Teto solar e panorâmico são inseguros? Episódio em BH é um alerta

Tijolo com concreto foi arremessado do alto da entrada de um túnel e atingiu um SUV; fabricante de tetos solares fala sobre a resistência do material

Qual a segurança do teto solar BYD Song têm proteção rompida por tijolo e passageira fica gravemente ferida
O objeto foi arremessado de cima do viaduto em direção a via (Foto: Internet | Reprodução)
Por Lucas Silvério
Publicado em 21/10/2025 às 19h00

Um carro familiar foi atingido por um tijolo preenchido por concreto enquanto trafegava pelo Complexo da Lagoinha, na capital mineira Belo Horizonte, no último domingo (19). O objeto arremessado por um homem de 30 anos (detido pela Polícia Militar) rompeu o vidro do teto panorâmico do BYD Song Plus e atingiu o rosto da passageira, de 39 anos, que está internada em estado grave.

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O acontecimento acende alerta para questionamento sobre a segurança dos veículos com esse tipo de equipamento geralmente comercializado como item de sofisticação. Afinal, o carro com teto solar é seguro como um automóvel com teto totalmente metálico?

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BYD Song Plus
O teto do BYD Song Plus tem o teto do tipo panorâmico (Foto: BYD | Divulgação)

O teto de caráter solar ou panorâmico é naturalmente comercializado nas versões mais completas dos automóveis, sendo um item de luxo. Hoje, boa parte dos SUVs compactos, assim como médios oferecem o teto solar em suas opções mais sofisticadas, justamente pelo refinamento que o item adiciona. Mas é seguro ou não é?

Como é o teto solar do automóvel

Todo carro com teto solar, recebe reforço estrutural para garantir a mesma rigidez torcional que o um automóvel com teto totalmente em aço. Afinal, é feito um buraco no teto e é preciso ser preenchido com longarinas que não deixem que a carroceria se deforme. De acordo com normas internacionais, o o teto solar o panorâmico deve ser capaz de suportar o peso do veículo em caso de capotamento.  Os vidros também são projetados para suportar impactos, mas não têm vantagem da flexibilidade do metal, que tem capacidade de deformação que absorve a energia do impacto.

No trágico episódio em Belo Horizonte, o automóvel em questão era um BYD Song Plus. A versão mais sofisticada do SUV vem com teto panorâmico, que é  fornecido pela  também chinesa Fuyao Glass. Tentamos contato para esclarecimentos de dúvidas, mas sem sucesso, uma vez que a empresa não representante no Brasil.

A empresa tem reputação no mercado e fornece peças em vidro para diversos fabricantes ao redor do mundo, tendo seus produtos em modelos de marcas como BWM e Mini. Já a BYD, que acabou de inaugurar fábrica por aqui, não respondeu aos nossos questionamentos técnicos, sobre resistência a impactos do teto panorâmico.

Questionada, uma concorrente de renome mundial da Fuyao, esclareceu ao AutoPapo as condições de um teto feito de vidro. A fabricante afirmou que veículos com tetos de vidro são projetados estruturalmente para essa configuração.

Para compensar a abertura no teto, a carroceria recebe reforços adicionais nas colunas A, B e C, além das laterais, garantindo assim a rigidez estrutural igual ou maior do que a exigida pelos padrões internacionais de segurança.”

Ou seja, em sua totalidade, a peça de vidro tem muita resistência para suportar torções e impactos em toda a área. No entanto, quando o choque ocorre em um ponto da peça a fragilidade aumenta.

Em ensaios de flexão, o vidro temperado pode suportar cargas de até 170 kg sem apresentar ruptura ou deformação permanente. No entanto, em cenários reais de impacto – onde variáveis como altura, massa do objeto e aceleração gravitacional atuam conjuntamente – o limite de resistência mecânica pode ser atingido dependendo da combinação desses fatores.”

Teto solar é ou não é mais frágil?

