Quanto custa fabricar um carro no Brasil? A gente responde!
Custo de produção de um carro tem variações de acordo com volume e componentes instalados, mas é um pequeno percentual do preço final
Custo de produção de um carro tem variações de acordo com volume e componentes instalados, mas é um pequeno percentual do preço final
O preço do carro novo está nas alturas. E todo mundo se pergunta a razão de o mercado praticar valores tão elevados, em um país que a esmagadora maioria da população é incapaz de pagar por eles? E diante disso, outro questionamento emerge: quanto custa fabricar um carro?
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Trata-se de uma pergunta que nenhum fabricante não responde. E quando questionamos executivos, analistas e até economistas, todo mundo tende a tirar o corpo fora.
A razão é simples, o custo de fabricação de um automóvel é uma informação sigilosa. Pois quando esse tipo de dado vem à tona, os concorrentes conseguem mensurar quanto seu rival gasta ou fatura. E assim, ajustar suas estratégias de marketing e produção para obter melhores resultados.
E diante de tamanha importância, há cláusulas draconianas que não permitem que funcionários saiam por aí falando pelos cotovelos. Mas conseguimos descobrir quanto custa para fabricar um carro.
Há anos levamos a ingrata pergunta aos executivos das montadoras. Todos sempre desconversam e utilizam a pesada carga tributária para “enfumaçar” a resposta.
Mas uma fonte, com quase duas décadas de indústria, abriu o verbo. Primeiramente ele fez questão de ressaltar que a carga tributária corresponde a quase 50% do valor cobrado por um carro novo. Dependendo da aplicação e alíquota de motorização, os impostos consomem de 30% a 48,6% do preço do carro.
Para facilitar a matemática, se o carro novo custa R$ 100 mil, R$ 48,6 mil serão diluídos em impostos como IPI, ICMS, PIS, Cofins, IOF e por aí vai. Mas vale lembrar que modelos 1.0 recolhem menos IPI (7%) que modelos com motores até 2.0 (13%) e superiores a 2.0 (18% a 25%). Além disso, as picapes, por serem categorizadas como comerciais leves, também pagam menos impostos. Mas quanto custa fabricar o carro?
Nossa fonte afirma que o custo de produção, envolvendo todo o processo de montagem, compra de componentes de fornecedores, logística e os gastos de funcionamento da fábrica, como despesas com pessoal, energia e equipamentos, corresponde de 30% a 38% do preço do carro. E olha que por aqui é comum estados e municípios concederem isenções fiscais e outros benefícios para atrair a instalação de fábricas em suas regiões.
Ou seja, o mesmo carro de R$ 100 mil custa entre R$ 30 mil e R$ 38 mil para ser produzido. Essa diferença de 8% está atrelada a fatores como volume de produção e conteúdos embarcados.
Dessa forma, quanto maior for o volume de produção, mais barato será o custo unitário de fabricação, devido a economia de escala. Isso ocorre em função de encomendas maiores de peças de fornecedores, assim como aproveitamento mais eficiente dos recursos fabris.
Equipamentos também afetam o custo de produção. É por isso que alguns itens tidos como opcionais de luxo no passado, como ar-condicionado e direção assistida, se tornaram padrão até mesmo nos modelos de entrada. Ou seja, quanto mais aparelhos de ar-condicionado embarcados, menor é o custo para a fábrica.
A margem de lucro gira em torno de 12% a 20%, segundo nossa fonte. Ou seja, aquele mesmo carro de R$ 100 mil rende para fabricante e concessionária algo entre R$ 12 mil a R$ 20 mil.
À primeira vista, o ganho com cada carro vendido pode parecer até pouco. Mas quando se compara a outros mercados, a margem de lucro no Brasil é generosa.
Segundo boletim da S&P Global Mobility Auto Intelligence a margem de lucro no primeiro semestre de 2024, nos Estados Unidos, variou entre 0,4% a 5,9%, dependendo da marca.
Assim, numa hipótese, que um carro custe o equivalente aos mesmos R$ 100 mil. A marca com pior rentabilidade ganharia R$ 400 por unidade vendida e a fabricante com melhor performance embolsaria no máxima R$ 5,9 mil.
No entanto, vale lembrar que os EUA licenciam por ano mais de 15 milhões de veículos. Por aqui, fechamos 2024 com quase 2,5 milhões de emplacamentos, volume que foi o melhor nos últimos 10 anos. Dessa forma, com o imenso volume produzido por lá, as marcas têm custo de produção bem menor que as marcas instaladas por aqui e podem repassar a economia de escala no preço final e ainda ter lucro.
Já a carga tributária na terra do Tio Sam também é mais branda. Aliás, muito mais suave. Cada estado aplica uma alíquota, que varia de 2% a 8,3% sobre o preço do veículo.
Dito tudo isso, o que podemos comprovar é que vender carro no Brasil é um grande negócio. Mas bom mesmo é para quem arrecada os tributos.
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É uma boa margem de lucro, dentro do esperado para uma indústria do porte das montadoras. Se pegar um exemplo bem simplório, abrir um pequeno empreendimento como um comércio ou até uma pequena fábrica, o ideal é que o dono tenha uma margem de 10% sobre cada venda.
Perdoe mas nenhuma empresa, seja um boteco ou uma montadora automotiva se mantém com 10%.
Risco trabalhista (uma mentira do seu empregado vale mais que mil provas ao contrário), insegura jurídica, (o que pode hoje amanhã virá crime ou proibido e viresse) instabilidade ecomico-tributaria (você nunca sabe quanto vai pagar de imposto ou pela matéria prima no mês seguinte)
Um pipoqueiro sabe disso e põe tudo isso no preço.
Depende muito, Antonio. Se for produto com grande volume de vendas, a margem de lucro de quem vende é menor. Obviamente se vc quiser vender um produto diferenciado, a margem é muito mais alta. E os 10% de lucro que eu digo é dinheiro totalmente limpo, depois de abatidos todos os custos, inclusive a mão de obra (salário) do pipoqueiro que vc citou, ou seja, após pagar o milho, o custo de ir no mercado, o gás, o óleo, o gasto para se deslocar, o salário básico que ele precisa tirar, depois de calcular tudo isso, o que passar é o lucro.
Se o ex-funcionário abrir processo sem fundamento e perder a ação, corre o risco de arcar com as custas do processo.
O problema é que as filiais brasileiras retrocederam no tempo e foram abandonando o conceito de produção em larga escala, optando por inflar o lucro por unidade.
Essa virada-de-chave começou em 2020 sob argumentos relacionados à pandemia, porém continua assim até hoje. Sendo a “moda SUV” o carro-chefe e a mina-de-ouro das montadoras, que descobriram uma faixa abonada de brasileiros dispostos a pagar valores exorbitantes por hatches e crossovers com “pinta” de SUV. O mercado inflacionou contaminando até os semi-novos e usados, e hoje estamos distantes de conseguir estimar preços idôneos para os nossos veículos.