Porsche 911 GT3: a 240 km/h, com um elefante sentado na traseira
"Passei o último fim de semana com um Porsche, o novo 911 GT3, e foi bom dirigir um dinossauro a gasolina da velha escola."
"Passei o último fim de semana com um Porsche, o novo 911 GT3, e foi bom dirigir um dinossauro a gasolina da velha escola."
O estacionamento do bar que frequento estava sempre lotado de Range Rovers cinzas toda sexta-feira à noite. Mas nos últimos meses notei que o elétrico Porsche Taycan está começando a marcar maior presença.
E é fácil, ao saborear rins de cordeiro cozidos em molho apimentado, ver quem os está dirigindo, porque eles chegam e me contam.
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Tento ser gentil e parecer interessado à medida que falam como o carro é rápido e quanto será mais confiável que o Range Rover que venderam para comprá-lo. E geralmente termino a conversa convidando-os para um dos meus dias de tiro neste outono. O que deveria encerrar o papo, igual a quando atolarem e esgotarem toda a bateria tentando se desembaraçar da situação, estiver chovendo e escurecendo e estiverem sem almoço.
Passei o último fim de semana com um Porsche, o novo 911 GT3, e foi bom dirigir um dinossauro a gasolina da velha escola. Foi como, imagino, aquele garoto se sentiu de pé na frente de um tanque na Praça da Paz Celestial.
Sem sentido e fútil, mas me deu muita satisfação. Foi como se enfiasse uma chave de boca nas engrenagens de uma turbina eólica. Isto dito, eu nem sabia que era o novo GT3. Parecia que só na véspera o mais novo havia surgido e só tínhamos o GT3 RS e o GT2 RS. E na minha, sua e cabeça de todo mundo que tinha mais o que pensar, são todos a mesma coisa.
Só que era o novo GT3, que achei pouco empolgante. Cheguei a pôr na cabeça que a Porsche redirecionou todo o seu departamento de engenharia para a atividade de produzir carros elétricos para as pessoas com segundas casas em Cotswolds e os revoltados contra tudo em Los Angeles. E que o 911 deveria ir perdendo viço e morrer.
Diante disso, eles não fizeram força para manter as coisas evoluindo. Veja-se o motor. Eles não poderiam adotar um turbocompressor, pois aí ele seria um Porsche turbo, e isso para quem tem mais adenoides do que amigos, é algo bem diferente. Assim, ainda se trata de um boxer de seis cilindros, 4 litros e aspiração natural que entrega apenas 10 cv mais do que o do antigo GT3. E só 7 kgfm de torque adicionais.
Mas eles se viram forçados pela Greta Thunberg a colocar todo tipo de parafernália ecológica, ganhando algum peso, mas tiraram-no aqui e acolá das chapas de carroceria, do interior e das janelas, de modo que, ao todo, o carro pesa só 5 kg mais que o antigo. Ou seja, em termos de velocidade na reta, o carro novo não é mais rápido no 0 a 100 e atinge os mesmos 318 km/h.
Aí é que está. A Porsche tem estado tão ocupada em superar a Tesla que a aura de desempenho cada vez maior que os fãs da Porsche admiraram durante anos, desta vez não aconteceu.
Ah-ra! Aconteceu sim. Porque a Porsche diz que o novo carro é mais rápido em Nürburgring do que o antecessor devido à aerodinâmica extensamente aprimorada. Por exemplo, dizem que, a 200 km/h, a assustadora e complicada asa traseira “pescoço de cisne”, que pode ser ajustada manualmente por proprietários que realmente não têm amigos, gera força descendente 50% maior que no carro anterior.
Hummm, não gosto de força descendente. Quando entro numa curva gosto de sentir que tem alguma coisa mecânica trabalhando. Saber que posso fazer uma curva a 240 km/h porque há um elefante sentado na traseira do carro sempre faz as sobrancelhas e o pé direito levantarem um pouco. Sei da Fórmula Um que as asas traseiras funcionam pois já vi o que acontece quando se soltam. Mas, para mim, confiar nelas é como confiar em Deus.
