Top Gear: como game de Super NES se tornou um fenômeno no Brasil
Quais os motivos que levaram apenas brasileiros a idolatrarem game de corridas, publicado em 1992, que foi relegado no resto do mundo?
Quais os motivos que levaram apenas brasileiros a idolatrarem game de corridas, publicado em 1992, que foi relegado no resto do mundo?
Antes de mais nada, sou louco por “Top Gear”. Pra mim, um dos melhores jogos de corridas da geração 16 Bits. Só perde para “Super Mario Kart”. Mas é infinitamente superior a todos os demais.
Pode parecer exagerado, mas “TG” trouxe elementos que faziam dele um game fantástico. Acredito que boa parte dos brasileiros que jogaram videogame de 1992 em diante também compartilhem comigo essa memória afetiva.
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Por outro lado, fora dos quase 17 mil km de fronteira brasileira, “Top Gear” não é tão aclamado assim. Há muitos fatores que incidiram sobre nossa surpresa e o desdém dos gringos.
Isso porque “Top Gear” é quase um carbono de “Lotus Challenge”, franquia de games para computadores publicada entre 1990 e 1992. A produtora Gremlin Graphics basicamente substituiu os carros licenciados da Lotus por modelos genéricos.
Inclusive, até hoje, muita gente discute sobre quais são os verdadeiros inspiradores dos quatro carros de “Top Gear”. Mas ninguém tem dúvidas de que o cinza é o mais equilibrado. A regra sempre foi: jogue com o cinza, esqueça os demais!
Mas voltando ao jogo, a distorção entre a recepção brasileira e no resto do mundo se deve a vários fatores. Lá fora, muitos gamers jogaram “Lotus” em seus computadores Amiga, Commodore 64, Amstrad CPC e até mesmo no MS-DOS dos computadores de arquitetura x86 (o bom e velho PC).
Logo, para aquela galera, “Top Gear” era um clone. Além disso, o game chegou numa época que pipocaram jogos de corridas. Foram muitos, e “Mario Kart” foi uma espécie de eclipse total, junto com “Super Monaco 2” (no Mega Drive). Os gringos não viram razão em comprar um clone no lugar de um game estrelado por Mario e outro por Senna.
Mas a aprovação mediana lá fora não desanimou os produtores, que lançaram mais dois episódios da série. Eles só não esperavam (ou já esperavam) que seriam processados pela BBC pelo uso do nome “Top Gear”, que é uma marca registrada da emissora desde 1977.
Aqui no Brasil, por sua vez pouca gente tinha um Super Nintendo em 1992 e muito menos um computador. Assim, o game era uma novidade reluzente que bombava nas locadoras (que alugavam videogames por hora).
Lembro com muita clareza do dia que vi “Top Gear” na locadora do bairro. Tinha fila para jogar o game. Só não era mais popular que “Street Fighter II”, que tinha lista de espera de mais de uma semana. Era o SUS do Blanka.
Mas “TG” era um sucesso, o dono da locadora, só liberava o game para locação no final do sábado, mas com o compromisso de entrega na primeira hora da manhã de segunda. O cliente deveria chegar antes das 9h, ou pagaria uma diária extra. Era as regras de “Top Gear”.
Mas o que fazia “Top Gear” tão apaixonante? A música. No momento em que se liga o SNES, ela já começa a tocar. A trilha composta pelo britânico de Barry Leitch, foi uma adaptação do que o músico tinha utilizado em “Lotus Challenge”.
E como ninguém conhecia do game dos esportivos britânicos, e os poucos que jogaram no PC não ouviram nada. Isso porque, naquela época, raras eram as máquinas com placa de som.
Então, a trilha de “TG” foi para a molecada brasileira uma espécie de “Nevermind” sendo tocado pela primeira vez. Até hoje as notas são percebidas a distância quando a musiquinha toca.
Outro fator que faz “Top Gear” bombar no Brasil era o fato do game ser rápido e poder ser jogado por dois jogadores com tela dividida. “Mario Kart” também fazia isso, mas “TG” era mais rápido. Era perfeito para aqueles duelos (quem perde libera o joystick).
Conta-se que um dos produtores do jogo, reconhece que o game sobreviveu graças ao público brasileiro. Barry Leitch também já reconheceu em entrevistas a importância do público brasileiro.
Ele inclusive compôs a trilha sonora de “Horizon Chase”, game do estúdio gaúcho Aquiris Games. Quando entrevistei o diretor do estúdio, Sandro Manfredini, ele contou que ideia era resgatar a essência de “Top Gear” e que a participação de Leitch era fundamental. Definitivamente, a trilha de “Top Gear” foi o que fisgou todo mundo.
Pobres gringos, não conhecem coxinha e catupiry, brigadeiro, pão de queijo, Cartola e também não sacam nada de videogame. Eu preservo meu cartucho até hoje, assim como sexta-feira é dia feijoada. E vida que segue!
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