Dakar 2022: conheça as 10 principais motos participantes do ‘laboratório’

O rally mais difícil do mundo, Dakar, também serve de campo de provas para componentes e tecnologias que vão para os novos modelos de rua

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Vencedor da edição deste ano foi Sam Sunderland com uma GasGas (Fotos: Divulgação)
Por Teo Mascarenhas
Publicado em 25/01/2022 às 09h03
  • A 44ª edição do Rally Dakar foi disputada na Arábia Saudita, entre os dias 1 e 14 de janeiro de 2022; foram 8.375 km no total.
  • Instabilidade nos países africanos fez com que o rally passasse a ser disputado na América do Sul a partir de 2010 e na Arábia Saudita desde 2020.
  • Atualmente, 10 marcas de motos competem oficialmente no Dakar; veja abaixo detalhes de cada uma delas.

A ideia do Rally Paris-Dakar nasceu depois de um erro ainda em 1977. O piloto francês Thierry Sabine ficou perdido no deserto da Líbia durante a disputa do Rally Abidjan-Nice, durante três dias, até ser resgatado.

Em vez de abominar o deserto, que quase lhe tirou a vida, abandonou as motos e criou o que se transformaria no maior rally do mundo já no ano seguinte. A largada do primeiro Paris-Dakar, em 26 de dezembro de 1978, em frente à torre Eiffel, na capital da França, reuniu 170 participantes em direção à Dakar, capital do Senegal já no continente africano.

Primeiro vencedor do Paris-Dakar

O primeiro vencedor entre as motos, foi o francês Cyril Neveu, a bordo de uma Yamaha XT 500. A prova, disputada anualmente, ganhou fama atraindo as marcas para demonstrar a robustez e qualidade de seus produtos. Porém, se em 1977, o criador escapou com vida das areias, em 1986 o deserto tirou a vida de Thierry Sabine, depois de um acidente de helicóptero.

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O rally, contudo, seguiu sendo disputado, mas, adotando novas linhas. A organização passa ao grupo francês ASO, Amaury Sport Organisation, que estabelece novos roteiros. Em 2008, por exemplo, a 30ª edição, com a participação de 245 motos, foi cancelada um dia antes do início, em função de problemas políticos na Mauritânia que receberia 8 das 15 etapas da prova.

A instabilidade política de algumas regiões africanas, levaram a organização a transferir a disputa para a América do Sul, conservando o nome Dakar. De 2009 a 2019, o rally foi disputado com roteiro passando em países como Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Perú. incluindo temidos trechos de desertos e dunas como o Atacama um dos mais quentes e secos do mundo. Apesar de vizinho, o Brasil ficou de fora.

Em 2020, a prova foi para a Arábia Saudita, onde permanece, mantendo o nome Dakar, que se transformou em uma marca. A 44ª edição do Rally Dakar foi disputada na Arábia Saudita, entre os dias 1 e 14 de janeiro de 2022; foram 8.375 km no total, com 4.258 km de especiais contra o relógio, divididos em 12 etapas com largada e chegada em Jeddah.

A principal categoria das motos do Dakar 2022, Elite, caracterizada pelo number plate amarelo, foi vencida pelo piloto britânico Sam Sunderland com a motocicleta GasGas 450 Rally Factory.

Mudança no regulamento

A mudança da África para a América do Sul trouxe outros desafios para os fabricantes e pilotos. O regulamento limitou o motor das motos para até 450 cm³, por questões de segurança. A KTM, sem um modelo desenvolvido (sua 690 cm³ ultrapassava os 200 km/h e anteriormente a 990 com dois cilindros, os 250 km/h), protestou mas continuou vencendo, com recorde de 18 vitórias seguidas, entre 2001 e 2019.

A 32ª edição, por exemplo, disputada em 2011 entre Argentina e Chile com 200 motos, foi vencida pelo espanhol Marc Coma, com KTM. A alteração, além do aumento na segurança, permitiu a entrada de novas marcas de motocicletas, deixando a disputa ainda mais interessante.

A Honda decidiu voltar à disputa em 2013, depois de participar oficialmente entre 1981 e 1989, com cinco vitórias. O modelo base escolhido foi exatamente a CRF 450X de série. O desenvolvimento da moto para a competição, com o batismo de CRF 450 Rally, contou com a participação do piloto brasileiro de Minas Gerais, Felipe Zanol, membro da Categoria Elite Mundial e titular do time HRC, Honda Racing Corporation.

