Por que os carros estão cada vez mais iguais (e isso ainda vai piorar)?

Mitigação de riscos, leis da física e modas globais estão tornando cada vez menos compensatório para as marcas que tentam lançar veículos diferentes

Carros estão cada vez mais iguais e há diferentes motivos para isso Arte AUTOPAPO 1
Não é falta de criatividade dos designers, mas um zelo excessivo de errar e amargar prejuízos (Fotomontagem: Eduardo Passos | AutoPapo)
Por Eduardo Passos
Publicado em 14/08/2025 às 15h00

Desenvolver um carro é algo que especialistas comparam a solucionar uma equação complexa. A marca escolhe o estilo que pretende vender e, em um processo interligado, designers e engenheiros discutem a viabilidade disso.

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O processo que dá origem ao automóvel tem que ser o mais barato possível e, mesmo assim, custa bilhões. Uma consequência disso, apontam estudiosos, é que os carros estão ficando cada vez mais parecidos.

A proliferação de SUVs nas ruas é exemplo disso, e a semelhança entre eles só aumenta com as modas da vez: lanternas horizontais, DRLs estreitas, faróis bipartidos etc.

Culpa da globalização

Ainda que o movimento racional esteja crescendo, a paixão ainda importa muito para quem compra um carro. No caso de montadoras com estilo consagrado, como a Audi, mais de 60% das compras podem ter tais aspectos como fator decisivo do negócio.

Audi A5 na estrada
Identidade tem peso na decisão de vendas da Audi (Foto: Audi | Divulgação)

O assunto é tão complexo que há até diferentes correntes acadêmicas que interpretam a mente do comprador. Uma delas é a teoria primitivo-geracional: ela defende que a beleza e o estilo de um carro são definidos tanto por questões culturais quanto pela análise do cérebro.

Isso significa que, analisando centenas de detalhes em centenas de modelos, dá para encontrar padrões que, de fato, vendem mais. Ao mesmo tempo, é preciso um “molho”: algo que conecte o veículo à identidade do comprador — um processo que envolve publicidade, evocação do passado e outros fatores sociais.

O próprio estudo, entretanto, destaca a globalização como um fator que pode tornar tudo mais igual. Um exemplo que os cientistas destacam é a produção do Citroën C3 nacional: segundo apurou AutoPapo, o desenvolvimento do modelo incluiu brasileiros, indianos, argentinos, franceses, italianos e norte-americanos.

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Citroën C3 foi desenhado por múltiplas mãos envolvendo brasileiros, indianos, italianos, franceses e norte-americanos (Foto: Citroën | Divulgação)

Nessa torre de Babel, sobra pouco espaço para identidades específicas. Como a maioria dos produtos também tem foco global — o mesmo C3 é vendido na Índia, por exemplo —, o design consensual se torna muito menos arriscado.

Redução de maquinário deixaram os carros iguais

Em um contexto em que a China obriga todas as marcas a melhorarem brutalmente a eficiência, é preciso economizar onde dá. Sabendo que 80% das máquinas de uma fábrica precisam servir para diferentes modelos, formas muito ousadas de carroceria já morrem aí.

Agora, com as plataformas modulares cada vez mais utilizadas, a margem estética fica ainda mais restrita a para-choques e grade frontal, principalmente. Isso ficou claro no dilema do Fiat Fastback, que surgiu como um conceito em 2019. Na época, a marca já identificava, com razão, que os SUVs cupê bombariam.

Fiat Pulse e Fastback só começam a se diferenciar do meio para trás
Fastback e Pulse compartilham quase tudo em nome da redução de custos (Fotomontagem: Eduardo Passo | AutoPapo)

Na hora de produzir o carro, entretanto, os engenheiros precisaram se adequar à realidade. Entre as demandas, ele deveria ser praticamente igual ao Pulse da coluna central adiante. Além disso, o entre-eixos não mudaria.

O desenho precisou ser retocado, em um dilema que gerou porta-malas de excelentes 516 litros, mas espaço na segunda fila menor do que poderia ter sido. Já detalhes do projeto original, como maçanetas embutidas na porta, saíram por conta do trabalho e maquinário extras que demandariam.

Leis da física

O exemplo é só mais um do que é regra na indústria automotiva hoje em dia. Uma vez que o design é crucial, mas o custo de errar na ousadia pode ser catastrófico, quanto mais certeza melhor.

Dessa forma, dizem pesquisadores da Universidade canadense de Windsor, o computador está ganhando a guerra. Um dos principais exemplos é o dos softwares que modelam a carroceria para fins aerodinâmicos; espécies de túneis de vento virtuais.

Como a física é universal, todas as montadoras chegarão aos mesmos resultados. Consequentemente, modelos que prezam pela aerodinâmica para economizar energia tendem a ser parecidos.

Isso significa que os carros ficarão ainda mais iguais? Para pesquisadores da Universidade Têxtil de Wuhan, na China, sim.

Em um estudo ainda em fase de revisão, os cientistas sugeriram que o risco da mudança está tão alto que, mesmo nos elementos subjetivos, poucos querem inventar moda. Logo, se lanternas horizontais se saem bem na avaliação de mercado, a tendência é que elas sejam adotadas mais e mais. Quando alguém quebrar, com sucesso de vendas, esse ciclo, inicia-se outro, replicando a nova solução por aí.

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