nessa história. O que poderíamos fazer é retirar o que não é obrigatório, como ar-condicionado, vidros elétricos, multimídia, mas jamais nos itens de segurança obrigatórios”, afirma.
Mas remover itens “supérfluos” é uma realidade para marcas que oferecem compactos no mercado como: Chevrolet, Citroën, Fiat, Peugeot, Renault, Toyota e Volkswagen. Outras marcas que quiserem surfar nessa onda teriam que desenvolver produtos ou reativar modelos fora de linha.
Fabricantes desconversam sobre o retorno de modelos fora de linha e afirmam que não comentam sobre projetos futuros. Na boca miúda, fontes também são bastante reservadas em fazer qualquer tipo de previsão.
Mas fato é que carros voltarem ao mercado após a aposentadoria não é novidade. No ano passado, a AutoVAZ voltou a produzir o Lada Granta. Em 1993, a Volkswagen trouxe de volta à vida o Fusca, depois de o então presidente da república, Itamar Franco, ter manifestado que o retorno do carrinho seria bom para o mercado.
Nesse caso, quem tirou modelos de circulação poderia ressuscitar falecidos, como Chevrolet Joy e Nissan March. Dos dois, o Joy poderia ser a opção mais factível, uma vez que o modelo teve sua produção transferida para a planta da GM em Bogotá, na Colômbia.
E como o país de Gabriel García Márques é membro associado do Mercosul, a vinda do Joy não seria um complicador. Mas a General Motors acredita que a solução não é o conteúdo do carro em si ou mesmo qual modelo seria depenado para se tornar um popular. Para ela nem é preciso um carro popular, mas uma revisão da carga tributária que recai sobre o automóvel.
“A GM entende que é necessária uma revisão da carga tributária relacionada ao automóvel, que chega a ultrapassar 50% do seu preço final, muito acima do percentual aplicado em outros países. A redução de impostos é a solução mais eficaz para a oferta de veículos mais acessíveis e tecnológicos, em linha com a evolução das necessidades do consumidor brasileiro em relação a segurança, conforto, conectividade e eficiência energética – tendo em vista ainda os principais desafios da sociedade frente as mudanças climáticas. A redução de impostos beneficia a todos: consumidores, fabricantes, fornecedores e o próprio governo, já que fomenta o mercado e o potencial de arrecadação através da geração de empregos, comércio e serviços”, aponta a GM.
Já no caso March, a proposta teria que ser muito tentadora. O carrinho deixou de ser produzido em 2020, na planta de Resende (RJ). Assim, o esforço para reativar a produção teria que ser equalizado com a projeção de faturamento. Em 2022, a planta fluminense produziu 53.121 unidades, segundo a Anfavea. A capacidade instalada é para 100 mil carros anuais. Ou seja, há espaço para fazer, mas tudo dependerá de como o acordo seria costurado. Questionada, a Nissan apenas se limitou a dizer que não comenta projetos futuros.
Também fomos questionar a Volkswagen. Atualmente ela tem o Polo Track como opção de entrada e que poderia ser o representante da marca na turma do novo carro popular. No entanto, questionamos se o Gol poderia voltar a ser feito. A fabricante preferiu não responder nossos questionamentos.
Mas a probabilidade é praticamente nula, pois o Track já passou por uma severa dieta para ocupar o lugar do Gol e a Volks injetou dinheiro na planta de Taubaté (SP) para produzir o Polo queixo duro.
O modelo já perdeu muitos conteúdos em relação ao Polo convencional. Além disso, ainda há mais “gordura” para queimar.
Outro modelo que poderia ser adequado para o projeto do carro popular seria o Toyota Etios. O modelo, apesar descontinuado no mercado brasileiro, ainda é produzido na planta Sorocaba (SP) para exportação. Se tiver preço, o consumidor não irá ligar se ele é feio.
Como o projeto do novo carro popular ainda está em fase embrionária. Não se sabe o que o carro terá de conteúdo, qual seria seu regime tributário, fica difícil cravar o preço do pé de boi moderno.
