Tragédia rodoviária: cai um Boeing no Brasil cada dois dias!
Tudo joga contra: estradas pavorosas, má formação do condutor, falta da inspeção veicular e de seriedade nos “crash-tests”
Tudo joga contra: estradas pavorosas, má formação do condutor, falta da inspeção veicular e de seriedade nos “crash-tests”
Acidente aéreo em qualquer lugar do mundo é motivo de manchetes na imprensa. Mas, no Brasil, nem causa espanto a trágica rotina de 140 mortos diariamente em acidentes de trânsito. Como se fosse um Boeing caindo cada dois dias. Aliás, o numero é ainda maior, pois nossas estatísticas só consideram os falecidos no local do acidente, e não contabilizam as dezenas de socorridos que falecem depois, nos hospitais.
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A triste verdade é que estamos entre os países que lideram o ranking mundial de vítimas do trânsito. E sem perspectivas concretas de redução deste morticínio rodoviário, a começar pelas próprias estradas, uma calamidade pública por falta de verbas e atenção da autoridades (ir)responsáveis. Mas as explicações não param por aí.
Em primeiro lugar, a falha humana. O motorista é o grande responsável pela maior parte dos acidentes. Por irresponsabilidade, não observância da legislação e má formação como condutor. Não existe simulador na autoescola para treinamento na rodovia. O recém-habilitado passa por um período de observação, mas tem o direito de assumir o volante de uma poderosa Ferrari em seu primeiro dia ao volante.
O governo também joga contra: em 2018, dobrou o número de pontos (de 20 para 40) para se cassar a habilitação (CNH) do motorista. E a deputada federal Carla Zambelli ainda apresenta um projeto de lei para novamente dobrar o número de pontos (80 pt) para se aplicar a punição. Na contramão das medidas de segurança. O culto da impunidade.
Em segundo, as condições mecânicas dos automóveis. O código de trânsito estabeleceu a inspeção veicular para tirar de circulação os veículos sem condições mínimas de segurança, excesso de ruído e emissão de gases. Mas nenhum governo teve coragem de implantar este controle por ser medida impopular. E vão se avolumando nas ruas os carros caindo aos pedaços, colocando em risco a integridade dos outros veículos, seus ocupantes e prejudicando o fluxo nas vias públicas. A única iniciativa do gênero foi da Prefeitura de São Paulo que estabeleceu a ITV (inspeção Técnica Veicular) durante alguns anos (a empresa era a Controlar) mas foi cancelada em 2014. Houve outra tentativa, também fracassada, no Rio de Janeiro.
Outro problema é da segurança veicular. A gravidade das lesões provocadas nos ocupantes de um veículo acidentado pode ser atenuada caso ele tenha sido projetado para protegê-los contra impactos. Até os planos de incentivo do governo para as fábricas de automóveis focam – entre outros – no estímulo ao desenvolvimento dos dispositivos de segurança ativos e passivos para essa proteção. Entretanto, não existem entidades independentes no Brasil para avaliar esta segurança nos modelos aqui comercializados. E nem uma legislação objetiva do Contran para regulamentar estes testes, chamados de “crash-tests”.
Pior ainda é que uma entidade uruguaia (LatinNCAP), apesar de não reconhecida no Brasil e aplicando critérios mais que duvidosos, se arvorou no direito de executar estas avaliações nos modelos comercializados no nosso mercado. E divulgam resultados sem questionamento e que nem sempre refletem o nível real de proteção do automóvel. E que – muitas vezes – mais confundem do que orientam o consumidor brasileiro.
Em vários países do Primeiro Mundo estes problemas foram bem resolvidos: maior rigidez ao conceder a habilitação, na inspeção veicular e a confiabilidade das entidades encarregadas de avaliar a proteção aos ocupantes por meio de “crash-tests”.
No Brasil, não faltam programas governamentais, de ONG’s e outras entidades na tentativa de por um fim – ou pelo menos reduzir – esta carnificina rodoviária. Mas nenhum deles alcança seus objetivos. Davi Duarte, presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, diz que “Não sai do papel o Programa Nacional de Redução de Mortes no Trânsito”. E que “…estamos perdendo o jogo na questão do trânsito”.
O Dr. Alysson Coimbra, médico especialista em tráfego, afirma que o Poder Legislativo também joga contra e que a maioria da população, a que não possui a CNH, deveria “se levantar contra ações de cunho político que ignoram os riscos e consequências para a coletividade”. Mas, as vozes que poderiam defender os cidadãos são os parlamentares. Muito mais preocupados em conquistar votos e cargos do que com a segurança veicular.
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Os caminhoneiros, jovens, irresponsáveis, mal treinados e mal remunerados, cientes da impunidade, matam dezenas de inocentes, todos os dias, no Brasil.
Uma dramática questão em aberto são aquelas infames brechas nas nossas Leis, que os nossos parlamentares lá em Brasilia “nunca tiveram tempo” pra corrigi-las.
Basta pesquisarmos as estatísticas policiais, e veremos que a esmagadora maioria dos crimes e tragédias no trânsito são causados por individuos embiagados, e/ou com a habilitação vencida/suspensa; e/ou com veiculo em situação irregular, e/ou disputando rachas. E porquê? Porque as nossas Leis ainda sofrem com varias desatualizacoes e interpretacoes dúbias, que garantem a impunidade a estes criminiosos (ou seriam apenas “infratores”?). As autoridades fiscalizam o que podem e conseguem, a policia prende quando deve prender, o juiz trata de condenar quando as evidências permitem. Porém basta que o réu tenha um advogado minimanente astuto, que saiba explorar as brechas na Lei, e todo o trabalho das autoridades vai por água abaixo.
Ate quando continuaremos enxugando gelo???
Feldman, sempre um comentário que vale a pena ser lido. No Brasil há que pedagiar todas as estradas com exigência de qualidade padrão A europeu (Tarcísio chegou a trazer essa ideia mas não foi em frente). Carros seguros e vistoriados. Mas o mais importante são multas com valores proporcionais a renda porque aí até os ricos serão atingidos de fato.