A marca só conseguiria vencer em 2020, com o piloto americano Ricky Brabec, repetindo a dose em 2021 com o argentino Kevin Benavides, primeiro sul-americano a vencer o Dakar.

10 marcas

Atualmente cerca de 10 marcas competem oficialmente, além dos pilotos independentes com diversos modelos e marcas, inclusive na categoria Classic, com motos até o ano 2000, e também na categoria “raiz”, em que os próprios pilotos são responsáveis pela manutenção após cada etapa (peças e ferramentas são transportadas diariamente para o acampamento), sem qualquer assistência externa.

O regulamento para as motos, exige que os modelos tenham reservatório para água potável. O de combustível deve ser no máximo 34 litros, normalmente acondicionado em tanques laterais traseiros, central e inferiores. Durante o reabastecimento é proibida qualquer manutenção. Só é permitido utilizar seis pneus traseiros durante todo o Dakar.

A planilha digital (road book) só é liberada 20 minutos antes da largada. Os pilotos contam com um sinalizador eletrônico que indica sua localização em caso de emergência e necessidade de resgate

Os pilotos também são obrigados a reduzir a velocidade em trechos de risco, sujeitos a penalização eletrônica em tempo. Os capacetes devem pesar no mínimo 1,1 kg. Os extremamente leves reduziam a segurança. Os pilotos também são obrigados a utilizar um casaco com sistema de airbag.

GasGas

A marca espanhola da Catalunha nasceu em meados da década de 1980, pelas mãos dos pilotos Narcis Casas e Josep Pibernat, com a crise das também espanholas Bultaco e SWM. Inicialmente com foco em modelos de Trial e logo depois em motos de enduro, produzidas na cidade de Girona.

Curiosamente, o nome GasGas vem da expressão de incentivo espanhola. “Vamos! Gas a fondo… Gas Gaaaas!!!”, simplificada para GasGas, ou para o “endurês” enrola o cabo.

A marca já esteve representada no Brasil, inicialmente com sede em São Paulo e depois em Minas Gerais. No final de 2019 foi incorporada pelo Pierer Mobility Group, que também controla a austríaca KTM e a sueca Husqvarna. O intercâmbio promoveu um grande salto tecnológico, culminando com a vitória no Dakar 2022. A primeira da marca, com enorme colaboração das irmãs KTM e Husqvarna.

O motor de um cilindro, do tipo SOHC (comando simples no cabeçote) com 449 cm³, tem válvulas de admissão em titânio. A potência não é revelada, mas ultrapassa os 60 cv, incluindo controle de tração e escapamento Akrapovic. A refrigeração é líquida, com reforço de radiador de óleo com duas bombas.

O quadro é tubos de aço, alumínio e reforço de fibra de carbono no subquadro em função do maior peso.Também recebe uma proteção de motor (peito de aço) mais envolvente.

A embreagem multidisco com acionamento hidráulico também tem maior capacidade. A suspensão dianteira é WP XACT Pro, com tubos de 48mm de diâmetro e 305 mm de curso. A suspensão traseira é mono WP XACT, com 305 mm. Ambas são totalmente ajustáveis.

Honda

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A marca japonesa venceu as edições de 2020 e 2021. Em 2022, bateu na trave com o piloto chileno Pablo Quintanilha a bordo da CRF 450 Rally. O quadro é em dupla trave de alumínio, com sub-chassi em fibra de carbono, para suportar o peso do tanque de combustível extra. O protetor do cárter (peito de aço) é em fibra de carbono e abriga reservatório de 3 litros de água potável, exigidos pelo regulamento.

Os tanques são de material plástico com reforço de fibra de carbono, mesmo material usado na carenagem. As pedaleiras são mais largas e a torre de navegação tem comandos nos punhos. O peso com 34 litros de combustível, óleo, líquido do radiador e água potável é de 160 kg.

O motor tem um cilindro, 449 cm³, do tipo DOHC (duplo comando no cabeçote). A potência ultrapassa os 62 cv, com embreagem FCC reforçada, câmbio de seis velocidades e o escape Termignoni.

As rodas são DID DirtStar ST-X e os freios Nissin, com disco de 300 na dianteira e 240 mm na traseira. A suspensão dianteira Showa, tem tubos de 51 mm de diâmetro e 310 mm de curso. Na traseira, sistema mono,Showa, com 305 mm de curso.

