Sem pretensão de vencer, mas vender, Volvo levou sua perua para o campeonato britânico de turismo e fez dela uma lenda
Muita gente nunca sequer ouviu falar do Volvo 850 Estate Super Touring Car, a perua que desafiou a BMW, Peugeot, Alfa Romeo e muitas outras marcas no Campeonato Britânico de Turismo (BTCC). Era uma ideia maluca, mas que se tornou um case de marketing.
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No início dos anos 1990, a marca queria ser reconhecida além da segurança exemplar de seus carros. A Volvo acreditava que mostrar ao público que seus carros também tinham apelo esportivo seria positivo para os negócios. O problema era convencer qualquer que seus sedãs e peruas quadradões tivessem o mesmo sex appeal de um BMW M3. Mas ela estava decidida e voltaria para as pistas.

Afinal, a máxima: “vença no domingo e venda na segunda” é uma das razões do esporte a motor existir. O fabricante não entrega um carro de corridas, mas vende a marca que simboliza a vitória. E a Volvo sabia disso, mesmo sem saber com o que vencer para poder fechar negócio no dia seguinte.
Com seus pesados sedãs e peruas, a Volvo analisou qual competição poderia ser uma vitrine, que se resumia basicamente às competições de turismo e rali. O segundo caso estava totalmente fora de cogitação, afinal seus carros não tinham tração e muito menos porte para deslizar num atoleiro. Tinha que ser no turismo.
No início dos anos 1990, o campeonato alemão de turismo (DTM) era a joia da coroa das corridas de turismo europeias, mas seria impossível colocar seus carros, com tração dianteira, para desbancar Audi, BMW e Mercedes em casa.
E para piorar ainda tinha o diabólico Alfa Romeo 155 V6 TI que varreu a temporada de 1993. Foi então que a Volvo olhou para o Reino Unido. Lá era disputado o BTCC, com carros de rua com motores até 2.0 litros. Um ambiente mais amigável para que seus pacatos modelos pudessem se exibir.
Apesar dos vários requisitos para manter o equilíbrio entre os carros, o regulamento não definia o tipo de carroceria. O sedã era carro utilizado por todos os fabricantes, mas a Volvo pensou que poderia tirar proveito do longo teto do 850 Estate para melhorar o comportamento aerodinâmico.
Mas o que a Volvo entendia de segurança, não fazia a menor ideia de competições, já que estava fora das pistas há quase uma década. Para a empreitada, ela recorreu a Tom Walkinshaw Racing (TWR) para transformar a pacata perua num corredor infernal.

A 850 Estate original era equipada com vários motores, inclusive uma unidade 2.0 de cinco cilindros de cerca de 143 cv. A TWR fez severas modificações para elevar a potência para números entre 290 e 325 cv. Muito do ganho de potência se deu pelo uso de sistema de escapamento de competição, assim como coletores especiais.
Todo peso do carro foi aliviado para que ficasse na margem de 975 kg mínimos exigidos pelo regulamento. A suspensão também foi retrabalhada, com kit homologado para competição. Completava o “pacote”, os novos para-lamas (alargados) para comportar os pneus de corrida, bem mais largos, montados em rodas BBS de 19 polegadas.
Para conduzir a “vovozona”, a equipe escalou o piloto de Fórmula 3, Rickard Rydell, e o vencedor das 24 Horas de Le Mans, Jan Lammers. Apesar da experiência dos pilotos, a empreitada seria difícil, uma vez que a Ford tinha quatro carros no Grid, BMW, Toyota e Nissan inscreveram outros três carros, cada. Isso sem falar da Renault, Peugeot, Alfa Romeo, Mazda e Vauxhall, cada um com dois sedãs.

O desempenho da equipe foi bem mediano. Eles só conseguiram os primeiros pontos na sétima etapa, com o quinto lugar, na etapa de Oulton Park. Inclusive foi a melhor posição de Rydell na temporada. Lammers também teve seu melhor desempenho na segunda prova de Brands Hatch, também com a quinta posição.
No final da temporada, Rydell terminou em décimo quarto lugar, com 27 pontos, e Lammers em décimo quinto, com 18 pontos. Para um grid com 33 carros, foi mais que satisfatório.
Mas a trajetória da 850 Estate Super Touring Car teve vida curta. Em 1995, o carro não poderia mais correr já que sua carroceria não atendia mais ao regulamento. No lugar da perua, a marca preparou o sedã 850 20v, novamente com Rickard Rydell e Tim Harvey, no lugar de Lammers.

A troca de carro deu certo, e a Volvo fechou a temporada com Rydell terminando na terceira colocação, com direito a três vitórias. Realmente os suecos tinham se esquecido de como eram as corridas de carro.
No entanto, a entrada da perua no BTCC foi uma excelente tacada de marketing da Volvo. Inclusive estimulou o lançamento das versões T-5R e a poderosa 850 R com motor 2.3 cinco cilindros turbo de 240 cv e 34 kgfm de torque, que foi uma das peruas mais iradas dos anos 1990, ao lado do Audi RS2. Depois disso, ninguém mais olhou para um Volvo como se fosse o carro do vovó.
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