Pinóquio de Ouro 2016: preço da gasolina é a mentira do ano!

Boris Feldman elegeu o Sindicom como o mentiroso do ano, por manipular os preços da gasolina a ponto de fazer aumentar o que a Petrobras baixou

pinoquio
Por Boris Feldman
Publicado em 18/12/2016 às 13h37
Atualizado em 23/12/2019 às 19h01

Os prêmios que as revistas, jornais, sites e associações dedicam aos carros do ano e empresas sempre bajulam e afagam o ego. Aqui no AutoPapo é diferente. O Boris concede há anos um troféu ao avesso, chamado de Pinóquio de Ouro. Leva aquele que mais atrapalhou a vida do consumidor. O laureado do Pinóquio de Ouro 2016 é:

Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom). Boris Feldman explica o motivo:

Boris Feldman de ao Sindicom o Pinóquio de Ouro 2016, por manipular os preços da gasolina a ponto de fazer aumentar o que a Petrobras baixou.

A grande mentira de 2016 foi o preço da gasolina: a Petrobras o reduz na refinaria, as distribuidoras o aumentam no posto

A Petrobras anunciou, há dois meses, que o preço da gasolina iria variar de acordo com a cotação internacional do petróleo e a variação cambial. Dito e feito, abaixou o preço de venda na refinaria para as distribuidoras.

E aí veio a grande mentira do ano: dito e não feito, nos dias seguintes o motorista encontrou a gasolina mais cara nos postos. A imprensa questionou e vieram as desculpas esfarrapadas: culpa dos usineiros que aumentaram o etanol (misturado em 27% à gasolina), do custo dos transportes, da inflação, do câmbio, do governo Temer…

Quando a Petrobras anunciou pela segunda vez (em novembro) outra redução da gasolina, os motoristas previram o pior, imaginando outro aumento na bomba. E não deu outra no Pinóquio de Ouro 2016.

Enquanto isso, por “coincidência”, o Sindicom inicia uma grande campanha na mídia contra as fraudes nos combustíveis. Alerta o consumidor sobre sua adulteração e a “bomba baixa” (entrega menos do que marca no visor).

O anúncio não explica que uma das responsáveis pelo combustível adulterado é a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que não fiscaliza como deveria os postos. E que tem o próprio motorista como co-adjuvante, pois não faz valer seu direito de exigir testes de volume ou qualidade do combustível no posto.

Esperto este Sindicom: reúne na calada da noite seus associados e combina um aumento dos preços da gasolina apesar da redução na refinaria. Faz crescer de forma imoral sua margem de lucro e, com uma pequena parte do butim armado contra o brasileiro, investe em propaganda (“Combustível Legal”) para se fazer passar por uma santa protetora do motorista. A quem está, de fato, enfiando a mão no bolso sem constrangimento.

Dizia o Sindicom em seus anúncios que “Quem adultera o conteúdo ou a quantidade do combustível lesa o seu bolso e compromete o seu carro”. Pode?

Se havia alguma dúvida sobre o esquema armado pelo Sindicom, ela foi desfeita na edição de 11 de dezembro do jornal Estado de São Paulo: “Sem cartel, preço da gasolina no DF despenca”.

A matéria diz que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) investigava os postos do Distrito Federal pois os preços cobrados em todos eles eram praticamente iguais. Foi nomeado então um administrador independente para gerir o grupo Gasol, líder de mercado na cidade. O cartel foi imediatamente desarticulado com uma sensível queda nos preços da gasolina em todos os postos, outro desdobramento do Pinóquio de Ouro 2016.

Eles estavam entre os mais elevados do Brasil no final de 2015 (R$ 3,77 em média, o litro) e caíram para R$ 3,62. Em novembro, a gasolina em Brasília foi a mais barata do país. Além da redução, passou a existir também uma variação entre os preços nos diversos postos, que não ocorria no passado.

Não é de hoje que o Cade investiga a formação de cartéis no mercado de combustíveis: desde 2012 já comprovou a existência de mais de 20 deles e aplicou multas de quase R$ 300 milhões. É o que explica a diferença entre a previsão da Petrobras e a realidade na bomba: ela estimava que a gasolina seria reduzida em cerca de R$ 0,10 por litro para o consumidor depois dos cortes de preços em 14/10 e 8/11.

Mas, na bomba, o litro subiu R$ 0,02 em média. Os postos se defendem e acusam as distribuidoras (Shell, Ipiranga, Ale, BR, Raízen e outras, que formam o Sindicom) de não terem repassado o corte da Petrobras. Curiosamente, até a própria BR, sua distribuidora, aderiu ao esquema.

Preço da gasolina: mentira que rendeu fortunas para as distribuidoras às custas do já combalido bolso do brasileiro, e levou para casa o Pinóquio de Ouro 2016.

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Boris Feldman

Jornalista e engenheiro com 50 anos de rodagem na imprensa automotiva. Comandou equipes de jornais, televisão e apresenta o programa AutoPapo em emissoras de rádio em todo o país.

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