KTM

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A marca austríaca tirou o argentino vencedor de 2021, Kevin Benavides, do time Honda, para  integrar sua esquadra com o austríaco Matthias Walkener (que ajudou a desenvolver os protótipos do grupo KTM, Husqvarna e GasGas) e o australiano Toby Price.

Porém, a surpresa foi a estreia do piloto italiano Danilo Petrucci, que veio do asfalto da MotoGP para as areias do deserto e até venceu uma especial, com a equipe satélite Tech 3.

A KTM 450 Rally Factory gerou o modelo KTM 450 Rally Replica, com edição de 80 unidades para pilotos privados. A suspensão dianteira, tipo cartucho fechado, WP X-ACT, tem válvulas cônicas, 48 mm de diâmetro e 305 mm de curso.

Na traseira, sistema mono com 300 mm em balança de alumínio fundido. O quadro é em treliça com tubos em aço cromo-molibdênio. A carenagem é fina para melhorar a movimentação e a torre de navegação em fibra de carbono.

O motor de um cilindro, 449,3 cm³, tem comando SOHC, válvulas de admissão em titânio, arrefecimento líquido, escape Akrapovic, filtro TWIN AIR, câmbio de seis marchas e mais de 60 cv de potência.

Hero

A marca indiana Hero, nasceu em Nova Delhi em 1984, com os irmãos Munjal em associação com a Honda. Os scooters e robustas motocicletas de baixa cilindrada, aceleraram a produção, tornando-se líder de mercado e um dos maiores fabricantes mundiais, com mais de 100 milhões de unidades comercializadas.

A marca, até então conhecida como Hero-Honda, amplia sua linha de modelos, expande sua atuação globalmente para cerca de 40 mercados e em 2010, encerra a parceria com a Honda. Em 2022, participou pela sexta vez oficialmente do Rally Dakar, com o modelo Hero 450 Rally e conquistou a primeira vitória de uma motocicleta indiana em etapas especiais da história da competição.

O piloto português Joaquim Rodrigues vencu a terceira especial, chega em terceiro na décima e terminou o Dakar 2022 na 13ª posição geral. O modelo Hero 450 Rally 2022, equipado com motor de um cilindro, arrefecido a líquido, entrega cerca de 60 cv. Porém, seu posicionamento foi revisto, para rebaixar o centro de gravidade e melhorar a ergonomia e a maneabilidade.

O sistema de refrigeração também foi modernizado. O escape é Akarapovic, suspensões de longo curso e freios com maior precisão.

Yamaha

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O fabricante japonês venceu o primeiro Paris-Dakar em 1978 e já acumulou nove vitórias, mas, desde 1998, com a lenda Stephane Peterhansel, permanece em jejum.

Em 2022 esteve com a taça na mão com o piloto francês Adrien Van Beverem, que era líder ao fim do estágio 10 de 12, com mais de cinco minutos de frente. Fechou o Dakar 2022 na quarta posição, com mais de 18 minutos de desvantagem.

O modelo WR (Wide Ratio, algo como biela longa) é derivado da YZ 450F de motocross, com motor do tipo quatro tempos, em que a marca foi pioneira. Porém, adaptada para mais torque nas práticas de rally e enduro.

O modelo WR 450F Rally é uma evolução desta simbiose e serve de base, inclusive para outras marcas.Também proporciona o modelo WR 450F Rally Replica, para pilotos privados.

O motor, com potência superior a 60 cv, tem um cilindro, 449 cm3 equipado com partida elétrica (e pedal), embreagem Rekluse, que permite que o motor continue funcionando em caso de queda,, quadro em alumínio tipo berço semiduplo, suspensão dianteira com 310 mm de curso e traseira mono com 318 mm e escape Akrapovic. Também conta com protetor de motor e torre de navegação, além de iluminação em LED.

Sherco

A história da marca franco-espanhola Sherco é recente. Fundada em 1998 por Marc Teissier, produz motos nos dois países. Apesar da pouca idade, o fabricante especializado em fora de estrada tem como lema qualidade. Característica que atraiu consumidores de todo mundo, inclusive no Brasil com uma linha de motos de enduro.

A marca também foi pioneira em 2004, com motos de enduro de 450 cm³ com motor do tipo quatro tempos  equipadas com injeção eletrônica. A disputa do Rally Dakar foi consequência natural.

