Othon BH: antes do incêndio, o ‘fogo’ que me pegou

A cachaça mineira 'nocauteou' o jornalistas que nem se lembrava como tinha ido parar em seu quarto em hotel de luxo de Belo Horizonte

othon palace hotel belo horizonte foto luis war shutterstock
Othon Palace Hotel está fechado desde 2018 (Foto: Luis War | Shutterstock)
Por Chico Lelis
Publicado em 03/03/2024 às 15h03

Ao acordar, o relógio marcava 19 horas. Mas, olhando pela janela do Othon Palace Hotel, em Belo Horizonte, como estava escuro, pensei tratar-se ainda da madrugada. Mas ao olhar com mais atenção para o relógio, vi que já eram sete da noite. Me olhei no espelho e vi que, fora estar descalço, estava com a mesma roupa que usara na noite anterior. Intrigado, tomei um banho e desci.

Saindo do elevador, uma recepção de alegria por parte do pessoal do hotel. Mais intrigado ainda, cumprimentei o pessoal e perguntei o que acontecera na noite anterior.

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Constrangido, o gerente respondeu: bem, o senhor chegou aqui em um táxi e entrou no hotel sem qualquer problema. Nem percebemos que estava como estava. O senhor nos cumprimentou com gentileza e pediu a chave do seu apartamento.

– Não lembro o número do quarto, foi a sua resposta.

Então, segundo ele, fui perguntado sobre qual era o meu nome.

– E o senhor simplesmente tirou o seu RG do bolso e o apresentou. Foi aí que percebemos que o senhor estava com algum problema.

O gerente seguiu o seu relato, me contando o que eu não lembrava, que encarregou um funcionário a me acompanhar até o meu apartamento. Segundo ele, não houve nenhuma necessidade de apoio físico. Eu não demonstrava estar de meio “esquecido”. No apartamento, eu (segue o relato) me deitei e o funcionário apenas me tirou os sapatos e se retirou. Antes dele sair, eu já dormia.

Preocupados com meu estado, lá pelas nove da manhã, chamaram um médico que me examinou (não lembro disso também) que deu seu parecer: ele está bem, deixem que ele durma. Quando acordar estará resolvido. E nos reencontramos no Clube do Chopp, para as “saideiras”.

Uma semana antes

Lindolfo Paoliello, então diretor de Comunicação da Fiat Automóveis (lembram desse tempo, em que a empresa ainda não tinha irmãs no Brasil, com o sobrenome Stellantis?) convidou a mim, que era repórter da área em O Globo (Sucursal de SP) e o Nereu Leme, da Folha de São Paulo para uma visita à fábrica, em Betim, em uma sexta-feira.

E lá fomos nós dois. Visitamos a fábrica e fomos convidados a ficar para o fim de semana. Aceitamos. No sábado, fomos fazer uma visita a histórica Ouro Preto (100 km distante da Capital mineira). A visita começou por uma entrada em um bar antigo, muito antigo, em Ouro Preto.

E, mesmo não sendo um grande apreciador de cachaça (sou cervejeiro), como meus amigos Joel Leite e Koichiro Matsuo e outros, integrantes do grupo Provadores de Cachaça, ao avistar uma garrafa do produto escrito: fabricada em Ponte Nova, lembrei do meu irmão, Luiz Antônio (que lá nasceu, mas não está mais por aqui) e da minha infância.

– Puxa – aleguei eu – jamais tomei cachaça de Ponte Nova (distante cerca de 180 km de BH). E tomamos um primeiro gole, ainda antes do almoço. Um golinho só, que desceu suavemente, goela abaixo.

Preciso esclarecer aqui que  viajamos a Ouro Preto em um belo Alfa Romeo 2.300 (fabricado aqui entre 1974 – primeiro pela FNM em 1986 – depois pela Fiat – conduzido por um motorista. Ainda bem, porque nenhum de nós teria condições de enfrentar a descida da serra, dirigindo naquela neblina.

alfa romeo 2300 azul imagem lateral esquerda autowp

Fomos deixados no Hotel Othon (rua Bahia x avenida Afonso Pena) e convidados a conhecer o Clube do Chopp e a Doce D’ocê. O bar, do Levindo Coelho Martins a e a doceira de Tereza Coelho, sua esposa, em prédios contíguos. O clube, frequentado por elegantes notivagos de BH e a doceira por quem queria comer doces deliciosos. Apenas a Doce D’ocê segue em atividade, reaberta após um período fora dos negócios.

Foi lá pela tantas da madrugada que, claro não lembro a hora, resolvi tomar e um táxi e rumar para o Othon onde a história da minha falta de memória começou. Isso aconteceu em 1981 ou 1982, mas nem Lindolfo, nem Nereu têm certeza da data, muito menos eu. Lindolfo lembra que o presidente da Fiat e um dos fundadores das Usiminas, era Amaro Lanari.

E dos dois “fogos” do Othon?

Bem, acontece que o Hotel Othon, o mais luxuoso na época, além de abrigar o meu lapso de memória, causado por amnésia alcoólica, um verdadeiro “fogo” no sentido etílico, foi fechado em 2018 e teve parte destruída em 2023… porque pegou fogo.

Nota: não sou e nunca foi alcoólico/alcoólatra. Anônimo ou não! E nunca mais o episódio se repetiu, mesmo tendo voltado a BH algumas vezes.

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1 Comentário
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Rubinho 4 de março de 2024

Grande Chico. Amigo querido. Tem horas que é melhor a gente nem perguntar o que aconteceu kkk. Um abração pra você e para o Bóris.

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