Há quem aposte em valores abaixo dos R$ 60 mil. Que o popular deveria ocupar faixa na casa dos R$ 50 mil. Mas fato é que hoje o modelo mais barato do mercado, o Renault Kwid Zen, parte de R$ 68.190.
O carrinho vem com o básico do básico e pra tirar ainda mais R$ 8 mil de conteúdos teria que ser uma dobradinha de tributos e conteúdos. E como esses carros ficariam?
Se o Kwid Zen é o piso da indústria, ele teria que ficar ainda mais barato para brigar no hipotético novo segmento de populares. Ele perderia vidros elétricos frontais, rádio e ar-condicionado, de imediato.
Direção elétrica é um ponto complicado, pois faz parte do atual conjunto mecânico. A Renault teria que desenvolver um sistema puramente mecânico para o carrinho.
Outros componentes eletrônicos, como destrava elétrica, travamento central das portas, ajuste de altura do cinto de segurança, assim como limpador e desembaçador do para-brisas traseiro também poderiam ser eliminados.
Na parte estética, calotas e pintura dos para-choques também poderiam entrar na conta. A luz de circulação diurna em LED poderia dar lugar a um conjunto alógeno, já que se tornou obrigatório desde 2021. A receita da dieta seria repetida por demais modelos do mercado, com o básico do básico e nada mais.
Mas para tudo isso funcionar é preciso que a política de juros seja revista. Conversamos com concessionários que reclamam o custo do financiamento. “Hoje a taxa mensal gira em torno de 2,5% ao mês, não tem quem consiga bancar prestações tão elevadas que vão mais dobrar o preço final”, comenta uma vendedora de uma revenda francesa, de Belo Horizonte.
E quando se fala de carros populares, ter crédito é fundamental. O “preço” do dinheiro é parametrado pela taxa básica de juros, a Selic, determinada pelo Banco Central. Atualmente, a taxa está em 13,5% ao ano. Essa taxa é uma espécie de freio da inflação. Quando os preços disparam, o BC eleva a taxa para tornar o crédito mais caro e consequentemente reduzir o apetite do dragão.
Mas o crédito caro afastou o consumidor que depende do financiamento, que é aquele que compra carros populares. Especialistas em economia apontam que a taxa saudável para o mercado como um todo, deveria girar em torno de 8 ou 9% ao ano.
Além do barateamento do crédito, o governo também precisa aprimorar a classificação tributária. Hoje a alíquota do IPI é calculada com base na capacidade volumétrica do motor, que tinham o desempenho como balizador. Hoje isso não se aplica mais, uma vez que automóveis 1.0 turbo equipam modelos de maior valor agregado como SUVs e têm o mesmo peso tributário de um Mobi ou Kwid.
Será que tudo isso vai sair do papel?
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O carro popular pra ter preço justo teria que ser no máximo 35 mil reais.
Hoje eu tô com 27 anos, mano, lembro quando tinha 16 anos e vi meu irmão pegando um carrão zero, um celtinha na época. Ele pagou só 30 mil reais naquela belezinha completa, impossível que hoje em dia a gente consiga encontrar por esses preços de novo. Tipo, pagar 70 mil numa carro zero, que não vem com nada, só o básico do básico, não dá. A gente tá falando de quase 5 anos de trabalho pra alguém que ganha salário mínimo, e ainda por cima, se ele conseguir juntar o salário todo, o que é impossível. Que vida é essa, mano? Trabalhar a vida inteira ganhando mixaria, tendo que pagar as contas, pra daqui a 30 anos conseguir comprar um Onix Joy, enquanto um politico que ganha no minimo 10 mil por mes, ainda tem o beneficio de “carro” da prefeitura… Meu Deus do céu! Nos Estados Unidos, os moleques já tão comprando carro assim com 3, 4 meses de trabalho. Isso é uma vergonha, sério.
