A famosa “Fábrica de Vidro” inaugurada em 2002 tornou-se um elefante branco e virou Centro de Tecnologia e Pesquisas
No Brasil, diz-se que lugar azarado em que nada dá certo é porque tem caveira de burro plantada. Na Alemanha, que o local não está sob boas estrelas (steht unter keinem guten Stern)
A planta da VW em Dresden, na Alemanha, foi inaugurada em 2002 com toda a pompa e circunstância. Era um novíssimo projeto e chamada Gläserne Werk – Fábrica de vidro, em alemão ou Fábrica Transparente.
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O primeiro modelo produzido era um projeto igualmente arrojado: o Phaeton, um carro grande, luxuoso, com motores V6, V8 e W12, sobre a plataforma do Bentley e com tecnologia avançada (tinha até suspensão pneumática) para concorrer par e passo com os top of the line da Mercedes, BMW e até mesmo com o A8 da Audi, do grupo VW.
Mas o que os “mercadólogos” da VW não perceberam era que o mercado não aceitaria pagar por um carro com o logo da VW na grade o mesmo que por um Mercedes. O Phaeton não vendeu nem a metade das 20 mil unidades anuais previstas e foi descontinuado em 2016, com produção anual de apenas 6.000 carros.
Neste meio tempo, a fábrica azarada ainda sofreu as consequências de uma enchente do Rio Elba que afetou vários de seus fornecedores na região

Passado o primeiro fracasso de Dresden, a empresa decidiu produzir lá outra novidade, o e-Golf. Que deveria ser a entrada triunfal da marca no mercado dos elétricos. Foi o primeiro produzido em série pela marca, lançado em 2014 e fabricado em Wolfsburg até 2017, quando passou para a linha de montagem de Dresden, mas descontinuado três anos depois, em 2020, com mais de 50 mil unidades produzidas. A empresa percebeu que o Golf elétrico não tinha condições de competir com os novos entrantes à bateria em todos os mercados do mundo.
A engenharia da Volkswagen deu tratos à bola e projetou uma nova plataforma para seus elétricos, chamada MEB. Em alemão: Modularer E-Antriebs Baukasten, ou plataforma modular para elétricos. Ela poderia receber diversos tipos de carroceria (compacto, sedã, SUV) de vários tamanhos. A “fábrica transparente” foi então adaptada para produzir os ID.3 e ID.4, ID Buzz (Kombi) e outros.

Mas o projeto da MEB também não deu certo, pois onerava custos de produção e seus carros eram incapazes de concorrer com novos modelos da Tesla e chineses, mais tecnológicos e baratos. A Volkswagen perdia faturamento com as quedas de vendas de seus elétricos na China, Europa e nos EUA com o “tarifão” decretado por Trump. A fábrica de Dresden chegou a ter sua produção interrompida algumas vezes, pois seus pátios estavam lotados de elétricos rejeitados pelo mercado.
Como desgraça pouca é bobagem, os planos da marca para seus automóveis à bateria tiveram de ser revisados, pois as principais marcas do mundo passaram a reconsiderar o prazo final para os motores a combustão. Na Europa, por exemplo, a proibição da venda destes modelos a partir de 2035 caiu por terra e ainda não foi sequer determinada nova data para o fim dos carros a combustão (ICE – Internal Combustion Engine).
Foi o tiro de misericórdia para a “Fábrica de Vidro” que tornou-se um elefante branco e a Volkswagen, pela primeira vez em seus 88 anos de existência, decidiu fechar definitivamente uma planta, dentro de um rigoroso plano de redução de custos. A solução foi transformá-la num centro de tecnologia em parceria com a Universidade de Dresden, dedicando-se à pesquisa em IA, robotização e componentes eletrônicos. Vai manter parte do prédio como ponto de entrega de carros zero km, museu de tecnologia e evolução industrial.
Final infeliz após 23 anos e apenas 200 mil unidades produzidas. Já dizia a cantiga “Ciranda Cirandinha”: “era vidro e se quebrou…”
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