O modelo Sherco 450 SEF, foi remodelado em relação à versão anterior. A carenagem em material plástico foi refeita para melhorar a ergonomia de pilotagem. O motor de um cilindro e 449 cm³ (com potência não revelada de cerca de 60 cv), também é novo, assim como quadro em partes de liga leve e partes de aço cromo-molibdênio.

O escapamento é Akrapovic, as suspensões  são trabalhadas pela Bos Mac Racing e as rodas Excel. A bateria é BS (Íon lítio), filtro de ar Funnel Web, banco Selle dalla Valle e kit de transmissão AFAM com câmbio de seis marchas.

Rieju

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O nome Rieju é a junção de Riera e Juanola, dos sócios Luis Riera Carré e Jaime Juanola Farres, que fundaram a marca em 1834 em Figueres, na Espanha. Em 1960, passam a produzir, sob licença, motores da italiana Minarelli.

Em 2020, a marca adquiriu parte da plataforma intelectual e industrial da GasGas Enduro. Outra parte seria adquirida pela KTM. Estas incorporações reforçam a tecnologia da marca, que também entra nas competições. É o mais antigo fabricante espanhol na ativa e exporta cerca de 90% da produção de 17 mil unidades anuais.

A ligação com a Minarelli, controlada pela Yamaha, possibilitou equipar os modelos Rieju 450 Rally com motorização baseada na WR 450 de um cilindro, com suspensões WP, White Power. O piloto espanhol Joan Pedrero (top 20) e o boliviano Daniel Nosiglia (top 17, cujo pai foi terceiro no Dakar de 2015) foram inscritos na categoria Elite. A marca contou com a preparação das motos e apoio da equipe especializada FN Speed Team.

Fantic

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A marca surgiu em 1968 em Brianza, Lombardia, província do norte da Itália, depois que os sócios Mario Agrati e Henry Keppel-Hesselink deixam a Garelli. A marca experimentou expressivo crescimento com modelos de baixa cilindrada e ciclomotores. Em seguida, passou a produzir motos fora de estrada e Trial. Entre os modelos que fizeram fama está a Caballero, a partir de 1969.

A marca também entraou nas competições. Porém, em 1998, fechaou as portas para ressuscitar modernizada em 2003. Inclusive, com o lançamento da Caballero Scrambler 500 comemorativa.

Recentemente, a Fantic e a Yamaha Motor Europe firmaram acordo para que a Minarelli assumisse, mantendo a identidade. O projeto Dakar também está ligado à Yamaha.

O modelo Fantic XEF 450 Rally tem motor baseado na WR 450 cm³  DOHC (duplo comando no cabeçote) de um cilindro. Como característica o único tanque de combustível de 30 litros, foi alojado no centro. Para encaixar, o quadro em alumínio foi especialmente desenhado.

As suspensões são Kayaba, com 310 mm de curso na dianteira e 317 na traseira. O piloto é a lenda Franco Picco. O veterano italiano sexagenário tem longo relacionamento com a Yamaha, vencendo etapas e conquistando pódios para a marca como vice-campeão do Dakar em 1988 e 1989.

Husqvarna

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O modelo Husqvarna FR 450 Rally teve como um dos pilotos o argentino Luciano Benavides, irmão de Kevin Benavides da KTM, vencedor de 2021. As coincidências continuam, já que Husqvarna e KTM, pertencem ao mesmo grupo e contam com praticamente a mesma ficha técnica.

A marca fundada na Suécia em 1689 inicialmente produzindo armas, tem como símbolo, uma mira de mosquete estilizada que permaneceu nas motos que vieram em 1903. Em 1987, a marca é vendida para a italiana Cagiva. Parte do grupo fica na Suécia e lança a Husaberg, também especializada em fora-de-estrada.

Em 2007, a Cagiva vende a Husqvarna para a BMW, que revende a marca em 2013 para Stefan Pierer, então sócio da Husaberg, fechando o ciclo. O grupo Pierer (Pierer Mobility Group) passa a incorporar a KTM, GasGas e a Husqvarna, que assume como marca premium do portfólio.

A FR 450 Rally está equipada com suspensões WP, White Power, motor de um cilindro e 449 cm³ arrefecido a líquido com cerca de 60 cv,embreagem Rekluse, que deixa o motor em funcionamento mesmo depois de uma queda, escape Akrapovic, pneus Michelin, iluminação em LED e carenagens retrabalhadas.

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1 Comentário
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Jo 29 de janeiro de 2022

O Téo é o cara das motos. Manja pra caramba do assunto. Um especialista. Parabéns pelo trabalho.

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