Tecnologia que já é realidade ainda precisa de avanços não só técnico-científicos, mas legislativos e rodoviários
Os carros autônomos são um desejo dos cidadãos desde a própria invenção do automóvel. Desenhos animados como os Jetsons, dos anos 1960, já retratavam esse desejo de tecnologia e facilidade na hora de conduzir. Hoje já conseguimos ver alguns modelos circulando sozinho e servindo de táxi em algumas cidades do mundo, mas será que isso se tornará comum principalmente quando se fala de Brasil?
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Antes de tudo, é importante explicar a tecnologia. Os carros autônomos são aqueles automóveis com tecnologias capazes de assistir o motorista com alguma ação que substitui a dele. Ou seja, são veículos capazes de se auto dirigirem, mesmo que parcialmente.
Atualmente, modelos mais simples, com pequenas automações, já são capazes de frear sozinhos, permanecer na faixa sem a interferência do piloto, e podem ser encontrados com certa facilidade no mercado de carros. Em contrapartida, os carros autônomos mais tecnológicos seguem em constante desenvolvimento e hoje já existem até modelos, como os Tesla Model X e o Waymo One, que circulam sozinhos, sem condutor, dependendo da estrada e país.
Para qualificar os modelos, a SAE International é a organização responsável. É ela quem estabelece os parâmetros para decidir o nível de cada carro autônomo.
Nível 0 – Sem autonomia
O automóvel não é autônomo e exige total controle do motorista. Em poucos modelos desse nível, podem existir alguns sinalizadores que emitem avisos e podem intervir de forma momentânea.
Nível 1 – Assistência à direção
O veículo possui algumas tecnologias de automação, como os freios automáticos, controle de velocidade e aceleração e o controle da potência do motor. No entanto, o condutor ainda precisa estar atento o tempo todo, com as mãos no volante, e pronto para retomar a direção completa a qualquer momento.
Nível 2 – Automação parcial
O sistema dos veículos do nível 2 de automação possibilita o controle do motor e do volante. O motorista, inclusive, pode ficar até sem intervir na direção por alguns segundos em vias bem demarcadas, mas sempre supervisionando o automóvel.
Nível 3 – Semi Autônomos
Nesses modelos, o motorista pode desviar sua atenção para outras tarefas enquanto o veículo está em movimento de uma maneira mais segura. Os carros autônomos nível 3 conseguem identificar e reagir às situações mais imediatas. Entretanto, ainda é necessária uma atenção do condutor para assumir o controle.
Nível 4 – Alto nível de automação
Carros neste nível são capazes de dirigir por rotas completas sem interferência frequente dos motoristas. O condutor pode, inclusive, dormir ou focar em atividades mais longas, como ver um filme, por exemplo. Porém, eles funcionam com segurança em trajetos e vias limitadas e com tráfego controlado.
Nível 5 – Autonomia completa
Aqui, o volante torna-se opcional e não é necessária uma intervenção humana durante a condução do carro, e em qualquer ambiente. Os comandos podem, inclusive, ser transmitidos por sinais ou comandos de voz.
Como dito, um grande exemplo de carro autônomo em circulação é o Waymo One. Este carro que circula pela Google em Los Angeles, nos Estados Unidos, trabalha como táxi. Um cidadão que esteja na cidade pode pedir o modelo para uma viagem, que o automóvel chegará e levará o passageiro sem nenhum motorista.

Para entender melhor o cenário dos carros autônomos no Brasil e no mundo, questionamos a Leapmotor, fabricante chinesa que acaba de integrar o Grupo Stellantis e já comercializa por aqui.
Fundada em 2015, a montadora, assim como muitas de suas conterrâneas, foca em eletrificação e tecnologia. Aqui no Brasil ela é uma das marcas que conta com sistemas de condução semi autônomos em seus modelos, os Leapmotor C10 e B10.
Buscamos entender a que pé a tecnologia de automação veicular está atualmente, até onde ela pode chegar e os maiores empecilhos para que os carros de fato possam rodar 100% sozinhos.