Se voltasse a ser exigido somente o que vigorou de 2014 a 2020 e só mantendo a eficiência dos motores para poluir menos, daria pra diminuir bastante o custo de fabricação sem controle de estabilidade, assistente de partida em rampa, cinto de 3 pontos e encosto no meio do banco traseiro que tirou o subconpacto da Volks de Linha o UP no qual as últimas unidades tinha um aviso pra não sentar e poderia estar disputando com Kwid e entrada com Mobi Kwid. O Etios encareceu mais de R$ 20 mil com controles de estabilidade, partida em rampa e ficou inviável vender no Brasil, mesmo com as economias da Índia onde foi projetado em ter 1 limpador na frente e painel central sendo o Fusca da Toyota. Nessa ainda Rodou Gol, Uno, Onix Joy, Uno, Palio e a Ford vendo o cenário piorar. Querem botar tecnologia de F1 em carro 1.0 de 3 cilindros
Esses que estão contra esse projeto do carro popular deve ser os que podem gastar uma fortuna pra comprar um carro diferente de nós de pouco poder aquisitivo que não podemos pagar tanto pôr um carro, discordo quanto a retirada de acessórios,deve tirar esses impostos abusivo que tem no país
Como vai ser o tal do carro “popular”?
Já sei: Espartano e pelado, com menos impostos, porém com a mesma margem de lucro que os fabricantes já praticam. Assim oferece-se por um breve tempo o “caridoso” preço de 50 mil, antes de começarem os tais “reajustes necessários” no valor.
Não concordo com a retirada de assessórios dos carros, mas sim com diminuir os impostos e também com os lucros abusivos praticados pela indústria, não só a montadora, más a fabricante de peças fornecida para as montadoras.As taxas de juros altas também dificultam as compras de carros novos, e para finalizar, acho um desperdício as montadoras desenvolverem projetos novos para o mesmo carro todo ano, isso encarece muito os carros, que sejam feitas modificações a cada quatro ou cinco anos, isso diminuiria bastante os valores.
O cenário de hoje é muito diferente dos anos 90. Quando os primeiros populares chegaram, a maioria dos consumidores andava de carros com mais de 10 anos de uso, ou seja: Brasília, Fusca, Chevete e até mesmo os médios como Passat, Corcel e Opala; veículos que não tinham equipamentos nenhum. Dessa forma um popular Ok nao era muito diferente destes. Agora 30 anos depois, ninguém vai querer andar em carro pelado, PIS já acostumou com os itens de conforto e segurança. Vai continuar a venda de seminovos.
O governo renuncia imposto, o cliente renuncia a itens no carro mas o mais importante não foi dito: a indústria renunciar a aumentos constantes e a margem de lucro alta. Sem isso, os carros rapidamente voltarão ao patamar mais alto de preços mesmo sendo modelos pesados.
Não seria não tiro no pé, não. Varias pessoas se interessaria pelos modelos apresentados. Quem podesse comprar um veículo cheio de itens caro. Popular deveria existir sim. O Governo Federal deveria insentivar e alavacar as vendas. Hoje só a classe média alta consegue ter um veículo, veículos hoje não é mais item de luxo e sim meio de vida, para trabalhar é exigido hj nem que seja um moto.
Acho que isso séria um tiro no pé dos fabricantes hoje em dia quem vai querer um carro básico dos básicos acho que deveria abaixar o preço abusivo de juros , fora o imposto que um abisudo.
Etios… “Se tiver preço, o consumidor não irá ligar se ele é feio.”… Então como o consumidor tem baixa renda ele tem que aceitar carro feio? O Sr. compraria um carro assim? Um Kwid que é feio, parece que pegaram vários “restos” de outros modelos e o “criaram”… Tem muito plástico por quase R$ 70.000!!!
Mesmo somando-se os altos tributos e o custo-Brasil, ainda não se explica matematicamente os preços praticados no Brasil – sabidamente os mais caros do planeta, muito acima da média mundial.
As montadoras querem sim retomar as vendas, mas mantendo a margem estratosferiica de lucro que só faturam aqui no Brasil. Então o governo teria que renunciar impostos, os carros teriam que vir pelados e espartanos, mas os lucros…têm que continuar o$ me$mo$, ou não tem conversa…Moleza, né???