Felizmente há também mudanças significativas sob o carro, porque na frente a suspensão agora é por triângulos superpostos, como a dos Porsches de corrida, em vez da McPherson. Imagino que para tradicionalistas de Dog and Dullard isso tenha causado muita indignação. Mas não senti realmente muita diferença. A direção sempre foi muito, muito boa no GT3. E ainda é.
Outra alteração é a adoção de sistema de escapamento de aço inoxidável e no começo pensei que isso me deixaria louco porque ele dá uma espécie de som altamente incômodo e gutural que sobe e desce ao menor movimento do pé direito. Estranhamente, porém, fui gostando cada vez mais dele, e não só porque ele era um constante lembrete de que este Porsche tem um motor. Não alguma coisa vinda da parte de trás de um refrigerador.
Adorei o interior também. Meu carro tinha o câmbio opcional PDK de duas embreagens, mas a alavanca parecia-se com o que se tem num manual. E foi a mesma história com o botão de partida, tinha o formato e o toque como se fosse uma chave.
Aplausos também para a navegação por satélite e a central de infotenimento, que continua uma das mais simples de se usar do mercado.
Contudo, é um pouco estranho a tela e ar-condicionado do século 21 e tudo mais à sua frente, ao mesmo tempo em que justamente sobre o seu ombro esquerdo uma espécie de andaime (N.R.: “santo antônio”). Já ouviu falar em carro de corrida de luxo?
Mas não é um carro de corrida. Não é mesmo. Ele pode conter tecnologia originada nas pistas, mas ainda tem todo o jeito de carro esporte. Ele certamente não pretende ser maior, mas a despeito do tamanho, dirige-se por aí num alegre abandono. É um carro feliz. Um carro que faz sorrir enquanto se anda. Quero dizer com isso que ele está mais para Mazda MX-5 do que para Ferrari.
Mas há um problema. O bom no velho GT3, que eu gostava e admirava igualmente, era a maneira como ele deixava transparecer ser um carro esporte, mas quando você não estava a fim, ele se acomodava e se comportava por si mesmo. Rodava lindamente, te protegendo da negligência dos trabalhadores de reparo de rodovias da Inglaterra.
Este agora não. É irrequieto e agitado o tempo todo, como se dizia de uma criança mal-comportada. Claro, na minha idade eu não poderia conviver com um no dia a dia, e apavora-me imaginar como será a aspereza da versão RS que está a caminho.
Isso quer dizer que o GT3 é um carro de fim de semana, que você só vai usar quando o sol estiver brilhando e quando você estiver a fim. Você pode achar loucura gastar 128.000 libras — e bem mais se você quiser rodas ou banco ou qualquer outro item da lista de opcionais — num carro que usará apenas ocasionalmente, mas na verdade pode ser pior.
Um dos sujeitos que vieram até mim para falar de seu novo Taycan na outra sexta-feira explicou que só o utiliza nos fins de semana, quando está “no campo”. Isso quer dizer que ele comprou um carro ecológico elétrico como segundo veículo. Acho que essa é a melhor definição de insanidade.
Nota do Jeremy |
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4 ★★★★☆ |
Ficha técnica | Porsche 911 GT3 992 |
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Motor | 3.996 cm³, 6 cilindros, gasolina |
Potência | 510 cv a 8.400 rpm |
Torque | 48 kgfm a 6.100 rpm |
Aceleração 0-100 km/h | 3,4 s |
Velocidade máxima | 318 km/h |
Consumo | 7,7 km/l |
Peso | 1.435 kg |
Preço no Reino Unido | 127.820 libras |
Também testamos um “esportivo raiz”, o Mustang Mach 1. Confira o vídeo:
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510 cavalos em um motor de 4 litros? Temo que não dá pra ir mais longe do que isso; principalmente considerando as regras de emissões. Se quiser mais potência, vai ter que aceitar um motor elétrico no eixo dianteiro…
Amo Porsche por isso