– Os carros estão cada vez mais tecnológicos e hoje já existem modelos que dirigem literalmente sozinhos. Em um futuro próximo, será que o cidadão comum poderá ter um carro que dirige sozinho? Como isso será possível?
A tecnologia nesse sentido sem dúvida avança muito rápido, como já vemos com os assistentes de condução semiautônoma presentes nos Leapmotor C10 e B10 (Leap Pilot). Para que o carro 100% autônomo se torne viável, porém, é necessário avançar em diferentes aspectos, incluindo legislação, amadurecimento da tecnologia e viabilidade prática das tecnologias futuras. A Leapmotor acompanha com entusiasmo e estimula essa evolução, por meio de seus centros de pesquisa e desenvolvimento, para oferecer a seus clientes as melhores tecnologias.
A marca afirma que a tecnologia vêm sendo incentivada inclusive por outras fabricantes, o que é óbvio para quem minimamente acompanha o universo dos carros. Porém a legislação ainda peca.
Diferente em cada lugar do mundo, aqui no Brasil o Código de Trânsito Brasiliro, por exemplo, é o primeiro a impedir os carros 100% autônomos.
Segundo o artigo 28 da Lei de 1997, “o condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito”.
O simples fato da existência dessa regra impossibilita que um carro 100% autônomo circule. Mesmo que o veículo esteja com o motorista, este não poderia utilizar totalmente das vantagens, uma vez que deve ficar atento o tempo todo e com as mão e pés próximos aos comandos.
Os artigos 162 e 252 também conflitam com os carros 100% autônomos no Brasil. O primeiro afirma que dirigir o veículo “sem possuir Carteira Nacional de Habilitação, Permissão para Dirigir ou Autorização para Conduzir Ciclomotor” é infração gravíssima com medida administrativa de retenção do veículo. E o segundo estabelece que conduzir “com apenas uma das mãos, exceto quando deva fazer sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo, ou acionar equipamentos e acessórios do veículo” é uma multa média.
– Quais são hoje os maiores desafios para que a autonomia plena se torne realidade no mercado mundial e/ou brasileiro (tecnologia, legislação, custo ou infraestrutura)?
Ainda há muitas barreiras no momento. Além da viabilidade financeira de aplicação da tecnologia, é necessário que a legislação dos países preveja a condução autônoma em diferentes cenários, possibilitando um ambiente seguro para a aplicação dessa tecnologia. Este é um desafio que deve ser superado com um trabalho em conjunto entre a sociedade, governo e empresas, levando em conta as peculiaridades presentes em diversos países.
Ter um ambiente seguro é outro fator fundamental para a viabilidade de carros autônomos. Sem colocar em questão violência e crimes, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), na Pesquisa CNT de Rodovias 2024, cerca de 62% da malha rodoviária do Brasil apresenta condições regulares, ruins ou péssimas.
Um carro autônomo necessita de estradas padronizadas e bem demarcadas para que suas câmeras e sensores consigam trabalhar com precisão. Vielas e regiões fora do mapa pioram ainda mais a situação.
– A Leapmotor tem planos de desenvolver veículos do tipo e trazê-los para o Brasil?
A Leapmotor já investe em diferentes aplicações com foco no futuro da condução autônoma, incluindo o uso de tecnologias como LiDAR e VLA, além de beneficiar-se de todo o conhecimento e estrutura da Stellantis no desenvolvimento de veículos. No entanto, não podemos comentar sobre nossa estratégia, seja para o Brasil ou qualquer outro mercado onde a Leapmotor atua.
Por enquanto, sabemos que o desenvolvimento do carro autônomo avança, porém em segredos industriais, já é claro que nenhum fabricante quer que sua tecnologia seja vazada antes da hora de revelar o produto final.
Por enquanto o que resta, principalmente para o brasileiro é esperar os ajustes necessários no país, ou seguir até outro Estado, como os Estados Unidos, para andar em um carro sem motorista.
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