‘Grau de moto’: incentivo pode transformar prática em esporte?

Revogação da Lei 236/2025 marginaliza e culpabiliza cidadãos que retrocedem para ilegalidade do esporte desestruturado pelo estado

Empinando moto - artigo 244 - grau de moto
Lei revogada em BH retrocede esporte local (Foto: Shutterstock )
Por Lucas Silvério
Publicado em 26/10/2025 às 13h00

Em setembro, Belo Horizonte perdeu seu título de Capital Nacional do Grau, criado pelo atual Deputado – na época vereador – Bim da Ambulância (Avante) e o ex-vereador Léo Burguês (União).

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A Lei 11.393/2022 foi revogada após publicação no Diário Oficial do Município. A medida iniciou-se com o Projeto de Lei 236/2025, de autoria do vereador Sargento Jalyson, que justificou a ação pelos riscos à segurança.

Em resposta a revogação, a Associação Mineira de Esporte Stunt e Grau (Astung) manifestou sua indignação e apontou motivação que vai além dos dados justificados no documento, como falta de compromisso do estado e marginalização da população que socioculturalmente aprecia a prática esportiva.

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No documento, Cristiano Junior, presidente da Astung, declarou que a revogação da Lei 11.393/202 é um retrocesso ao grau de moto e a todo o wheeling, além de “uma clara demonstração de elitismo e marginalização dos jovens praticantes do grau”.

Em vez de buscar soluções construtivas, como a criação de áreas específicas para a prática do esporte, a Câmara de Vereadores opta por uma medida que ignora os anseios e necessidades de uma parcela significativa da juventude belo-horizontina e mineira.” afirma o documento.

Grau de moto reconhecido em outras partes do Brasil

Outras regiões do Brasil reconhecem o esporte. No estado do Espírito Santo, a Lei nº 12.373/2025 declara que o Wheeling é um esporte oficial no perímetro.

O autor do projeto, deputado estadual Coronel Weliton (PRD), observou na ocasião que os praticantes buscam justamente o que Junior declara: “Eles não querem estar nas ruas, mas sim em espaços adequados, com estrutura, segurança e reconhecimento”.

Em 2024, a capital mato-grossense, Campo Grande, sancionou a prática de manobras com motocicleta (“grau”, wheeling) como prática esportiva nos locais autorizados.

A lei municipal ainda declarou uma certa sugestão aos praticantes em utilização de equipamentos de proteção e a seguir as normas estabelecidas pela CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo).

Em BH o caminho do grau é inverso

Ponto chave é que Campo Grande permitiu que tanto espaços públicos quanto privados sejam licenciados para a prática esportiva.

Junior afirmou que em Belo Horizonte este era um grande problema. Não que houvesse empecilhos diretos ao esporte (além da revogação da lei), mas nenhum apoio à prática vinha dos organizadores públicos.

Em uma conversa feita já em 2025, o presidente da associação nos contou que a falta de apoio do estado era natural.

Por meio de muita insistência do parlamentar Bim, um espaço no bairro Jaqueline da capital mineira foi cedido para os praticantes da modalidade do grau na mesma época. Nada mais após isso. Eventos para incentivo, conscientização, nada prosseguiu em 2025.

O Wheeling ‘Grau’ não é apenas um esporte; é uma manifestação cultural e social que pode gerar renda, lazer e oportunidades para jovens carentes. É uma forma de expressão, de disciplina e de inclusão social que, com o devido apoio e infraestrutura, pode transformar vidas e afastar muitos jovens de caminhos menos promissores”, completa Junior.

Justificativa amparada pelo aumento nas ocorrências de grau de moto

A indignação pode ser comutada a justificativa do relator do Projeto de Lei que revogou o título de Capital Nacional do Gau a Belo Horizonte. Nela foi declarado que o número de ocorrências diretamente relacionadas ao “rolezinho do grau” aumentou consideravelmente após a aprovação da Lei.

Os fatos se convergem, porém a fala de Cristiano Junior é cirúrgica quando se fala da falta de compromisso social com o esporte.

A revogação da Lei 11.393/2022 significa um  duro golpe contra esses jovens e um atestado da falta de compromisso do poder público com a inclusão e o desenvolvimento social. Não podemos permitir que o preconceito e a incompreensão sobre um esporte tão vibrante e popular prevaleçam sobre o bom senso e a visão de futuro.” disse Junior ainda no documento de repúdia.

No fim, o presidente pede que a Câmara Municipal, ao invés de restringir, trabalhe junto a a Astung e outras entidades para a criação de espaços seguros e adequados para a prática do Grau.

Junior e toda a associação declaram que “somente assim o legislativo municipal   estará   garantindo dignidade, lazer e oportunidades para todos os seus jovens”, além de consequentemente redução da prática em locais proibidos.

Uma vez o representante comparou o grau de moto ao skate, que foi um esporte periférico muito criminalizado. Hoje este é um esporte olímpico. “Quem sabe um dia o grau seja um esporte bem reconhecido e respeitado”, sonha Cristiano Junior.

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