O “som” mais perigoso do trânsito

O barulho das motos de entrega se tornou símbolo de desrespeito às regras de trânsito nas grandes cidades brasileiras

CORREDOR MOTOCICLISTAS ENTRE CARROS TANIA REGO ABR
Relação entre motoristas e motociclistas esta cada vez tensa nas grandes metrópoles brasileiras (Foto: Tânia Rêgo | Agência Brasil)
Por Chico Lelis
Publicado em 14/09/2025 às 17h00

Muitos ainda devem se lembrar daqueles desenhos animados (hoje chamados de animação), em que o Coiote era humilhado pelo Papa-Léguas (Road Runner) na série Looney Tunes, da Warner Bros., lá pelos anos 60 ou 70. O pobre Coiote — que, na vida real, é mais rápido que o pássaro — passava maus momentos na inversão de velocidades criada na série.

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A marca registrada do Papa-Léguas era o seu “bip bip”, hoje revivido, de forma simplificada, pelos motoqueiros de entrega (conhecidos como motoboys) nas cidades brasileiras, transformado em “bibibi”! Mas carrega a mesma carga de ousadia e desrespeito em relação ao bom e correto modo de trafegar pelas ruas e avenidas.

Como se fossem milhares de Papa-Léguas, grande parte desses entregadores não respeita as regras mais simples de trânsito. Trafegam na contramão, sobre calçadas, e para eles o sinal está sempre verde, não importando a via que estão cruzando — seja uma avenida movimentada, seja uma rua de bairro. Ligam o “bip bip” e fazem dos motoristas verdadeiros “Coiotes”.

E, se o pedestre não olhar para os dois lados, pode ser surpreendido pelo “Papa-Léguas”, que ainda o xinga, mesmo quando a rua tem sentido único para a direita e o motoqueiro insiste em ir para a esquerda. Isso quando não sobem na calçada para fugir do trânsito parado à frente, já que o “corredor” (espaço entre os carros) está estreito demais para que consigam passar.

“Por aqui é igual”

Conversando com amigos que moram fora de São Paulo, onde o problema se agravou seriamente sem que as autoridades ponham fim aos abusos, ouvi de todos: “Aqui é igual. A diferença para São Paulo é que a cidade é menor, com menos habitantes e, consequentemente, menos motoqueiros. Mas eles também andam na contramão, pelas calçadas, furam sinais vermelhos e não param com o seu ‘bibibibi’, atormentando nossas vidas no trânsito. Igualzinho aí em São Paulo”.

São moradores de Curitiba, Goiânia, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte e Belém, onde a “doideira” é geral. Lá eles andam “lapado” (gíria paraense que significa em alta velocidade), causando muitos acidentes fatais. No Rio de Janeiro, segundo o depoimento de um carioca que anda de moto para ganhar tempo, mas não comete irregularidades, há quem trafegue até sobre passarelas.

“Fique longe deles”

Jornalista e ex-instrutor de motociclistas, Gabriel Marazzi recomenda que o motorista fique o mais longe possível de um motoqueiro de entrega, pois eles são imprevisíveis. Seu pai, também jornalista, Expedito Marazzi (já falecido), tinha um alerta para motociclistas: “Você, na moto, é invisível. Por isso, fuja dos problemas. Afaste-se dos carros”. Hoje, provavelmente, ele direcionaria essa frase aos motoristas.

Facilitar? Por quê?

Em São Paulo, que já oferece mais de 250 quilômetros de faixa azul exclusiva para motociclistas, existem placas com os dizeres: “MOTO, FACILITE MUDANÇA DE FAIXA DOS VEÍCULOS”. Mas nunca tive essa facilitação, e não conheço ninguém que a tenha. Ao contrário: o “Papa-Léguas” dispara o seu “bibibibi” e acelera (ou “torce o cabo”, como se diz em Belo Horizonte) para evitar que o motorista mude de faixa.

Morador em Boynton Beach, uma pequena cidade na Flórida, contou que por lá as entregas são feitas por pessoas dirigindo carros e que poucas motos circulam. Já em Washington, DC, segundo outro relato, há muitos entregadores — especialmente de pizzas e comida — que usam motos, devido à dificuldade de estacionar. Mas não existe nenhum “Papa-Léguas” com seu irritante “bip bip” ou “bibibi”.

Ia me esquecendo

Não é só andar na contramão, furar sinal vermelho, circular pela calçada ou xingar o motorista que não abre o “corredor” para a moto passar. Eles também abusam do escapamento aberto. Muitos, ao substituir o equipamento original desgastado, optam por modelos sem abafador de ruído. Aí, haja ouvidos para suportar o som do escapamento aliado ao “bibibibi” constante.

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