Tetos solares são feitos de vidros temperados, os mesmos que vão nas portas, e tetos panorâmicos são de vidro laminado, assim como o para-brisas. Por mais que o teto de vidro do BYD Song Plus seja panorâmico e não solar, o nível de resistência também é garantido pela fabricante de referência. No entanto, quando atingido precisamente em um ponto e não em toda sua superfície, o vidro é mais vulnerável.

É o que explica o professor de engenharia do Instituto Federal de Minas Gerais, Bruno Baptista. “A principal diferença entre o teto de chapa de aço e o solar, ou panorâmico, é que a chapa de aço aceita uma deformação. Por exemplo, um pequeno impacto que você tem do veículo na porta, no para-lama, ele amassa, mas ele não estilhaça, ele dobra. Já o vidro é um material do tipo cerâmico, se você der uma pancada nele, ele vai trincar e a chance dele estilhaçar é grande. Por isso que o para-brisa do automóvel é de vidro laminado. O que é isso? São duas camadas de vidro com a camada de um filme plástico entre elas, para evitar que seja estilhaçado”, explica.

Sobre o incidente em Belo Horizonte, dificilmente um teto de vidro suportaria o impacto de tamanha massa deslocando de uma altura extensa que eleva a aceleração e acarreta em uma força muito alta de impacto. No entanto, se fosse apenas aço, o dano seria severo, uma vez que o episódio foi de muita força sobre uma área pequena.

Agora, nesse caso em que caiu o tijolo em cima do carro, você tem dois fatores: o primeiro é que realmente o vidro não aguentaria aquele impacto, ele não suportaria o peso daquele bloco em movimento, porque caiu de uma altura específica, não é um metro ou dois, foi bem mais alto. Então realmente não iria aguentar mesmo que fosse um teto de metal. Ele ira amassar, mas não estilhaçaria igual o vidro. Mas ele desceria e machucaria o ocupante também. O dano seria menor? A condição da pessoa seria ser um pouco melhor naquele caso, mas o teto amassaria também. Então o vidro tem essa característica: o vidro ele trinca e estoura, o metal não, o metal consegue deformar”, compara Baptista.

Ou seja, quanto menor for a área de impacto, maior será a pressão sobre ela. Baptista dá como exemplo a cama de pregos que o sujeito deita sobre ela e não se machuca, pois a força, que é a massa multiplicada pela aceleração será distribuída sobre toda a área. No entanto, se o mesmo pisar sobre um prego no chão, irá se machucar, pois a força foi toda aplicada em um ponto menor.

Assim, podemos supor que se um objeto maior, mas com a mesma massa do tijolo caísse sobre uma área maior do teto panorâmico, as chances dele quebrar e invadir a cabine poderiam ser menores, uma vez que a força seria absorvida por uma área maior. Dessa forma, independente da chapa de aço ou vidro, um episódio como o ocorrido causaria danos graves, como o que atingiu a vítima deste caso absurdo em BH.

Desdobramento do caso

De acordo com a PM, a vítima estava no banco do passageiro ao lado do marido de 42 anos, que estava ao volante. A mulher foi socorrida em estado grave e levada para o Hospital João XXIII, onde deu entrada diretamente no bloco cirúrgico para uma operação de reconstrução facial. Ela permanece internada, sem previsão de alta.

Inicialmente, a polícia não sabia se o concreto havia se desprendido da estrutura do viaduto ou se tinha sido arremessado por alguém. Testemunhas relataram que, em ocasiões anteriores, pessoas em situação de rua já haviam sido vistas jogando pedras do mesmo local, tentando atingir veículos e ônibus.

Câmeras de segurança registraram o suspeito caminhando em direção à parte superior do túnel pouco antes do ocorrido. Ele, que vive em situação de rua e possui mais de 30 passagens pela polícia — a maioria por dano e furto —, foi localizado e detido na segunda-feira em uma casa de recuperação de dependentes químicos em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte.

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1 Comentário
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Rodrigo 22 de outubro de 2025

Infelizmente o baixo preço desses carros mostram suas fraquezas. Antes de comprar um peugeot com teto panorâmico eu pesquisei muito sobre, pois era a minha dúvida. Encontrei muitas fotos de peugeots batidos / capotados e sempre com o teto intacto.

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